Aquilo que o destino nos reserva

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Crescer pode ser doloroso. Ninguém nunca nos perguntas se estamos prontos, e nem nos explica com clareza o que está acontecendo.

 De repente, abandonamos nossa fantasia, nossos medos e nossa inocência em prol da promessa do ganho de maturidade, força e de conhecimento. Mas nem sempre essa troca é genuína, nem sempre essa troca é, de fato, justa.

Porque às vezes, é a fantasia que protege, guia e acolhe. Às vezes a fantasia tem sabor de chiclete, cheiro de primavera, toques e palavras de aconchego. Às vezes a fantasia atende pelo nome de Na Jaemim. Ou melhor, atende pelo nome de Nana.

Aos 9 já era tempo de crescer, eles diziam. Mas, Renjun, bem, Renjun não estava nem um pouco preparado para isso. Porque crescer, naquela época, significava, acima de tudo, deixa-lo ir.

Ainda que Jeno estive distante, ainda que a culpa deixasse de corromper seu coração, ainda que não estivesse sozinho, Nana não poderia partir. Não quando tudo parecia tão melhor ao seu lado.

Renjun já havia desenvolvido todo tipo de estratégia. Agora já não falava sobre o garoto aos seus pais e nem se quer se arriscava a conversar com Nana em público, já não cobria mais as paredes de seu quarto com desenhos do Reino Doce e muito menos creditava os chicletes que ganhava à figura imaginária.

Renjun estava fazendo de tudo, mas, infelizmente, não era o suficiente. Não quando Nana já estava decidido a partir, não quando Nana, mais uma vez, o enxergava como um bom porto seguro para seu menino quando ele já não podia mais estar ali.

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O cheiro de tinta parecia mais vivido naquela tarde. Renjun dava pinceladas rápidas e precisas, dando cor e formato à tela em branco. Queria se distrair, mas não conseguia deixar de pensar — ainda naquela circunstância — naquilo que já deveria ter aprendido a esquecer.

Jaemin sempre tentava o tranquilizar. Jeno precisava caminhar sozinho por um tempo, precisava admitir seus erros e seus entraves, precisava crescer sozinho. Mas ainda assim, o Huang preocupava-se, a cada vez que o trabalho semestral se aproximava, a cada vez que uma matéria nova lhes era dada. Sentia um aperto em seu coração, sentia como se seus planos estivessem indo por água abaixo.
Desde o ano passado sonhavam alto. Se formariam, entrariam em boas faculdades e nunca mais teriam de sofrer na litorânea Fireflies. Estariam longe da família do Lee, dos olhares preconceituosos e de toda pressão que o mais novo carregava. Estariam finalmente livres para serem felizes.
Mas agora, com Jeno se ausentando da escola, Renjun já não conseguia mais enxergar esse futuro com clareza. Tudo parecia nebuloso, incerto, e de alguma forma, aquilo machucava seu coração como nunca, machucava muito mais do que qualquer comentário maldoso e qualquer olhar torto que vinha recebendo de toda escola.

Não era sua culpa, ele sabia. E também não havia nada que este pudesse fazer para mudar aquilo. Renjun tinha de lutar por si mesmo, e naquela circunstância, ele não podia abandonar a pintura. Mesmo que sua sala já houvesse sido destruída, mesmo que seus materiais já houvessem sido roubados, Renjun tinha de demonstrar-se forte. Porque a força que antes direcionava a proteger Jeno havia de voltar a ser toda sua.

A inspiração havia lhe batido à porta trazendo calmaria e felicidade a seu coração. Não sabia quando e nem como havia botado os olhos naquela figura, mas a imagem na tela formava-se em detalhe sem qualquer referência. Renjun estava pintando um castelo.

— Ocupado?

A voz de Chenle havia rompido o silêncio da sala. Renjun curvara-se em sua direção deixando a tinta que embebia seu pincel escorrer até o chão. Um sorriso havia se formado em seus lábios assim que o chão ganhou uma nova mancha.

Para onde eles vão? - Norenmim Onde histórias criam vida. Descubra agora