Larissa e Alice

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Larissa era uma empresária bem-sucedida. Era alta, de cabelos longos e tinha o hobby de surfar quando podia. Era bem tradicional ao ponto de ter um restaurante favorito no centro. Era uma cliente VIP da casa e não ficou contente ao saber que um dos garçons mais simpáticos tinha sido substituído por uma garota que não falava quase nada. Alice estava tentando ganhar a vida na cidade grande e aquele emprego que conseguiu em um restaurante de renome tinha sido perfeito. Era um lugar muito chique, então a maioria dos clientes a deixava desconfortável com sua presença. Ela era uma garota simples e com a ambição apenas de ser feliz, só não queria fracassar naquela nova etapa de sua vida.

A empresária comentava sempre com o gerente que andava insatisfeita com a mudança no quadro de funcionários, o ex-garçom estava sempre sorrindo para os clientes demonstrando toda sua simpatia. Já aquela nova menina tinha o olhar vago, quase distraído e era quieta demais para o seu gosto. Após desistir de convencer o gerente, ela tentou conversar com o dono. Afinal, ali era um ambiente requintado demais para caras fechadas, mas falhou. Descobriu que a novata era simplesmente sobrinha dele. Nada faria a garota ir embora. Então ela refletiu um pouco sobre a situação. Suas tentativas de abertura de diálogo sempre falhavam, então decidiu ignorar a existência da jovem nos meses seguintes. Alice ficava nervosa toda vez que a loira de salto entrava no seu ambiente de trabalho; sentia um arrepio frio pela espinha, e notava sempre que ela tentava ser simpática. Sabia que precisava mudar aquilo no seu atendimento e acabou descobrindo que ela era uma cliente VIP, então não adiantaria tentar bater de frente com aquela mulher e perder a oportunidade daquele emprego.

Nos meses seguintes, ela tentou trocar os horários de trabalho para fugir da cliente, mas acabou descobrindo que quase cem por cento das refeições semanais da mulher eram feitas ali independente de horários. Foi no intervalo de um expediente e outro ao sair de uma cafeteria para voltar ao trabalho que viu Larissa andando de salto e óculos escuros na rua, pensou em fugir ou trocar o lado da calçada. Mas não podia se atrasar para o seu turno e ela estava caminhando justamente em sua direção. A empresária parou, percebeu que a garçonete se intimidou ao vê-la e quis rir daquilo com satisfação. Lhe cumprimentou, mas tirou os óculos para lhe falar algumas coisas. Não foi rude e nem fria, mas se elas teriam que conviver que fosse da melhor maneira possível.

Mesmo depois daquele encontro, Alice ainda gelava toda vez que topava com a mulher no restaurante. Ela não tinha acreditado na dica que tinha recebido da loira.

- Não é só por mim, seu tio e os clientes dele também vão agradecer. Você vai ver. - Disse referindo-se a simpatia de maneira geral.

E de fato, tinha sido de grande ajuda, agora ela recebia mais gorjetas dos clientes. Mas não de Larissa, mesmo que o gelo no atendimento tinha sido quebrado, ela agora aproveitava suas refeições contando com a simpatia da garçonete de bom grado.

Em uma de suas noites de folga, a empresária saia sempre com as amigas para se divertir. Em uma dessas saidas tinha ido correr no parque e depois foi lanchar em algum fast food fugindo de sua dieta quase que como um segredo. Dirigindo de volta para casa pela cidade, viu a garçonete na frente de um bar encostada numa parede. O sinal parado a fez notar Alice fora do trabalho e esqueceu-se do semafaro que agora estava aberto. Foi quando o motorista de trás buzinou que Alice percebeu quem estava no carro da frente e ao vê-lo com uma expressão estressada foi até o carro e pediu para entrar. A motorista abriu a porta sem entender muito bem, mas a buzina continuava.

- Segue. - Disse a carona no banco da frente do carro que agora também notava a diferença de roupas da empresária.

O carro seguiu por algumas ruas e ambas estavam em silêncio após uma briga ter sido evitada no sinal.

- Onde você mora? - Foi a única coisa que Larissa pode dizer, estava meio chocada com a atitude da garota, porém grata e o mínimo que podia fazer era deixá-la em casa.

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