As duas vezes em que Renjun quase se tornou um vampiro

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Renjun se lembrava bem de que seu passatempo favorito na infância era observar secretamente o que Lee Jeno, seu vizinho do lado, estava fazendo. Para o chinês sua teoria mirabolante de que o mais novo era na verdade um vampiro disfarçado iria se comprovar verdadeira, mais cedo ou mais tarde, e ele não poderia perder aquele momento, mesmo que o outro garoto lhe assustasse um pouquinho.

Talvez Renjun houvesse passado tempo demais assistindo filmes de terror e fantasia, mas assim como ele tinha certeza de que seu vizinho se alimentava de sangue, também acreditava cegamente que Nana, um príncipe com cabelos feitos de chiclete, existia.

O episódio em questão, que deu assas à imaginação do chinês — e vida ao príncipe sorridente — iniciara-se em um dia de verão, quando Renjun ouvira gargalhadas vindas do jardim de seu vizinho pela primeira vez. A família Lee, que havia se mudado a poucos dias para a casa ao lado, tinha filhos de sua idade.

Renjun nunca foi de falar muito, e detestava se aproximar de pessoas desconhecidas, mas quando sua mãe o viu pendurado na cerca, apoiando-se em seu baldinho de praia apenas para observar o que os dois garotos estavam aprontando do outro lado, ela acreditou que aquela seria a oportunidade perfeita para que Renjun ganhasse alguns amigos.

E no final lá estava ele, com boias e pés de pato, pronto para adentrar na piscina dos Lees junto de Mark, e claro, Jeno. O chinês estava adorável, e ninguém poderia negar, mas se sua mãe soubesse o que aconteceria ao garoto segundos depois daquele momento, ela com certeza teria esperado outro momento para estrear aquela boia em formato de gato.
Mesmo que Jeno não parasse quieto por um segundo, tudo parecia sobre controle enquanto a mãe dos garotos passava a quinta camada de protetor solar na pele alva e delicada do mais novo. Renjun estava apreensivo, e já  formava teorias em sua cabeça que explicariam o porquê de Jeno precisar de tanto protetor, mas Mark era doce e divertido, fazendo com que este esquecesse Jeno por um tempo e começasse a se sentir mais confortável.

 Quando Minhyung  havia lhe oferecido um pedaço de sua melancia, Renjun já estava começando a acreditar que finalmente teria alguém, além do primo Chenle, com quem conversar sobre Pokemóns. Mas tudo fora por água abaixo quando o furacão Lee Jeno finalmente deu as caras.

Renjun não gostava de ser provocado, mas Jeno não era bom em ler as entrelinhas, mesmo que estas estivessem estampadas em sua cara. Lee Jeno era um tanto quanto teimoso, e com certeza não se daria por vencido até que Renjun lhe deixasse usar sua boia, nem que este precisasse morder o chinês para conseguir o que queria.

E fora naquele exato momento, quando o Lee mais novo enfiara suas “presas” em sua mão, que Renjun tivera duas certezas: Jeno era sim um vampiro, e ele estava prestes a se tornar um também.

Renjun correra em pânico para o outro lado da cerca enquanto Mark repreendia Jeno cuspindo caroços de melancia no rosto do garoto.

A desgraça já havia sido posta, depois daquela tarde o Huang jamais botou os pés na casa dos Lees, nem mesmo para que buscasse sua boia de gato que fora esquecida no meio do jardim, este não havia conseguido a segurar com firmeza já que tinha um corte profundo em sua destra. Ou pelo menos era assim que este justificava seu ato falho.

O Huang lembrava-se com clareza de como ficara pensativo naquele dia. Sabia bem que aquele curativo cor-de-rosa e o beijinho que sua mãe havia depositado em sua mão não eram suficientes para impedir que este se transformasse em um vampiro, e não conseguia evitar de se preocupar.

Poderia gostar bastante de criaturas mágicas e sobrenaturais, mas se pudesse se tornar uma, com certeza não escolheria vampiro. Ele haveria de encontrar um antídoto.

Talvez seja porque Renjun fora dormir pensando em como seus dentes pareciam mais afiados — ou talvez seja porque este queria muito uma goma de mascar — mas, naquela noite, Nana — aquele que seria seu amigo imaginário por anos — finalmente veio a ele através de um sonho, trazendo, convenientemente, uma resposta tão mirabolante para seu conflito quanto sua própria crença de que estava infectado pelo vírus vampiresco.

Para onde eles vão? - Norenmim Onde histórias criam vida. Descubra agora