Para onde eles vão? - Norenmim

Ilusão de ótica

Mesmo que por muitas vezes Huang Renjun se recusasse a escutar os aconselhamentos de seus próprios pais, ele definitivamente não era do tipo de criança que seria facilmente enganada. A inteligência, os olhos atentos, e até mesmo a dificuldade em confiar, tudo isso contribuía para que, diferentemente de outros de sua idade, o garoto não se deixasse levar prontamente por pessoas mal-intencionadas. Mas toda regra é passível de exceção, e naquele caso Kim Jungwoo passara despercebido a todas os sinais de sua atenção, justamente por estar ao lado daquele em quem mais confiava.

Tudo começara no ano de 2015, quando Huang Renjun ainda pensava se deveria ou não se aproximar de Lee Jeno, quando Na Jaemin ainda se via confuso a respeito do significado de seus sonhos, quando Kim Yerim já havia se aproximado, mas ainda não chamava o Lee mais novo de seu namorado. Tempo este em que a orientação de manter-se longe dos Kims ainda era respeitada por todos os 5 Huangs, até que Lucas finalmente conhecesse Jungwoo.

Naquele ano, Xuxi não só enfrentava o primeiro ano do Ensino Médio, como também o primeiro morando de maneira fixa em Fireflies. 

Apesar de ser o perfeito oposto do primo predileto — manifestando não só uma grande extroversão, como também uma simpatia natural —, Lucas acabara enfrentando problemas semelhantes aos de Renjun graças a barreiras culturais e seu coreano arrastado. Dessa forma, não seria tão difícil de entender porque se dexara envolver tão facilmente pelo veterano de sorriso inocente. Mas Lucas já deveria saber que Jungwoo era bom demais para ser verdade, bom demais para ser um Kim.
Renjun se lembrava bem da primeira vez em que os havia visto juntos, a turma do primeiro ano apresentaria uma peça de teatro. O Kim ganhara o papel de príncipe, e Lucas o de seu fiel escudeiro. Jungwoo tinha a feição pueril, os cabelos alaranjados, o sorriso bonito e o tom extremamente delicado. O sobrenome Kim nem se quer o assustou quando Xuxi finalmente deixou escapar seu nome.

E durante os anos que se seguiram, o mais novo nunca pensara em desconfiar que o garoto com aparência angelical pudesse apresentar qualquer tipo de ameaça, nunca pensara em desconfiar que tipo de coisas o primo escondia por detrás de seu costumeiro sorriso.

 Renjun não seria nem o primeiro, e nem o último, a se deixar levar pelo mais terrível dentre a última geração de Kims. Pois Kim Jungwoo era quase como uma ilusão de ótica, praticamente impossível de se decifrar, praticamente impossível de se deixar duvidar. 

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— Se você tá falando do que eu acho que está falando, não ache que eu me intimido com eles. Pouco me importa essa ideia de que os Kims mandam na cidade...e isso nem se quer é uma desculpa. Se você se importasse de verdade com seu irmão teria tirado ele daqui, teria mandando ele até mesmo pra outro país se fosse necessário... — Jaemin protestou, encarando o outro Lee de longe. Era ruim pensar que Renjun se importava muito mais com Jeno do que sua própria família.

— Você tá brincando, não tá? — Mark deixou-se rir, mas Jaemin nem se quer se mexera — Acha que isso é o suficiente? Se fosse tão simples assim, não acha que já teríamos tentando? Dinheiro, poder, influência eles têm tudo isso, e poderiam ter feito ainda coisa pior com ele. Essa é a única forma do Jeno poder viver bem, e estou me esforçando por isso...

O Na respirou bem fundo, cansado das palavras de Mark. Desculpas e mais desculpas, era só isso que o canadense tinha em mãos. Ele não precisava saber do contexto para sentir que tudo aquilo estava errado e que Renjun tinha razão em sentir-se como a única fonte de amor que Jeno recebia. A única forma que Jeno poderia viver era sendo que ele não era?

— Ele é o seu irmão. Deveria colocar isso na sua cabeça antes de qualquer coisa... Não me importa que tipo de motivo você teve pra fazer tudo isso, e nem que você chame isso de viver bem. Eu simplesmente não quero mais te ouvir, nada do que você fala vai me fazer pensar diferente garoto.