Chovia muito. Parecia que o céu via sua dor, e compartilhava dela. Um relâmpago eventualmente cortava o céu escuro, fazendo contraste por sua luz. Kirishima fitava com afinco o estilete em suas mãos. Os braços recentemente recuperados do último surto pareciam convidativos. Respirou profundamente. E o primeiro corte foi feito, o sangue quente e vermelho escorreu pela tez pálida pela falta de sol. Um sorriso trêmulo se desenhou na face molhada de lágrimas. As mãos tremiam, o corpo tremia. Os olhos rubros observavam as gotas de sangue se aglomerarem sobre o pequeno corte. Formando gostas maiores. Para logo em seguida escorrerem pelo pulso. A ardência não incomodava mais, o tempo levou o incomodo embora e deixou apenas a sensação de "liberdade". Trancado naquele pequeno banheiro. Sozinho, e tendo como companhia apenas um estilete e os próprios pensamentos. Kirishima fez mais cortes. E chorou mais lágrimas junto a chuva que caía lá fora. Tudo estava mais confuso do que de costume. Os sentimentos o sufocavam aos poucos. Aquela confusão de sentimentos que sentia o consumia e destruía aos poucos. Tudo porque não era "normal" segundo os padrões da sociedade. Tudo porque a sociedade fechada e preconceituosa via como errado o que sentia. Tudo porque amava outro homem. Um homem amar outro era uma coisa completamente mal vista naquela cidade pequena. E para a grande sorte de Kirishima, ele amava outro homem. Katsuki Bakugou, esse era o nome do dono dos seus sentimentos. Do dono do seu coração. E mais uma vez o choro voltou. Os soluços cada vez mais altos ecoavam pelo banheiro vazio. O ar entrava com dificuldade em seus pulmões pelo choro angustiado. Observava o sangue já seco cobrir alguns pontos da pele pálida. Com muito esforço levantou do chão frio. Se dirigiu até a pia, lavou os cortes com cuidado e novamente enfaixou os braços. Observou seu reflexo no espelho. Os olhos rubros cansados e cheios de tristeza, o rosto avermelhado e levemente inchado pelo choro tinha as marcas das lágrimas recém secas, os lábios ressecados e machucados pelas eventuais mordidas, e os cabelos bagunçados e embaraçados com a raiz já preta por fazer. Aquela era a visão completa do caos. Kirishima estava um caos por fora e por dentro. Quebrado. Suspirando saiu do banheiro, não ligando para a aparência já costumeira. Já se dirigia ao quarto quando batidas na porta chamaram sua atenção. Não estava esperando ninguém. Já era tarde quem estaria batendo em sua porta? Caminhou sem muita vontade até a ela. Com calma destrancou e abriu. Ergueu os olhos pra fitar quem o incomodava e deu de cara com olhos rubros como os seus, cabelos loiros espetados pra todos os lados e uma expressão entediada e um pouco brava. Aquele era Katsuki Bakugou. O homem que amava. O dono dos seus pensamentos e sonhos. E também o motivo do seu choro. Bakugou o olhou de cima a baixo. Aqueles olhos duros fizeram Kirishima se encolher. Não trocaram palavra alguma. Bakugou apenas entrou no apartamento com os passos duros. Kirishima tratou de fechar e trancar a porta outra vez. Se virou para olhar o loiro e se surpreendeu ao vê-lo tão perto.
-Você fez de novo- acusou o loiro pegando com forçar um de seus braços.
Kirishima se encolheu diante a acusação. O loiro bufou irritado.
-Ja falei pra você- o loiro o fez olhar em seus olhos- isso só te faz mais mau.
Kirishima outra vez voltou a chorar. Mas, dessa vez tinha os braços do loiro para ampara-lo. Katsuki aninhou e acolheu o namorado com carinho. Carinho esse que só dirigia ao ruivo. Passou os dedos de forma delicada pelas madeixas embaraçadas, em um carinho calmo. Sentia o ombro da blusa ficar molhado aos poucos, mas não ligou. Apenas acolheu e amparou o menor, até este estar mais calmo. Depois que Kirishima parou de chorar. Os dois se acomodaram no sofá, Kirishima deitado no colo do loiro, enquanto este fazia carinho em seus cabelos.
-Vai pintar o cabelo de novo?- o loiro perguntou distraidamente, enquanto mexia nos cabelos dele.
-Acho que sim- o ruivo respondeu, a voz soando baixinha e cheia de sono- não tenho certeza.
Katsuki assentiu, imaginando como Kirishima ficaria com os cabelos pretos naturais. Kirishima se ergueu devagar do colo do loiro. Sorrindo com afeto pro mais alto. Bakugou amava aquele sorriso, seu Kirishima ficava muito melhor sorrindo. Os lábios se encontraram, as línguas matara saudade se enrolando nas bocas de um jeito único, só dos dois. As mãos de Katsuki fazia carinho no rosto de Eijirou. Se separaram quando o ar se fez necessário. Sorrindo um para o outro. Naquela noite Bakugou ficou com Kirishima. Ambos deitaram e se aninharam nas cobertas e nos corpos um do outro. E dormiram tranquilos. Com a certeza de que não importava o que a sociedade fechada e homofóbica pensasse. Eles se amariam do mesmo jeito, e sempre teriam um ao outro para se apoiar. Amavam-se acima de tudo e acima de todos.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Histórias
FanfictionEu posto muitas histórias com capítulo único, então resolvi juntar todas elas e deixar aqui