Capítulo 38 - Você precisa voltar

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Dóris

Acordo...

E mais uma vez me encontro sozinha na cama. Levanto indo até o banheiro, não olho para o espelho.

Você era uma tempestade. Eu a amava, mas você fez o que precisava fazer... destruiu tudo. Me destruiu.

Desço e encontro a Lua sentada na bancada da cozinha. Ela sorri, mas seu sorriso não é o mesmo, não é feliz, espontâneo... é triste e forçado.

- Bom dia mamãe.

- Bom dia querida - pego o leite e jogo no cereal.

- Como você está se sentindo hoje? - Sua voz é hesitante, mas rotineira. Ela faz essa pergunta todo dia depois da... meu coração treme. Não. Não estou bem.

- Estou bem, meu amor. Vamos para a escola - ela levanta, cansada.

Ao abrirmos a porta vemos Colin e Adam.

- Adam vai levar ela. Precisamos conversar - seu tom era sério mas sensível. Eu estou tão ruim assim?

Que pergunta, sem você... têm como ficar de outro modo? Você partiu e com você minha vida, esperança e sonho. Você era meu sonho, a minha alma... agora, sou só uma casca.

Você levou as flores mas acabou deixando o jarro.

- Claro - dou um beijo na testa da minha filha e a vejo sair me dando tchau

Colin entra e me olha.

- Você ta bem?

- Eu to bem. Eu tô feliz. Eu não tô na merda. Eu não tenho mais pesadelos sobre aquele dia e...

- CHEGA -seu grito me para e já sinto meus olhos queimarem. Por favor, não. - Para. Para de mentir para si mesma. Olha para você - seu dedo apontava para meu rosto - olha essa casa - seus braços se abriram para mostrar minha sala. - Tá a mesma coisa de 2 anos atrás. Você tá perdida, tá na merda. Por que não assume quando todos já veêm isso? Já passamos por isso uma vez e vamos passar de novo. Ela foi embora, aceite. Não é só você que sente a falta dela. Por que se engana se...

- O que? O que quer que eu diga? QUE EU TÔ MORTA E VAZIA? QUE NÃO CONSIGO DORMIR, COMER, TOCAR, NEM RESPIRAR SEM QUERER CHORAR? - Meus gritos saíram de forma arrastada e dolorosa, eu me odeio por isso.

A sua força me encantava, me encorajava. Você era a melhor parte de mim. Sem você, eu sou fraca. Sou apenas um nada.

- Eu quero superar, mas eu não consigo. Desapegar? Isso é impossivel. Eu toco nas coisas dela e seu sorriso me vem a mente. Como vou sobreviver sem esse sorriso? - Meu sussurro era fraco. Lágrimas caíam e eu não as segurava mais.

- Se quer superar, então primeiro precisa aceitar. Sua negação já durou de mais. - Ele se aproxima e me abraça.

Seu abraço era quente e acolhedor, e agora, eu estou mais fria e abandonada que nunca.

Colin se foi tem uma hora, e eu, continuo no sofá olhando os retratos da Volúpia e chorando. Superar..

Se eu superar... estarei te traindo Volúpia? Trairei sua memória? Você está em mim, mas não é o suficiente.

Pego uma caixa grande e guardo todos os quadros de Volúpia. Aceitar e superar.

Lágrimas caíam. A saudade, o medo, a aceitação. Tudo rasgava meu coração.

Coloco a caixa no porão e pego outra. Meu quarto é o próximo. Suas roupas, seu traveseiro, seu urso. Tudo dentro de uma enorme caixa, desligando meus sentimentos, eu me sento. Olhando as caixas, eu aceito. Eu não quero te esquecer... Encontro uma jujuba perdida entre os objetos na gaveta da cabeceira. Coloco ele entre meus lábios e fecho os olhos. Quero me encontrar com você. Onde você está? Porque não me levou junto? Se fosse para me destruir que fosse de uma vez. Jogo a jujuba dentro da caixa com os demais objetos.

Tem como esquecer você? Porque, se tiver, eu não quero descobrir como. Não posso esquecer da melhor parte de mim.

Tranco o porão e tomo um banho. Pela primeira vez, me olho no espelho. E entendo o porquê das preocupações.

Eu me sinto quebrada, mas não é sempre assim depois de tamanha dor?

Passo base para cobrir as olheiras. Primeiro passo: exteriormente... bem.

Vou as compras e levo algumas coisas para pôr nos espaços vazios da casa. Passo pela loja Dimanche, sabe? Aquela em que você fazia questão de parar na frente para imitar as poses dos manequins bizarros que ficam expostos. Era sempre a mesma palhaçada e mesmo assim sempre me fazia rir.

A chegada da Lua me pegou de surpresa e ao ver as mudanças jogou a mochila no chão e correu para me abraçar.
- Você tá bonita, mamãe - seu sorriso agora era verdadeiro e suas lágrimas me fragilizaram.

Frágil... eu não era a única que sentia sua falta, mas era a única que me prendia a isso.

Ao anoitecer, me deitei e chorei. Mais baixo e com um sufoco menor. Volúpia, por quê me deixou?

Apesar de tudo, eu sempre vou te amar. Seu lado ruim era só uma atração a mais. Nenhuma alma é tão brilhante como a sua. Obrigada por ter me feito ser a minha melhor versão.

E chorando eu adormeço para acordar novamente, dessa vez sem pesadelos. Só sonhos com nossos melhores momentos... Eu nunca vou te esquecer porque você faz parte de mim. E eu não vou te decepcionar.

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