O outro dia

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Eram cinco da manhã quando acordei. Tinha que fazer o café da minha mãe antes que ela acordasse e surtasse, mas a preguiça falava mais alto, então fiquei deitado por mais um tempinho enquanto observava a Evie dormir. Me impressiono o fato de ela ser tão linda até dormindo! Eu estava feliz dela estar ali, porém, assim que me lembrei como ela chegou, fico preocupado, afinal ela não tinha me dito o motivo.
Dez minutos se passaram e resolvo levantar de uma vez. Lavo o rosto para acordar logo e vou para a cozinha. Pego tudo que precisava e começo a fazer o café e torradas. Deixo algumas para nós (Evie e eu) e coloco o restante para minha mãe. Coloco o café na xícara dela, na bandeja e levo na cama.
- Que horas são? – Minha mãe pergunta quando estava quase saindo do quarto dela.
- Cinco e meia... a senhora tem algum compromisso hoje?
- Claro que sim! Às 8:00h. – Ela fala meio sonolenta.
- Tá... é para eu te acordar depois então?
- Sim. Às 7:00h. E sem atraso, ouviu?
- Sim... – fecho a porta.
Apesar de parecer estranho, eu já havia me acostumado com isso. Tenho que levar o café às 5:30h, porque ela acorda a essa hora com fome, e volta a dormir. Depois, tenho que acordá-la novamente. Parece loucura, mas quem sou eu para questionar.
Volto para a cozinha para arrumar a mesa, quando a Evie aparece.
- Bom dia! – Ela fala ainda com sono.
- Bom! – Sorrio sem mostrar os dentes.
- Você acorda muito cedo... – Ela se senta na cadeira.
- Eu te acordei? Desculpa! É que eu tenho que fazer o café da minha mãe e levar para ela.
- Não precisa se explicar, tá tudo bem! – Ela fala sorrindo.
- É... você quer comer? Quer dizer, se quiser, pode se servir! Não tem muita coisa, mas...
- Carlos! – ela me interrompe – Tá perfeito! – Sorrio e me sento.
- Você quer falar o que aconteceu? – Pego as xícaras que estavam na mesa, coloco café e entrego uma para ela.
- Obrigada! – Ela pega e toma um gole do café – Ah... sobre isso... – Ela pega uma torrada – Ela surtou ontem, e até disse que preferia quando eu não tinha amigos... – Ela abaixa a cabeça e come um pedaço da torrada.
Fico sem reação. Como alguém poderia ser tão cruel com uma garota tão dócil como ela? Digo, ela sofreu muito antes, e a Rainha Má com certeza via isso todos os dias, não é possível!
- Pois é... ela foi cruel... – Ela fala olhando para mim.
- Ev, eu nem sei o que te dizer... como ela pode falar isso?
- Eu não sei... se eu pudesse não voltaria lá por um bom tempo... Mas isso me faria uma pessoa fraca. E não quero isso.
- Entendo. Olha, seja lá o que você resolver, quero que saiba que estarei ao seu lado!
- Obrigada por ser o melhor namorado e a cima de tudo, melhor amigo que eu poderia ter! – Ela fala sorrindo.
Continuamos conversando enquanto tomávamos nosso café. Assim que terminamos, aproveito e já lavo os pratos.
- Onde fica? – Ela pega as xícaras – Quero ajudar com alguma coisa, afinal, se não fosse você, eu nem sei onde eu estaria agora!
- Não se incomoda com isso Ev, e eu j-a-m-a-i-s deixaria você na rua.
- Você é tão fofo! – Ela me dá um selinho – Espero um dia poder retribuir isso, com o mesmo cuidado e carinho que está tendo por mim!
- Tenho certeza que vai ser muito melhor! – Dou um selinho nela e ficamos nos olhando e sorrindo.
- Ai meu Deus!
- Tá tudo bem? – falo preocupado.
- Hum... sim... sim!
- Tem certeza? Você tá vermelha...
- Tenho sim! Eu preciso usar o banheiro, tem algum problema?
- Não, fique à vontade! – Falo sorrindo e ela vai correndo para o banheiro.
Fico sem entender, mas não ligo, ela deveria estar apertada, só isso! Assim que ela sai, alguém começa a bater na porta desesperadamente e vou correndo ver quem é.
- Mal? O que faz aqui a essa hora? – Falo sem entender nada.
- Carlos, você viu a Evie? Eu fui na casa dela, mas a mãe dela disse que não fazia a menor ideia de onde ela estava e...
- Eii calma! – Ela me olha – Ela tá aqui...
- O quê? – Ela fica me olhando – Ai sai da minha frente! Eu preciso falar com ela!
Ela me empurra e entra correndo.
- Pedir para entrar seria legal! – reviro os olhos, fecho a porta e vou me certificar que estava tudo no lugar.
Chegando em meu quarto, a Mal me olha, claramente estressada, e pergunta onde a Evie estava. Falo que estava no banheiro, e ela vai imediatamente para lá.
- Evie!!! Abre a porta!!!
- Mal?? – A Evie fala do outro lado – Um minuto! – ela abre a porta e a Mal abre, e por algum motivo, saiu após alguns segundos.
- Carlos, cadê sua mãe?
- Hum... eu vou precisar falar com ela.
- Não pode ser depois? Ela é meio estressada pela manhã...
- Não. Tem que ser agora!
Ela vai andando até o quarto da minha mãe. Que menina imprevisível! Eu literalmente não estava entendendo nada, mas vou até ela.
- Você tem certeza, né?
- Claro que sim. Anda logo garoto!
Respiro fundo e abro a porta, eu realmente esperava que nada acontecesse.
- Já são 7:00h? – Minha mãe pergunta.
- Hum... Não...
- E o que você está fazendo aqui a essa hora?!
- Na verdade, eu que pedi para ele te acordar... é a Mal, filha da Malévola! Eu preciso falar com você – Ela me olha – A sós.
Vou para o meu quarto e arrumo a cama e algumas bagunças que eu não tinha tempo de arrumar. Geralmente, ou por estar trabalhando para minha mãe, o que eu sempre evitava quando podia, ou por estar na escola, fazendo algum trabalho, ou por estar com a Evie, a Mal e o Jay.
Alguns minutos depois, a Mal aparece em meu quarto e se joga na minha cama, e bagunça o que eu tinha arrumado. Que ótimo!
- O que você queria com minha mãe?
- Não é da sua conta.
- Uau. Mal, por acaso você tá com raiva de mim? Ou é impressão?
Ela não me responde, então começo a pensar no que eu poderia ter feito que tinha deixado ela com raiva, e adivinhe? Cheguei a conclusão de que não tinha feito nada de errado!
Passou um tempinho e a Evie aparece, e senta na beira da cama.
- Tá tudo bem, Ev? – pergunto para ela.
- Eu já disse que não é da sua conta!
- Mal! Não fala assim com ele!
- Vai proteger ele?! E eu só queria ajudar!
- E obrigada por ter me ajudado, mas não quero que fale assim com ele! – Ela me olha e fala com uma voz mais calma – Tá tudo bem sim, tá? – Ela pega em minha mão e sorri.
A Mal tava com ciúmes ou eu estava delirando?!
- Enfim, eu fui em sua casa hoje de manhã, por precisar falar com você.
- Bom, pode dizer! – A Evie fala olhando para ela.
- A Uma apareceu em minha casa nessa madrugada, e disse que poderíamos acabar a guerra, se eu fosse para o lado dela, ou se aceitasse que ela e os piratas fossem para o meu lado, mas eu teria que literalmente acabar com você. – Percebo que a Evie ficou meio incomodada com a última parte, pois começou a mexer os dedos.
- Eai? Você não aceitou, certo? – Falo com esperança.
- Não! Claro que não! – Ela se levanta e para na frente da Evie – Eu jamais tentaria acabar com você... de novo. Eu conheci quem você realmente é, e agora tenho uma melhor amiga que sempre me ajuda! – A Evie sorri.
- Obrigada por escolher ficar do "meu lado", se é que ele existe! – Ela fala meio sem graça.
- Mas é claro que existe! E eu sempre estarei dele – Falo olhando para ela e sorrio. – E a Mal também, certo?
- Claro que sim! Mas quando eu recusei ela ficou muito estressada e disse que faria comigo. Mas eu não tenho medo dela e tenho vocês três e juntos somos mais fortes. – Ela respira fundo – E, sua mãe estava desesperada por você não ter ido para casa. Aconteceu alguma coisa?
- Sim... – A Ev explica tudo e a Mal fica surpresa, e só abraça a amiga por não ter palavras.
- Que chato... mas acho que deveria falar com ela. Me promete que vai!
- Tá! – A Evie revira os olhos e sorri.
- Eu tenho que ir, fico feliz que está bem! Ah! E desculpa Carlos, eu não acordei muito bem... Ainda bem que cuidou dela! – Ela sorri e sai.
A Evie fica pensativa, e pergunto se ela queria conversar, mas ela diz que talvez precisasse realmente ir em casa ver a mãe dela. Concordo, e assim que acordo a minha mãe, vamos até a casa dela.
- Você quer que eu vá embora?
- Não! – Ela fala nervosa – Quer dizer, se você quiser, seria bom...
- Claro que sim, a não ser que sua mãe me expulse... – Ela ri.
Ela abre a porta, e em alguns segundos a mãe dela aparece, grita o nome dela e corre para abraçá-la. Minha mãe nunca havia ficado tão feliz quando eu fugia, a não ser que eu não tenha feito alguma coisa que ela tenha mandado. Se bem que ela fica estressada. Resolvo que era melhor ir para casa, não queria atrapalhar aquele momento, e na verdade, a mãe dela pareceu bem feliz quando eu falei que precisava ir. A Evie me abraçou antes de eu ir e agradeceu por tudo, eu disse que não precisava agradecer, e depois de alguns segundos, sai da casa dela.
Sabe, apesar de tudo, a relação dela e da mãe era bem forte, e isso eu não podia negar. Era nítido que a mãe dela, apesar de ser mal às vezes, a amava mais que tudo. Isso me fez pensar na relação de outros vilões com seus filhos, e minha conclusão foi de que talvez só a minha mãe não se importasse comigo...

Descendentes - A História De Amor Nunca ContadaOnde histórias criam vida. Descubra agora