Caminhos opostos

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Viver em uma cidade pequena nunca soara como algo positivo para Huang Renjun. Desde muito pequeno, ele enxergara isso com clareza, a final de contas, já era a 2° vez que aquele tipo de coisa se repetia. Na sala de aula, o único som audível era o de seu lápis marcando a folha de caderno.

Renjun podia contar os amigos que tinha nos dedos, dessa forma, não era de tanta surpresa que, após a troca de turno dos primos, este acabasse “sozinho” na sala de aula. Mesmo que, teoricamente, Nana e ele estivessem ali.
Mesmo que agora dividissem o mesmo espaço — desde que havia voltado —, Jeno jamais havia lhe dirigido a palavra. Ainda que não lhe devesse explicações, Renjun ainda se sentia intrigado a toda vez que o garoto aparecia. As coisas haviam finalmente mudado? Os sinais de abuso haviam realmente apagados ou só estavam sendo melhores escondidos? E o mais importante, quem era aquele garoto para quem ele tanto sorria? Ele estava o ajudando?

Renjun sentia-se estranho por estar pensando tanto, mas era ainda mais estranho que mais ninguém se sentisse aflito a respeito da situação. Brigas, maltratos, machucados, sangue e um sumiço, aquilo já não lhe era suficientemente esquisito?

Jeno havia pedido socorro, mas sua voz jamais havia chegado a ninguém capaz de ligar as peças. Renjun acabara preso a suas próprias fantasias, e Nana jamais o indicara a realidade. Nana nunca o havia contado o que sabia a respeito do garoto sentando na primeira carteira.

— Esse sou eu? — Nana perguntara com um sorriso. Os dedos deslizavam entre os fios de seu protegido.
Renjun balançara a cabeça com um sorriso. Sabia que não poderia falar com o outro na frente das pessoas, costumavam o olhar estranho.

— Desenhou o meu castelo, certo? — Nana arriscara, lembrando-se do que havia contado ao garoto sobre si. — Mas quem é esse? Quem é esse com o chapéu engraçado? — o príncipe estranhara.

— Esse sou eu...protegendo você com a minha espada. E agora vou desenhar o Jake, ele também vai te proteger daquele Rei horrível que você me contou...— Renjun sussurrara baixinho, escondendo as bochechas coradas com a manga da camiseta. Estava perdido em suas fantasias, ansiando ter a coragem que esboçara em seu desenho.

Por alguns segundos o príncipe se vira estático, com medo de suas próprias conclusões. O Huang o encarava confuso, sem entender o que havia de errado por ali. Chegara a olhar para Jeno, percebendo que o garoto se remexia em sua cadeira. Teria o Lee escutado alguma coisa?

— Você acha que ele escutou alguma coisa? — Renjun sussurrara em um tom ainda mais baixo, preocupado com as expressões do rosado.

Nana não havia o contando nada, mas lá no fundo, Renjun já sabia. O coração do príncipe entrara em disparada, atormentado com o futuro daquela criança. Aquilo não poderia acontecer novamente. Renjun não deveria saber daquilo.

— Nana?

O menino insistira, encarando o príncipe nos olhos, mas o outro parecia não o ouvir. O barulho da porta sendo aberta acabou tomando total atenção do Huang, ignorando a curiosidade que sentia em relação à postura de seu príncipe.

O garoto estava novamente ali. Correra empolgado para a mesa de Jeno, provavelmente o convidando para que almoçassem juntos. Renjun sentira algo estranho em sua barriga. De alguma forma, não gostava daquilo.

— Não adianta, ele sempre vai escolher o caminho errado... Onde eu estava com a cabeça quando achei que dessa vez poderia ser diferente.. As rotas podem ser diferentes mas tudo sempre leva a um mesmo lugar. — Nana sussurrara para si, ainda assim Renjun pode o ouvir.

Renjun novamente inclinara a cabeça em direção ao príncipe. Não entendia nada, estava de fato assustado em ver Nana daquela forma quando este sempre parecia ter uma resposta para tudo. O que poderia o estar perturbando tanto assim?

Para onde eles vão? - Norenmim Onde histórias criam vida. Descubra agora