Catarine e Natalie

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Catarine era CEO de uma das maiores empresas da cidade, solteira, ambiciosa e claro, uma celebridade que não tinha nada de superficial. Ela andava livremente sem medo pelas ruas da cidade, conhecida por todos por sua caridade, frieza no mundo corporativo e claro, ser tão bela e ainda sim solteira. Ela levava a vida bem do jeito que queria, todos na sua empresa a idolatravam, todos os paparazzi a seguiam e várias garotas queriam ser como ela ao crescerem. Um exemplo vivo a ser seguido por muitos, menos Natalie que era totalmente o oposto da heroína da cidade.

Natalie era uns 13 anos mais jovem, não tinha dinheiro algum, não tinha uma carreira e vivia nas ruas da cidade. Desde que seus pais morreram num acidente de carro, seu tio tomara tudo que era seu. Abusara e jogara a adolescente no olho da rua. Natalie era uma ninguém sem futuro algum. Tudo que sabia da vida era como sobreviver sem ter que matar alguém. Já que a sua cidade tinha uma ricaça que fornecia abrigo aos moradores de rua; Natalie vez ou outra conseguia descolar uma comida quando tinha sorte. Além disto, o número dos moradores de rua havia aumentado consideravelmente nos últimos 10 anos. Catarine não queria nada com a vida política da cidade, mas tentava fazer o que podia ajudando aos mais necessitados.

Vez ou outra a CEO contratava pessoas menos favorecidas para trabalhar em sua empresa, o conglomerado de homens brancos sujos que ela tinha que enfrentar todos os dias a deixava estressadíssima. E a única forma dela esvaziar aquilo tudo era esquecendo da sua vida um pouco, fazendo caridade aos pobres e largando todos os seus bens materiais. Catarine decidira usar a atenção que tinha para furar o sistema opressor que tanto odiava e usá-lo a favor dos pobres. Toda entrevista que dava na TV sempre vinha com a pergunta sobre ela se candidatar ao cargo de prefeita da cidade, e apesar de levar seus atos políticos às ruas; ela jamais queria entrar no joguinho dos meninos que a cercavam.

Foi num final de semana, distribuindo almoço em um de seus abrigos, que Catarine encontrou com Natalie. A jovem parecia ter uns vinte e poucos anos, usava roupas masculinas rasgadas e parecia estar sem um banho por pelo menos 3 dias. Uma das coisas que Catarine mais gostava em passar seu tempo com os não privilegiados era ouvir suas histórias, saber de onde vinham e para onde iam. Manter os abrigos não era fácil, mas ela tentava dar o seu máximo contra o sistema: ajudar no que fosse possível essas pessoas e sempre havia fofocas por trás dos reais motivos da empresária. Ela claro, tentava sempre deixar tudo sempre muito transparente sobre o assunto. E o que ninguém naquela cidade entendia era porque a mulher rica e milionária preferia andar com os pobres e ajuda-los ao invés de ter uma vida pessoal e viver do bom e do melhor.

Catarine era um mistério, e naquele final de semana ao ouvir várias pessoas a única que não falou nada sobre si mesma tinha sido Natalie. Pela primeira vez ela vira um vazio no olhar da jovem, não havia medo, esperança, nem mesmo desprezo pelas diferenças dela para com Catarine. Talvez tenha sido o fato da caridade que tenha levado Natalie a procurar saber mais da CEO. Ela sempre a via na capa de jornais e revistas velhas espalhadas pela cidade, mas nunca de fato parara para ler. Foi justamente por não entender este fator que Natalie começou a procurar saber mais da outra. Ela pegava uns jornais para ler quando se lembrava, não entendia bem o motivo por trás daquilo assim como todo o resto do mundo. Só que naquela primeira tentativa de conversa, algo fascinara a jovem.

Catarine não era tão velha assim, escondia uma tristeza no seu sorriso e era notável. Também dava para perceber o peso e cansaço por trás dos seus olhos negros que sempre estavam escondidos por óculos escuros nos tabloides. Natalie era boa em ler pessoas também, isso ajudava quando ela ia roubar comida ou fugir de um possível estuprador na rua. A lei da sobrevivência lhe dera alguns dotes como estes, mas também a fizera descrer das pessoas. Natalie topara com seu tio algumas vezes anos após perder tudo, jurara que iria mata-lo antes de morrer; mas ainda não sabia como. Com toda aquela situação de pobreza, descontrole econômico e caos pelas ruas de Walak, ia ser difícil matar alguém como seu tio e ainda assim não ser notada.

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