Surto nada Silencioso

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Pietra Stone Jackson
23 de fevereiro de 1996, 02:18
Castelo Pritchett (Dublin, Irlanda)

 — Você se casou — Tupac diz entre sussurros. Ele, olhando para o horizonte, leva sua garrafa de uísque até a boca e toma um gole generoso.

 — Eu também pensei que nunca me casaria — deito minha cabeça em seu ombro direito e suspiro — Estou tão feliz, sabia?

 — Tem que estar mesmo. Sua vida finalmente está indo bem. Depois de todo aquele caos, você pode respirar agora — ele abre um lindo sorriso e se coloca de pé. Vai até a mesa de petiscos e traz um pratinho para nós dois. Ele se senta ao meu lado novamente e olha para o céu que está nublado. Estamos no jardim onde tivemos a festa. Aqui tem tendas com mesas recheadas com bebidas, comidas e etc. Agora o pessoal está dentro do castelo, a festa foi pra lá por medo de uma possível chuva que ainda não chegou.

 — Mais ou menos, a polícia continua no meu pé graças ao filme. Ele ainda está dando o que falar e agora, graças ao filme, teremos uma lei para proteger pessoas negras da violência policial — me deito na grama e encaro o céu — Não é maravilhoso que depois de muito tomar no rabo eu cheguei lá? — digo calmamente para ele, que acaba de cuspir o uísque e agora está gargalhando pela maneira que falei.

 — Michael Jackson já descobriu que não se casou com uma dama? — Pac gargalha.

 — Claro, e se casou comigo por isso — falo entre risos — Homens falam que preferem as damas porque não querem admitir em voz alta que gostam é das que não ligam para as regras!

 — E como tem sido para você, Pac? Faz tempo que não conversamos assim — sussurro enquanto olho para o céu — A fama, as turnês, a polícia que também te odeia, tudo isso deve ser uma montanha-russa para você também — Tupac solta um suspiro e parece mergulhar em seus pensamentos. Ele brinca com a garrafa de uísque vazia em suas mãos antes de responder.

 — Mano, é uma viagem maluca, sabe? Ser um artista nesse jogo é como estar no olho de um furacão. Às vezes, você está no topo do mundo, vendendo milhões de discos, fazendo shows lotados, e no minuto seguinte, está no meio de uma tempestade de críticas e controvérsias. Mas isso é o que faz a jornada valer a pena — ele respira fundo — Tô de saco cheio.

 — É, eu também — passo as duas mãos pelo rosto, me esquecendo completamente que estou de maquiagem. Mas, quer saber? Não ligo, está tudo bem, só vou parecer um palhaço — É tão bom ver que você está bem com a Petra. Ela é uma pessoa legal, é aquele tipo de pessoa que nós dois sempre quisemos em nossas vidas, lembra? O tipo que daria a vida por quem ama — falo entre sussurros — Você faria diferente e não aborreceria a polícia?

 — Não. Eles que se fodam. As palavras que eu canto, as histórias que eu conto, elas têm significado. Elas alcançam pessoas, especialmente aquelas que vêm das mesmas comunidades de onde eu vim — ele apoia as mãos no joelho e me encara — E você faria algo diferente? Tentaria não ofender nosso sistema de cristal?

 — É como você disse, que se fodam — coloco as duas mãos embaixo da minha cabeça — Eu só lamento profundamente por todas as vidas negras que perdi ao longo de tudo isso.

 — Eu também — diz baixinho — Devíamos ir ver uma luta em Vegas, ia ser do caralho.

 — Topo se você não levar o Suge Knight, não consigo ficar perto dele sem achar que vou levar um tiro ou que vou morrer como Eazy-E — falo com um bom humor em minha voz e Pac ri, mas ele sabe que tem um fundo de verdade nisso.

 — Combinado, sem o Suge. Eu também quero viver para ver muitas lutas em Vegas — ele ri — Nós viveremos para sempre, Pita — Tupac fala com um tom tão calmo que me faz acreditar que realmente viveremos para sempre.

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