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Demoro dois dias para conseguir falar decentemente com Allan e marcar de o encontrar. Parecia que ele sabia que alguma coisa ia acontecer e estava me evitando.

Mas eu insisto e vou encontrar ele depois do trabalho em uma praça perto da minha casa. Não queria plateia e não queria ser interrompida pela minha mãe ou pelo meu irmão.

Chego primeiro e me sento para esperar. Tiro um saco de salgadinho da bolsa e fico comendo até ver Allan caminhar despreocupado em minha direção.

- Oi linda – ele tenta me beijar mas eu desvio o rosto – Por que você marcou aqui? Podíamos ir comer alguma coisa.

- Não vou demorar e não queria distrações – explico.

- O que foi?

- Allan, nós não damos mais certo juntos. Eu acho que o que a gente sentia, não é mais o mesmo e não estamos mais na mesma sintonia – falo de uma vez – É melhor acabar de vez.

- O quê? Como assim? Você não pode estar falando sério...

- Estou – digo com firmeza – Eu tentei, mas eu não sou apaixonada por você como era e não quero enganar você e nem te impedir de ser feliz.

- Louise...o que te deu? Nós estávamos bem até ontem, eu mudei por você, fiz tudo por você – ele se levanta – E agora você faz isso comigo!

- Sinto muito. Eu tentei, mas eu não posso mentir e me enganar e nem te enganar. Estou sendo sincera e fazendo o que é melhor para nós dois.

- Tem alguém colocando coisa na sua cabeça não é? Só pode ser isso...- ele anda de um lado para o outro – Já sei! Tem outra pessoa não é? Quem é?

- Allan, eu, Louise que estou terminando com você e ponto final – digo enfática.

- É aquele garoto que trabalha com você? Ou quem é? Só pode ser algum babaca que você conheceu naquela festa...

- Impressionante como você nunca me escuta, nunca procura me entender – balanço a cabeça e nesse instante meu celular toca. Era minha vizinha.

*-Louise, você precisa vir até o hospital. É a sua mãe...- ela suspira – Ela não está nada bem.

- O QUE? Estou indo agora.*

Desligo com meu coração quase saindo pela boca.

- Tenho que ir, não temos mais nada para conversar – falo e pego minha bolsa.

- Eu vou descobrir quem é esse infeliz! – Allan ameaça.

- Você pensa o que quiser, mas me deixa em paz – me levanto – Gaste seu tempo avaliando as suas atitudes comigo ao invés de colocar a culpa em outra pessoa.

E então saio antes que ele possa falar alguma coisa.

Chego no hospital em tempo recorde e me atrapalho para passar os documentos e me liberarem até o quarto onde estava minha mãe.

Agradeço minha vizinha que me conta o que aconteceu e me diz que vai voltar para ficar com Mathew.

Saio em busca de um médico que eu possa conversar e entender antes de falar com minha mãe, mas não o encontro.

- O médico responsável pela sua mãe está avaliando os primeiros exames dela, assim que possível ele vai falar com você – uma enfermeira me informa.

Vou em direção ao quarto da minha mãe, abro a porta devagar e a vejo acordada.

- Oi mãe, como a senhora está se sentindo? – me aproximo dela.

- Estou bem, foi só um desmaio – ela diz mas sua expressão é preocupada.

- Não existe só um desmaio mãe, está acontecendo alguma coisa com a senhora. Anda trabalhando demais e uma hora o corpo cobra.

- Você está preocupada comigo? – ela me encara.

- É claro mãe, vim correndo assim que soube – suspiro – Não queria imaginar o pior, mas eu senti medo do que pode estar acontecendo com você.

- Eu não te dou o devido valor não é? Eu te tratei muito mal nos últimos tempos...

- Mãe, não é hora...

- É sim, eu tenho que falar – ela toma fôlego – Eu sei que pode não ser nada demais, mas eu me dei conta que a vida passa muito rápido e quando a gente vê, acontece alguma coisa e é isso, acabou.

Ela continua me olhando e segue: - A culpa do meu casamento com seu acabado foi de nós dois, mas eu preferi colocar a culpa nele e em vocês. Achava que ter dois filhos me fez perder a disposição, me fez perder a vontade de sair e aproveitar a vida e seu pai não entendia isso. Ele sempre queria fazer alguma coisa e eu criava mil problemas, não sabia conversar e só brigava com todo mundo e chega uma hora que ninguém aguenta mais.

- Eu me senti muito mal por não conseguir salvar meu casamento e me tranquei em mim mesma – ela explica – Virei uma péssima pessoa e não tenho explicação para isso. Não dei valor a mulher incrível que você estava se tornando e nem ao menino incrível que o Mat é, me desculpa.

Eu precisei enxugar os olhos e me acalmar antes de conseguir falar alguma coisa.

- Eu queria saber de tudo antes mãe, para poder te ajudar e você não precisar sofrer sozinha – seguro suas mãos – Você é uma mulher incrível, e eu vou fazer de tudo para a senhora voltar a perceber isso.

Eu a abraço meio sem jeito por causa do soro que ela estava tomando mas ela retribui e acaricia meu cabelo.

- Me desculpa filha, eu quero compensar por todo mal que te fiz. Eu estou disposta a te ouvir e te entender – ela me aperta – Eu vou estar com você em tudo o que precisar.

- A senhora não sabe o quanto eu precisava ouvir isso – digo baixinho.

O médico nos interrompe, dizendo que ia levar minha mãe para fazer novos exames.

- Ela está fora de perigo, mas precisamos fazer outros exames para passar o diagnóstico correto – ele explica – Você pode ficar na sala de espera.

Assinto e saio para a salinha ali perto. Enxugo as lágrimas e bebo um copo de água.

Estou me acalmando e pego meu celular para ligar para o meu irmão, quando escuto a voz de Allan.

- É a minha namorada, é óbvio que eu vou vê-la – ele entra onde eu estou – Amor!

- O que você está fazendo aqui?

- Vim ficar com você é claro.

- Allan, eu terminei com você há três horas atrás – digo – Eu não estava brincando.

- Você estava nervosa.

- Não, eu não estava – falo enfurecida – Para de agir como se eu não soubesse o que estava fazendo. Nós terminamos, chega.

- Louise, você precisa de mim – ele eleva o tom de voz – Ou o babaca vai vir até aqui?

- Chega! Vai embora agora antes que você comece a fazer um escândalo porque é a sua cara – respondo com raiva – Eu não vou ficar repetindo pra você continuar se fazendo de louco. Acabou Allan, acabou de vez.

Suspiro e volto a me sentar, fechando os olhos. Derrotado, ele sai e me deixa sozinha.

Sinto como se dez caminhões tivessem passado por cima de mim.

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