Capítulo 8

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"Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura." - Guimarães Rosa

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Meus olhos pesavam. Juntei minhas forças para abri-los, estava cansada mas consegui finalmente sentar na cama. Lembrei de ontem, eu perambulando pelas ruas sem destino chorando sem parar e pensando como minha vida era uma merda. Ainda bem que tenho Marcos. Então parei para pensar: Meu Deus, Marcos me beijou ontem. Eu até agora não entendi porque deixei essa loucura acontecer...

- Garota - ele apareceu na porta do quarto com um sorriso no rosto. Me derreti só de vê-lo com aquele cabelo negro, molhado e tradicionalmente penteado para trás. Além disso, ele estava com uma bermuda preta, sem camisa e descalço. Só espero que ele não comente nada sobre ontem - fiz café da manhã para você - ele disse e eu gargalhei - o que foi? - ele entrou no quarto rindo e sentou na cama ao meu lado. Puta que pariu, ele está perto demais.

- Desde quando você sabe cozinhar? Eu que faço tudo em casa - eu ri e ele serrou os olhos falsamente e depois riu

- Tudo bem, você me pegou. Eu comprei aqui perto - nós gargalhamos - mas vem comer, tenho certeza que está melhor do que qualquer coisa que eu fizesse.

- Vamos comer, então - fui até a cozinha e senti o cheiro daqueles folheados de vemos na padaria - o cheiro está maravilhoso - eu sorri e ele sorriu de volta. Não consigo ficar com esse cara por perto - Não faz isso - eu disse e ele riu

- Senta ai, vai - ele disse ainda rindo - vamos passear por aqui para você conhecer a cidade e mais tarde vamos dançar um pouco, vou te levar em um baile de dança de salão.

- E você sabe dançar? - perguntei desconfiada ele riu

- Você vai descobrir mais tarde - eu sorri e ele me avaliou por alguns segundos - está melhor?

- Não quero falar sobre isso ainda - suspirei

- E sobre o que aconteceu depois que você chegou? Você quer falar? - ele arqueou uma das sobrancelhas sorrindo. Merda, ele tocou no assunto. Eu não sabia o que dizer então fiquei em silêncio - você sabe que tem alguma coisa acontecendo entre nós. Nós não somos só amigos.

- Somos sim - eu disse tentando me convencer disso - nós estamos no mesmo barco porque nossos destinos se cruzaram, estamos com as emoções a flor da pele, só isso.

- Não, não é só isso - porque ele ainda está falando nisso? É muito constrangedor - eu sei quando estou interessado em uma pessoa e sei quando uma pessoa está interessada em mim. Você só precisa confiar.

- Já disse que não confio em homens, eu já tive lembranças suficientes para saber que não devo fazer isso - ele suspirou e me olhou nos olhos. Por que ele faz isso? Esses olhos cor de mel me deixam fora do ar.

- "Ó quem me dera beijar-te e beijar-te até morrer" - ele recitou Fernando Pessoa enquanto me olhava. Não posso estar tão perto dele assim, mas ao mesmo tempo quero estar.

- Vamos comer, sair, dançar... - dei uma pausa para dessa vez eu mesma não beijá-lo - e vamos esquecer o que aconteceu ontem.

- Tá - ele pôs as mãos na minha cintura e senti aquele abdômen  trincado nas minhas costas. Fechei os olhos só de sentir, minha cintura pegava fogo com seu toque - vou te levar para conhecer alguns lugares aqui... - ele sussurrava no meu pescoço mas deu uma pausa só por estar perto de mim - você tem um cheiro maravilhoso. Um cheiro só seu - eu nem percebi mas tinha jogado a cabeça para trás - fica comigo Garota, por favor, confie em mim - eu estava fervendo por dentro. Eu queria tanto um beijo dele que parecia que eu ia morrer se não o beijasse naquele momento. Porém é isso que os homens fazem, sabe lá como eu parei nas mãos desse Jonas, pode ter sido assim que ele me levou para a vida desgraçada que estou lembrando. Prefiro ficar sozinha do que parar esfaqueada em um beco de novo.

A Garota Secreta: Medo AbsolutoOnde histórias criam vida. Descubra agora