capítulo 3

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Changbin

Meu nome e Seo Changbin, e eu espero que você preste bem atenção nesse nome, porque eu provavelmente não irei repeti-lo mais.

Eu trabalho na Academy Seo Life desde os meus 6 anos, quando eu vivia pulando os muros para fugir dos garotos que queriam me bater e desde quando eu roubava doces da barraquinha do tiozinho da esquina com o meu melhor amigo, Sunshine, que um dia qualquer foi embora com um homem estranho e nunca mais voltou.

Ele era literalmente o único que me entendia, pode até ser que o Sunshine não tenha os mesmos poderes que eu tenha, mas ele entende como é ser taxado de estranho, aberração, demônio, capeta, erro, alucinação, monstro e outros adjetivos que as pessoas de mente fechada queiram nos dar, ele entende o porquê de não podermos nos mostrar ou o por que de sempre ter gente que quer fazer experiências conosco.

E por mais que eu seja o seu Hyung ele sempre cuidou de mim, sempre que eu trabalhava ele vinha ver se eu já havia me alimentado, ou se eu precisava de ajuda, nos ajudávamos, não havia desafio que não pudéssemos enfrentar.

Bem, eu não gosto de ficar relembrando o passado, ainda mais que ele é uma bosta.

Mas para vocês eu abro uma exceção, meus pais fizeram a Academy Seo Life em homenagem ao meu nascimento, mas quando viram o que eu era desistiram na metade do projeto, quando completei 5 anos eles o retomaram, não felizes mas retomaram, me trataram de uma forma que família nenhuma deveria tratar o seu único filho, então eu praticamente me criei sozinho, e quando completei 10 anos eles me abandonaram, dizendo que eu deveria agradecê-los por não me entregarem para a NASA, CIA ou para um laboratório clandestino fazer experiências em mim.

E eu até hoje trabalho como dono e professor de boxe da Academy Seo Life, ainda mais que essa é a única coisa que eu aprendi em toda a minha vida. Então acaba por aqui a minha épica história. E não, eu não fui pra escola, os meus pais ficaram com tanto medo de mim, que me fizeram estudar em casa mesmo.

O meu emprego pode estar maravilhoso mas a minha vida não poderia estar mais normal, acordar as 5h da manhã, levantar, escovar os dentes, tomar café da manhã, sair de casa, abrir a academia, dar aula, comer um lanche, fechar a academia às 23h da noite, ir pra casa - uma "comunidade" que na verdade é um amontoado de prédios todos juntos, o meu e o terceiro prédio , 15º andar, número 074 - tomar banho, comer as sobras do café da manhã e dormir.

Essa basicamente era a minha rotina todo o dia, e eu estava ficando louco e morto, nada de interessante acontecia comigo.

Mas em um dia isso tudo mudou.

Era por volta das 23h30 da noite, e nesse dia eu havia resolvido que seria bom dar uma treinada a mais, porque olhe só, eu posso ter apenas 20 anos, mas provavelmente enquanto todas as pessoas estiverem velhas e caquéticas eu estaria em boa forma e flexível, isso se eu não morrer até lá.

E quando eu havia acabado o meu treino e estava arrumando os pesos no armário, eu escutei a porta de entrada abrir e bater, e um barulho de pés sendo arrastados.

- ESTAMOS FECHADOS POR HOJE! - grito enquanto trancava o armário e ia em direção a entrada.

Mas quando chego lá não havia ninguém, achei estranho mas dei de ombros.

- estranho - sussurrei pra mim mesmo enquanto andava para ir ao vestiário buscar minhas coisas. Eu tinha a impressão de que tinha alguém me observando, mas sempre que olhava trás não via ninguém, havia entrado no vestiário com paranoia de que tinha alguém invisível me observando.

Peguei minha bolça através da minha gaveta trancada e quando me virei, encontrei um papel de bala jogado no chão de entrada do vestiário. Quem colocou aquilo ali?

Andei devagar, como se a qualquer momento eu pudesse pisar em uma mina, quando peguei o papel do chão, nele estava escrito em Hangul vermelho :

"Olhe pra mim; Vamos brincar? "

Nesse ponto eu já estava achando que eu estava em um puta filme de terror, e o protagonista burro sou eu. Olhei pro meu lado esquerdo por ter sentido uma respiração no meu pescoço e me arrependi na mesma hora, uma figura nebulosa alta de um homem passou correndo pelos chuveiros, eu me arrepiei dos pés a cabeça, e prendi a minha respiração.

- Tem alguém aí? - perguntei, mas aí lembrei, quem quer que seja não falaria: eu estou aqui!

Tremendo fui ver se tinha realmente alguém comigo, andei em passos curtos até a área dos chuveiros, senti um mal cheiro horrível logo que enfiei a minha cara pela porta, era um cheiro de carne putrificada e estragada e com um cheiro forte de sangue, olhei ao redor, eram no total nove chuveiros e no quarto estava um palhaço, ele vestia um paletó marrom, uma calça azul escura, por baixo do paletó vestia uma blusa branca manchada de sangue, ele mantinha uma das mãos na barriga e a outra apontava pra mim como se estivesse zombando de algo, a água do quarto chuveiro caia em sua cabeça, molhando sua roupa e borrando sua maquiagem pesada, seu nariz era torto, seus olhos eram vazios como os de um crânio de esqueleto.

Eu havia soltado um grito tão alto e agudo que com certeza havia rachado um dos espelhos do vestiário, eu andava pra trás totalmente apavorado, já o palhaço se levantava com um sorriso tão enorme que eu pensei que ele não fosse real, eu tropecei em alguma coisa - provavelmente em minha bolsa - e cai no chão, o palhaço agora andava até mim e eu me arrastava o mais rápido possível pelo chão.

Odeio palhaços .

Com todas as minhas forças, eu os odeio.

Eles me assombram desde criança, quando eu e Sunshine havíamos invadido um circo para ver se conseguíamos alguma comida.

Um dos palhaços que trabalhava la havia me visto e me perseguido, e no meio da perseguição eu caí em cima de um espelho que alguns funcionários carregavam, e vários cacos de vidros ficaram grudados no meu peito. E até hoje eu tenho as cicatrizes. E só de pensar naquele dia me lembro que fui parar num hospital e nem consegui roubar a comida.

Com pavor, tentei ficar invisível, mas o palhaço que ainda sorria gargalhou, sua gargalhada lembrava duas pedras raspando, de trás das costa ele tirou dois balões prateados que diziam:

"não adianta","eu te vejo"

Eu estremeci dos pés a cabeça, e foi nessa hora que as lágrimas que queimavam os meus olhos cairam, manchando minha cara me fazendo soltar um grito de dor e gaguejei.

- O-O que você quer? q-quem é você? - ele sai de onde estava numa velocidade sobre humana e fica cara a cara comigo, seu cheiro era de sangue e ovos podres, depois de me encarar com os seus olhos vazios ele solta a risada de pedras raspando e com suas enormes unhas pretas acariciou minha bochecha.

- Você. Esta. Morto. Antes mesmo de falar. Seu. Nome - ele sussurrou com a voz falha e rouca, e eu tenho que admitir essa foi a coisa mais assustadora que eu já havia presenciado e olha que já vi várias pessoas morrendo, e sem mais o que fazer eu apenas fechei os olhos e disse pra mim mesmo

- isso não é real Changbin, você consegue vencer ele - eu podia sentir o seu hálito no meu rosto - vamos Changbin.

Abri meus olhos na esperança de que tudo não passava de um pesadelo, mais ele ainda estava aqui, só que mais longe, e então de repente o palhaço não estava mais em lugar algum, eu me encontrava no chão do vestiário todo suado, com lágrimas grossas caindo dos meus olhos inchados e tremendo mais do que uma roupa no varal.

Pensei que estivesse totalmente sozinho mas havia um garoto familiar - talvez mais novo - atrás de mim, me encarando com os olhos arregalados, isso pra mim era a coisa mais normal até agora, e então pontinhos pretos e brancos começaram a aparecer em minha visão, minha cabeça latejava e estava leve e tão abruptamente eu não via mais nada e já não escutava mais nada.

Eu havia desmaiado.

Until We Get DownOnde histórias criam vida. Descubra agora