O vento bagunçava ainda mais os cabelos loiros, os olhos castanhos olhavam em volta analisando a altura do prédio. As falas do moreno ainda se repetiram de forma frenética em sua mente, pareciam ter sido ouvidas naquele mesmo momento.
Me desculpe Kise, eu não posso retribuir seus sentimentos... Estou com a Momoi a seis meses já.... E você não é uma garota.
Com calma forçada o loiro se sentou no parapeito do terraço, os olhos repletos de lágrimas novamente se voltaram pra lua cheia que iluminava aquela noite fria. Os pés agora balançavam sobre a rua lá embaixo, onde os carros seguiam seus rumos velozes e alheios ao garoto sentado no alto do prédio. Se ele se jogasse quem ligaria? Os pais? Não, eles estavam mais interessados com o trabalho. Os amigos? Talvez, mas logo passaria. Aomine? Definitivamente não! Os soluços voltaram com força sacudindo o corpo magro do loiro, as palavras do moreno ainda em um replay infinito em sua mente.
-Eu não sou uma garota, haha.-sussurou pro vento, rindo sem humor algum.
Com as pontas dos dedos percorreu o peito reto, desceu os dedos até chegar ao cós da calça.
-Eu não sou uma garota.- sussurou mais uma vez, agora chorando amargamente.
A mão subiu até chegar ao rosto, os dedos finos traçaram os contornos das feições e se molharam pelas lágrimas. Um soluço escapou outra vez.
-Não sou...- murmurou agora quase sem som.
Com a mão que não estava no rosto o loiro puxou o celular do bolso, digitou rapidamente o número conhecido. Tocou duas vezes e ele finalmente atendeu.
-Alôu?- a voz grossa de Daiki soou um tanto irritada do outro lado da linha.
-Me perdoe.- não foi mais alto que um sussurro.
-O quê?- o moreno perguntou confuso.
-Me perdoe por não ser realmente uma garota.- a voz chorosa dessa vez gritou e o celular foi atirado longe, caindo e caindo até chegar ao chão e se quebrar em milhares de pedacinhos.
A verdade era que Kise não aguentava mais, todos aqueles anos sufocantes, todos aqueles dias de tortura. Ele só queria poder ser ele mesmo, ou melhor, ela mesma. Mas não podia, não era certo, era anti-natural, era sujo, era pecado e a cima de tudo: era uma deshonra pra família. Foi isso que o pai disse quando contou não foi? Era isso que importava não era? O choro veio muito mais forte agora, olhando uma última vez pra lua resolveu que era hora de dar um fim aquilo. Respirou o mais fundo que conseguiu e juntando toda a pouca coragem que tinha se jogou pra frente, e caiu. Caiu e caiu assim como o celular fez antes, mas quando seu corpo bateu no chão não passou despercebido. Todos na rua pararam assustados, alguns desesperadamente tentaram chamar ambulâncias, mas já era tarde. O sorriso fraco nos lábios agora mortos mostrava que finalmente a garota tinha atingido o limite, e buscado a solução mais desesperada que conseguiu de achar paz.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Histórias
FanfictionEu posto muitas histórias com capítulo único, então resolvi juntar todas elas e deixar aqui