Sarah e Julia

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Sarah era uma mercadora das antigas, quem pagasse mais tinha seus serviços. É claro que para contratar uma assassina como ela não era fácil. Foi quando ela estava em contato com donos de cartéis mexicanos que ela recebeu a ligação do seu próximo trabalho. Seu novo alvo se chamava Julia e ela trabalhava numa cafeteria no meio do Texas, nada de novo para a assassina. Geralmente os alvos mais sem histórico eram herdeiros de algum homem super rico ou superperigoso, o qual chamavam de bastardos na antiguidade. Matar zé ninguéns era mais fácil e algumas vezes rendia um bom dinheiro, então ela acabou aceitando o trabalho.

Sarah chegou na cidadezinha como quem não quer nada, Julia trabalhava no café como garçonete. Tudo que ela sabia era que seu alvo não tinha alguma noção do que lhe aguardava, ser uma agente da morte acalmava a assassina internamente. Particularmente ela odiava marcar pessoas para a morte, então decidiu observar seu alvo mais de perto. A garota era mais alta, tinha cabelos castanhos longos e um sorriso meigo demais para alguém que trabalha diretamente com o público. Uma bala no meio da testa resolveria, nada de muito animador ou excitante. Ela tinha três dias para concluir o trabalho ou seus próprios clientes a cancelariam, ou seja, iriam atrás dela e fariam uma chacina digna na pequena cidade no meio do Texas.

Verdade que aquele calor lhe irritava, e dentro do café parecia uma fornalha ainda maior. Ela pediu um misto quente e dois milkshakes ao longo do dia que passou observando Julia, que parecia conhecer todos os clientes da cidade e óbvio também tentou puxar assunto com aquela estranha. A garçonete gostava de papear, e quando ganhou a vaga anos atrás decidiu tirar proveito daquilo. Agora, ela sonhava em juntar dinheiro suficiente e ir morar em outro lugar, entrar para uma Universidade; uma pena ela não saber que era a filha bastarda de um bilionário que estava em seu leito de morte do outro lado do país e só tinha ela como herdeira. Por mais que ele sempre tivesse tentado entrar em contato com a filha, a mãe dela fizera o dever de casa ao se afastar do garotinho rico da escola que a engravidara.

Julia tinha perdido a mãe dois anos atrás para o álcool, e agora era a filha queridinha da pequena cidade. Muito disto também vinha da sua simpatia e empatia com as pessoas. Contudo ao contrário dos visitantes passageiros da cidade, ela não conseguira arrancar muita coisa da estranha loira de jaqueta marrom. Os cabelos lisos dela e a forma como o Sol batia em seu rosto a distraiu o dia inteiro, porém nenhuma forma de contato tinha tido sucesso. Foi quando ela tinha desistido de falar com Sarah, que ela pediu a conta e se retirou dali. Algo naquela mulher tinha um ar de perigo e todo e qualquer mistério sempre deixara a garçonete intrigada.

Sarah tinha se hospedado na pensão da cidade, parecia algo de filme antigo de faroeste. Das cortinas ao mesário do quarto, aquilo a divertia. Os diferentes cenários do tipo de vida que levava eram uma das coisas que mais lhe agradava, os diferentes rostos nas ruas, os diferentes lugares, nada de mesmice ao longo dos dias que se passavam. Ela era de fato uma alma viajante e se considerava intima da morte de uma forma quase como religiosa também.

À noite ela decidiu ir ao bar, ver se enfrentaria algum problema ao esconder o corpo robusto de Julia. Homens bêbados sempre falavam demais e mostravam seu lado mais vulnerável, o que ela não esperava era ver que parte da cidade conseguia mesmo se acomodar no salão pequeno do bar e viu que sua presa estava conversando com uma mulher mais velha do outro lado. A garçonete percebeu que a viajante estava no bar bastante deslocada, que ela podia beber e que de alguma forma ela estava mais atraente do que durante o dia. Julia não era conhecida na cidade por sua vida amorosa e muitos comentários e perguntas eram feitos sempre a respeito de sua sexualidade; algo que ela sempre lidava com discrição.

Após a terceira dose de bebida no bar, Sarah percebeu que Julia tinha sentado ao seu lado. Apesar da cara de princesinha da cidade, até mesmo o bartender respeitava que a garçonete bebia bastante. Ela não bebia como a mãe, mas sua tolerância ao álcool era alta o bastante. Ela também nunca bebia mais do que duas doses e percebeu que assim como anteriormente, a estranha não estava para conversa. Então mudou de postura, não tentou puxar assunto ou nada. Sarah decidiu sair do bar, já tinha visto o que precisava e ouvido também. Precisava dormir para completar sua tarefa no dia seguinte.

Julia a seguiu pelo beco lateral do bar, pediu para que ela esperasse um pouco mas falhou. A estranha continuou andando, até ser parada pela garçonete que agora segurava seu braço. Não havia ninguém ali ou algum sinal de vida por entre as ruas, Sarah poderia ter aproveitado a chance para matá-la, carregar o corpo e sair daquele fim de mundo o mais rápido possível. Por um momento ela ficou presa nos olhos caramelos brilhando no meio da escuridão. Não soube bem o que dizer e pareceu um pouco tímida ao tentar encontrar as suas palavras. Sarah a agarrou pelo pescoço e a encostou à parede do prédio com raiva, aquela era a primeira vez que sua presa se dirigia a ela diretamente e que ela mesma pensou duas vezes antes de matar.

- O que você quer, garotinha? - Ela apertava o pescoço de Julia com força. O que não era tão difícil assim pela diferença física que existia, mas acabou folgando um pouco para obter uma resposta.

- Eu...Eu só queria saber o seu nome... - Sarah não responderia àquilo, mas era cômico o poder que tinha em suas mãos, ela aproveitou aquilo antes de soltar a garota.

- Siga-me se quiser sua resposta. - Era tarde da noite e a garçonete a seguiu em silêncio até a pensão da cidade, ignorando se alguém a veria ou o que pensaria daquilo.

Seria a zé ninguém mais fácil de matar, aquela garota não poderia ser tão burra, pensava a assassina. Ao mesmo tempo que imaginou mil cenários diferentes em sua mente para executar aquela tarefa ali. Já Julia, sentia que podia confiar naquela estranha por algum motivo. OU simplesmente estava tentada a ir para a cama com ela.

Ao fechar as portas do quarto, Sarah pensou mais uma vez em matá-la e surpreendeu-se quando Julia tirou a jaqueta, percebendo seu corpo melhor agora. O ato a irritou ao mesmo tempo que a confundiu. Julia não tinha entendido bem o motivo da estranha lhe levar até ali, mas estava disposta a sair dali pelo menos sabendo de seu nome, uma vez que ela até então não lhe dissera. Ela também ainda estava com o pescoço doendo, e agora era tomada por uma sensação estranha de excitação e perigo, que foi lhe dando um certo tesão. E mesmo com medo de s jogar no escuro, ela acabou o fazendo. Julia se dirigiu para beijar a visitante.

Sarah retribuiu o beijo. As atitudes de Julia não correspondiam de maneira alguma a de suas presas, então durante o sexo ela pensou em relaxar e se divertir um pouco com a situação. Não seria também a primeira vez que mataria alguém pós sexo. Na manhã seguinte, a assassina acordou num pulo da cama e percebeu que tinha adormecido ao lado da mulher que precisava matar, e pela primeira vez sentiu uma sensação de paz sem precisar estar executando alguém. Decidiu então se estender até a noite com aquilo, elas não falaram muito ou conversaram. De alguma maneira nomes não importavam ali dentro daquele quarto e tinha sido o primeiro dia na vida que a garçonete perdia um dia de trabalho.

O que a assassina não percebia eram as horas se passando enquanto ela e sua presa adormeciam. Na manhã do terceiro dia ela e a garçonete foram acordadas aos tiros pela janela da pousada. Sarah nunca passara por um trabalho falho na vida, mas sabia que tinha que sair do prédio com a garota, aos trancos e barrancos elas conseguiram e a assassina carregou consigo duas armas que tinha conseguido levar consigo na fuga.

- Eu sabia que você estava fugindo de algo! - Gritou Julia ao chegarem na rua. Sarah optou por pegar os lugares onde podia ficar de cobertura aos tiros que estava sofrendo. Ela contou rapidamente três atiradores em cima de prédios, mas sabia que seus contratantes não mandariam apenas eles atrás dela e da tal herdeira.

Ao tentar explicar toda a situação, a assassina percebeu que estava contando toda a verdade diante do caso e finalizou:

- E se você quiser não ver a minha cara nunca mais na vida, tudo bem. Mas no momento eu tenho que lhe levar para algum lugar seguro. Eles vão te monitorar e mandar outros atrás de você.

Até o final daquele dia, elas já tinham conseguido sair da cidade, Sarah tinha matado cinco pessoas na frente da ex-garçonete, que não fazia ideia do que iria acontecer com a sua vida, mas sabia que podia confiar naquela mulher. Até o fim da semana seguinte elas conseguiram um lugar menos perigoso para a herdeira ficar, mas a assassina teria que ir embora. Ela prometeu que Julia poderia recomeçar sua vida, mas agora ela ganha um anjo da guarda protetor.

Algum tempo depois, Julia finalmente começou a ir atrás de seus sonhos sabendo que em algum lugar sempre, ela teria sua protetora letal à espreita. Decidiu não ir atrás da fortuna de seu pai, e esquecer o passado. Com o passar do tempo, Sarah aparecia vez ou outra e acabou ensinando Julia a se proteger. A estranha relação estabelecida pelas duas não era perfeita ou normativa, mas elas acabaram não se arrependendo de suas escolhas.

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