Julia, Lila e Rafa

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A mais nova contratada do setor de Julia tinha começado a pouco no escritório, mas a tensão entre ambas era enorme. Rafa era eficiente e dedicada, mas quando cruzava com sua superior não escondia seu interesse por mais que soubesse que ela era casada. E por mais que Julia tentasse esconder, às vezes dava ar a sua imaginação, deixando os outros colegas de trabalho sem saber o motivo de tantos suspiros e caras apaixonadas. Ela pensava em como seria o cheiro de Rafa após sair de um banho quente, nos toques daquela pele morena que parecia sempre estar quente e energética... E mesmo assim, seus devaneios não podiam ir além. Sonhar era bom, mas ela amava sua esposa e claro, jamais faria algo para estragar tudo que conquistara até ali.

Rafa notara o sorriso da mulher logo de cara, ao decorrer dos dias viu o nervosismo instalado pela sua presença e achou engraçado a forma de como as coisas iam indo no novo ambiente de trabalho. Fora dali, sabia que ela era totalmente diferente, mas decidiu aproveitar o divertimento que estava tendo por um tempo. Achava sua superior bonita, inteligente e a admirava. Mas Julia já estava criando sentimentos e até então era só cautelas e observações com ela. Divertia-se melhor assim, sem machucar ninguém e colocar seu casamento em risco.

Era uma manhã de domingo quando Lila estava abrindo os olhos na cama, quando percebeu a esposa na janela coberta com os lençóis vendo o nascer do Sol. Sorriu em felicidade, amava as costas cheia de sinais dela. Levantou-se para abraçá-la e beijá-la, sabia que Julia adorava receber carinhos pela manhã. Ao ser abraçada por trás, ela enxugou uma lágrima que escorria pelo seu rosto e virou-se para olhar sua mulher, já não podia mais continuar mentindo para si e muito menos para ela. Então finalmente acabou admitindo o que havia reprimindo dentro de si há alguns meses: estava apaixonada por outra.

Lila tinha percebido a mudança em seu comportamento nos últimos meses, mas preferiu esperar o tempo dela contar o que a estava incomodando. A intimidade e o respeito do casal pairavam sob qualquer circunstância de insegurança. Contudo não era algo que ninguém gostasse de ouvir e aquilo a deixou preocupada ao ponto de ficar um tempo sozinha na cozinha do apartamento. Lila estava machucada suficiente para não aguentar os choros e pedidos de desculpa da mulher, quis inclusive por um breve instante pegar uma mala e ir para a casa de seu melhor amigo por alguns dias. Mas sabia que não era a melhor solução, a menos que realmente quisesse a separação. Estava de cabeça quente imaginando as cenas entre as duas no ambiente de trabalho, ouvir a confissão de alguém que tinha tentado evitar tantos sentimentos, mas que no fim não conseguia conciliar a confusão dentro de si.

Ao ser questionada pela esposa em prantos na suíte do casal, Julia engoliu em seco e disse simplesmente que não sabia o que fazer diante de tudo. Sabia que o sentimento era passageiro e agora estava aliviada em ter dividido aquilo com a esposa, mas a culpa ainda a atormentava. O medo de perdê-la não passava por dentro de si desde antes do casamento e agora era ela quem estava balançando as estruturas por não conseguir tirar Rafa de sua mente. Lila sentia como se alguém tivesse lhe socado o estômago e agora sua boca parecia cheia de pó ao ouvir aquelas palavras. Seus medos também voltaram à tona diante da situação, não conseguiu comer ou falar nada durante o resto do dia.

O domingo passou demoradamente entre silêncios, idas e vindas solitárias diante do evitar de encontros das duas no local. Até que finalmente Lila decidiu abraçar sua esposa no final da tarde.

- Vai ficar tudo bem. - Disse, mesmo perdida e sem saber direito como lidariam com a situação.

Estava claro nos olhos de Julia, uma felicidade enorme ao voltarem a conversar sobre o assunto. E por mais que as palavras doessem, ela decidiu tentar entende-la e compreender que não precisava ter tanto medo assim de perdê-la. Respeitar o sentimento dela e ainda sim saber que poderia ser passageiro, tinha sido uma das coisas mais difíceis que ela fizera até ali. E apesar disto, havia tempo que não ouvia a voz dela com tanta doçura e aquele brilho em seus olhos; chegava até ser algo platônico, mas não tardou para ela começar a sentir ciúmes disso. Algo que ela também não sentia há muito tempo, principalmente pela esposa.

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