Quando nos encontramos em nosso lugar secreto

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Ninguém sabia ao certo a época em que o desejo de ter uma casa na árvore havia aflorado com tanta força em Huang Renjun. Mas o fato é que, sempre que enxergava uma oportunidade, o garotinho deixava bastante óbvio o quanto desejava ter um esconderijo nas alturas.

Os pais do Huang costumavam mima-lo com frequência, mas com a ausência de espaço, e até mesmo de uma árvore para tal, o sonho do menino parecia um tanto quanto impossível, sendo aos poucos deixado para trás.

Ainda assim, enquanto pedalava pela cidade depois da aula, Renjun ainda pensava com frequência sobre a possiblidade de encontrar um local secreto para poder chamar de seu.

E foi dessa forma, naquele fim de tarde de março, enquanto voltava para casa ao lado de Nana, que o chinês enxergara potencial em um local nem tão amistoso, mas que em breve seria dono de muitas memórias especiais: o ferro-velho abandonado da cidade.

Naquele mesmo dia, indo contra as recomendações de seus pais e até mesmo do príncipe chiclete, Renjun se embrenhara em meio aos carros retorcidos. Queria verificar o local, mas acabou ganhando alguns arranhões aqui e ali.

A empolgação e a curiosidade haviam funcionado como um bom anestésico, já que mesmo pulando de um carro para o outro — enquanto Nana o encarava cheio de preocupações —, Renjun não pode sentir a presença do corte que havia sido aberto em suas pernas desnudas. Era frustrante para o rosado que sua proteção estivesse limitada a gomas de mascar e conselhos quase sempre ignorados, mas é fato que o Huang já se sentia suficientemente acolhido apenas por saber que o outro sempre estaria ao seu lado, mesmo quando estivesse aprontando algo com que o príncipe não concordasse.

Até aquele momento, Renjun não havia encontrado nada em especial — fazendo-o se questionar se aquele local seria mesmo adequado para ser guardião de seus maiores segredos —, mas este não demorou a dar um passo certeiro em direção àquilo que o faria entender que aquele lugar estava marcado para ser seu.

Um trailer pintado em um amarelo brilhante ganhava destaque em meio à sucata, chamando atenção não só do Huang, como também de seu companheiro imaginário, o qual alargava ainda mais seu sorriso a cada passo dado em direção ao achado. Mal podiam acreditar que algo tão bonito estava escondido em um local tão assustador.

Renjun já havia tomado o veículo como seu, mesmo sabendo que pegar algo para si, sem antes ter certeza da existência de um dono, poderia gerar consequências desastrosas.

 O garoto experimentou todos os bancos, fingiu-se de motorista e até mesmo escreveu seu nome no retrovisor com um pedaço de vido — pedindo inclusive que o amigo imaginário fizesse o mesmo.

 Os joelhos marcados com sangue e areia ainda não davam qualquer sinal de dor quando o garoto decidiu escalar o trailer. Nana fora logo atrás, garantindo que o menino não fizesse nem mais um tipo de estripulia naquele dia.

— Deve ser incrível passar a noite aqui em cima e dormir observando as estrelas... — proferiu o Huang, já se deitando sobre a lataria, nem sequer se preocupara com a poeira fina que poderia sujar seu uniforme.

— Você tem razão Renjun, mas temos que voltar pra casa...mamãe vai te matar se chegarmos atrasados pro jantar! — o príncipe de chiclete dissera aflito, soprando para longe as pedrinhas que haviam grudado nas feridas do menino.

— É só mais um pouquinho Nana... O sol está se pondo, não vê? Precisamos nos despedir e agradecer pelo dia de hoje.

Renjun acabara convencendo o príncipe relutante, o qual soltara uma risada doce depois do discurso do Huang. Após afastar a poeira do trailer com as mãos, o rosado deitou-se ao lado do amigo para observar o céu alaranjado despedir-se de sua estrela maior.

Para onde eles vão? - Norenmim Onde histórias criam vida. Descubra agora