capítulo 05

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Eu estava dirigindo meu fusca pela via expressa e ainda tentava digerir aquela brincadeira da Isabel. Ela estava ao meu lado e fingia estar dormindo, mas não me enganava.

- Eu sei que você não está dormindo, Bel.

Troquei de pista.

- Mãe, não foi por maldade.

Bufo e balanço a cabeça.

- Eu não posso acreditar que você me empurrou para cima daquele homem!

- Mãe, ele é legal, juro! Ele até me deu um pirulito de chocolate, eu nunca tinha comido um pirulito de chocolate.

Parei o carro no semáforo e a encarei perplexa.

- Então você vende a sua mãe, a mulher que te deu a vida, por um simples pirulito de chocolate que vai apodrecer seus dentes!? - Guinchei.

Bel achou graça das minhas palavras.

- Eu não vendi você mamãe, eu apenas falei pra ele que você não tinha namorado e eu não tinha um papai.

Pelo canto de olho vi ela ajeitar o cinto de segurança.

- Sabia que ele tinha um filho?

- Um filho? O Bailey?

- Sim, mas o bebê dele morreu. Que triste não é, mamãe?

Faço que sim.
Deus, que dor ele deve ter sentido.

- Deve ter sido difícil pra ele. - Comentei.

- Ele falou que é por isso que conta um monte de história para as crianças.

Sorri. Que bela atitude.
Porém na mesma hora arranquei aquele sorriso bobo do rosto. Que besteira essa minha.

- Filha, porque você está querendo que a mamãe arrume um namorado?

Ouvi ela suspirar e aproveitei para fazer uma curva e entrar em uma rua estreita que me servia como um ótimo atalho.

- Não vai ficar com raiva? - Ela quis saber.

Senti meu coração acelerar um bocado, mas tentei me manter aparentemente tranquila.

- Claro que não Bel. Pode falar.

De soslaio a vi apoiar as mãos no porta-luvas e balançar as perninhas.

- Mês que vem vai ter a festa de dia dos pais e eu não queria ir de novo com você e a tia Sofy. Não é que eu não goste mas... Eu sou a única que não vou com o meu pai.

Uau. Eu não esperava por isso.

Engoli o choro que subia pela minha garganta e guiei o carro até uma calçada e o estacionei. Esperei o motor morrer e então me virei para minha filha.

- Filha eu não sabia que isso te incomodava tanto, você nunca falou... - Cocei a nuca.

Ela desafivelou o cinto de segurança e olhou para mim com aqueles olhinhos inocentes.

- Eu não queria te deixar triste.

Concordei brevemente e com o dedo trêmulo afastei uma mecha do cabelo dela para trás para poder olhar para seu rostinho oval e muito bonito.

- A mamãe não ficou triste, certo? A mamãe só não esperava por isso. Eu sei que você queria ter um papai, mas não é de um mês para o outro que eu vou arrumar um pai para você, querida. Eu nem conheço esse Bailey e não posso simplesmente.... Me apaixonar por ele. Você entende?

- Eu fiz besteira não foi?

Sorri de alívio por ela ser tão inteligente e esperta. Puxei Bel para o meu colo e a abracei.

- Você agiu como achou que deveria agir e eu só te peço que da próxima vez você me deixe resolver as coisas, certo? A mamãe vai pensar sobre isso, só me dê um tempo, ok?

Ela assentiu.

- Tudo bem, Mamãe. Eu posso esperar para ter um papai.

Encostei os lábios no topo da cabeça dela e permiti que apenas uma lágrima solitária escorresse pelo meu olho.
Dylan era um maldito, mas talvez a Bel estivesse precisando dele.

••• •••

Eu adorava quando finalmente o sábado chegava. Não precisava ir para a livraria e o barzinho só ia abrir no dia seguinte então... Eu estava oficialmente de folga.
Ah como eu amava essa palavra: folga. Folga. Folga.

Puxei o cobertor até o queixo e esperei até Bel vir para a sala com os DVDs que ela queria assistir hoje. Sempre fazíamos maratona da Barbie aos sábados e assim que Sofya chegasse poderíamos começar.

- Mamãe, vamos para a praia!

Levantei a cabeça e vi Isabel escorada na parede com uma boneca nos braços e um bico enorme.

- Praia? Está louca, Bel? Eu estou morta de cansada e hoje é dia da Barbie. Vem. Vamos assistir.

Ela negou com a cabeça.

- A gente sempre assiste a mesma coisa. Eu quero sair, mamãe.

Eu já ia falar algo quando a campanhia tocou e minha filha saiu correndo para abrir a porta. Era Sofya com um óculos de sol enorme e algumas sacolas.

- Deus, o calor está potente hoje! - Ela exclamou.

Bel a abraçou e as duas trocaram muitos beijos como sempre.
Eu não estava com calor nenhum, eu amava o ar-condicionado velho que comprei mês passado. Mesmo que a conta de energia quase me fizesse desistir dele.

- Que bom que chegou, assim você convence a essa pirralha que é melhor escolher logo o filme que quer ver.

Bel cruzou os braços.

- Tia, a Mamãe nunca sai com a gente. Eu quero ir para a praia hoje!

- A Belzinha tem razão, Shivani.

Estreirei os olhos para a minha amiga e a xinguei mentalmente.

- Eu não vou para a praia, gente. Eu estou cansada e de folga. Eu quero me enfiar em doces e criar raízes nesse sofá!

As duas se entreolham.

- Você vai, sim! - Valu decretou arrancando meu lençol. - Bota um biquíni e vamos curtir esse dia, quem sabe você não desencalha.

Era só o que me faltava, mais uma.

E é lógico que as duas venceram. Às vezes eu odiava amar tanto elas.

°°° °°°

Eram quase dez da manhã e o sol estava escaldante. Eu já havia pensado em voltar para casa umas quinze vezes, mas a Bel e a Sofy estavam se divertindo muito e, preciso admitir, era até legal mergulhar naquela água gelada e relaxar um pouco.
No fim das contas não era tão ruim assim. Sem contar que eu ia economizar energia já que o ar-condicionado tava desligado.

Falei para as duas que ia caminhar um pouco e depois de amarrar a canga por cima da parte de baixo do biquíni coloquei um chapéu enorme e me dirigi para o calçadão.

Haviam tantas crianças correndo e algumas andando de patins e bicicleta. Era muito legal de ver.
É, foi bom ter saído um pouco de casa.

Me distrai olhando um bebezinho em um carrinho azul e meu chapéu saiu voando.
Droga, era meu melhor chapéu. Ou melhor, era o único.
Saí correndo atrás dele e só parei quando notei que alguém o havia pego. Abri um sorriso de gratidão para a pessoa e assim que o reconheci senti algo saltar no meu peito.

- Belo chapéu, combina com a minha camisa. - Bailey comentou enquanto me entregava meu chapéu de estampas extravagantes.

- Obrigada. - Falei meio sem jeito pegando o chapéu. - Você anda me seguindo por acaso?

Ele me exibiu aquele sorriso cafajeste de sempre e pousou a mão na cintura.

- Você acredita em destino?

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Vocês acreditam em destino?

Aio, olha o cap de hoje. Eu espero que vocês gostem dessa adaptação, assim como eu estou amando posta-la. Tô muito animada com ela



𝐏𝐨𝐫 𝐚𝐦𝐨𝐫; 𝐌𝐚𝐥𝐢𝐰𝐚𝐥 / 𝐒𝐡𝐢𝐯𝐥𝐞𝐲Onde histórias criam vida. Descubra agora