Capítulo 27

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"Do mesmo modo que te abriste à alegria abre-te agora ao sofrimento que é fruto dela e seu avesso ardente. Do mesmo modo que da alegria foste ao fundo e te perdeste nela e te achaste nessa perda deixa que a dor se exerça agora sem mentiras nem desculpas e em tua carne vaporize toda ilusão. Que a vida só consome o que a alimenta." - Ferreira Gullar

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Eu sentia meu mundo desmoronar. Notei ao ver Jonas morto que era exatamente isso que ele queria: ver nosso mundo desabar. Ele não ligava mas se estaria vivo ou morto, se ainda teria seu esquema de tráfico humano, se continuaria tendo rios de dinheiro,  queria apenas ter a oportunidade de nos destruir e ver minha Garota morrer sendo torturada aos poucos. Jonas era um psicopata que nunca deu valor a sua vida. Seu propósito era simplesmente destruir vidas. Eu compreendi isso assim que vi a bala da arma de Rafael atingir sua cabeça e ele ignorou completamente o fato de que eu ia matá-lo. Se tem uma coisa que aquele infeliz fez muito bem, foi nos destruir.

Minha Garota deu tudo de si. Para salvar nós três - eu, Júlia e Gabriel - tentou uma manobra arriscadissíma. Eu me culpava naquele instante pois eu sabia que ela acreditava que eu chegaria a tempo. E eu a decepcionei e se ela está neste estado é porque eu demorei demais para compreende-la.

Parecia um pesadelo tudo aquilo, eu não suportaria perder minha Garota. E vê-la com sua face coberta de sangue, quase irreconhecível salvo aqueles olhos verdes que eu reconheceria em qualquer lugar, me matava por dentro. Porém nesse momento eu não os via. Pois ela estava de olhos fechados, jogada no chão, sem pulso. Vi os médicos correndo em minha direção como em uma câmera lenta, eu chorava tanto que só conseguia ficar estático enquanto a via morta.

- TIREM ELE DAQUI - ouvi um dos médicos gritarem e senti alguém me arrastar para longe dela

- NÃO, POR FAVOR - eu gritava mas não conseguia me mover, portanto eles me arrastaram para longe dela com sucesso

Vi o médico com o desfibrilador nas mãos e me lembrei da mesma cena que ela morreu nos meus braços quando cheguei no hospital, após Jonas ter atentado contra sua vida a primeira vez.

- VAMOS, REAGE - o médico gritava enquanto o peito dela subia com o choque do desfibrilador

Parecia uma cena de terror, eu nem conseguia mais olhar sem sentir uma leve taquicardia. Aquela imagem era demais para mim.

- ELA VOLTOU, ESTÁ COM PULSO - a enfermeira gritou então imediatamente a colocaram na maca e a levaram para a ambulância. Eu corri até ela para entrar também

- MARCOS - ouvi Rafael gritar e me direcionei a ele mesmo sem ter condição alguma de ouvir algo - Juro, pela minha vida que vou salvar sua filha - eu tentei sorrir mas não conseguia e antes que falasse algo as portas da ambulância se fecharam

- O bebê está morrendo - ouvi alguém dizer

Minha cabeça rodava. Eu morreria por dentro se minha Garota morresse e eu também amava demais Gabriel para perdê-lo. Ela confiava, mas naquele momento nem eu mesmo confiava em mim.

- Precisamos cuidar de você. Está muito machucado - a enfermeira veio me ajudar

- FODA-SE - gritei e ela se afastou subitamente. Sem forças, suspirei - Eu te imploro, salve minha mulher e meu filho - voltei a chorar e desisti de tentar controlar minhas lágrimas

- Você precisa se acalmar - a enfermeira disse

- Mas talvez não salvaremos os dois - o médico disse - você vai precisar escolher. Ou ela, ou ele.

- EU NÃO CONSIGO FAZER ISSO - eu gritei - COMO QUEREM QUE EU ESCOLHA ENTRE ELA E MEU FILHO.

- Conversamos melhor sobre isso quando chegarmos lá, por enquanto você vai tentar se acalmar - ele disse enquanto a examinava - maxilar deslocado, múltiplas fraturas na costela, nariz quebrado e lesões na barriga que afetaram o feto - ele dizia para a enfermeira

A Garota Secreta: Medo AbsolutoOnde histórias criam vida. Descubra agora