Salvação (KuroKen)

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Os olhos felinos não desviavam do Nintendo em suas mãos. A touca mantinha os fios tingidos de loiro escondidos, não era a primeira vez que saia de casa sem rumo e sem data pra voltar. Mas era a primeira vez que não queria de fato voltar. Os olhos do meio loiro se desviaram levemente para a direita, a visão estava meio obstruída pela touca mas conhecia bem de mais aquele corpo para não reconhece-lo. Kuroo Tetsuro tinha acabado de embarcar e sentar-se ao seu lado. A cabeça do meio loiro se aconchegou na curva do pescoço do moreno. Os olhos instantâneamente se encheram de lágrimas, estas que o de fios tingidos secou antes que caíssem.

-Eu não aguento mais aquela casa Kuroo.- a voz baixinha soou chorosa e o corpo menor se aconchegou mais ao moreno.

-Ooh meu gatinho eu não suporto te ver assim, detesto seus pais mesmo não os conhecendo.- a mão grande do atacante começou a acariciar a cabeça do menor por sobre a touca.

-Se conhecesse não ajudaria.- tentou brincar mas um soluço escapou da garganta.

Kuroo o aconchegou mais a si e sentiu quando as primeiras lágrimas caíram de encontro ao tecido da sua blusa. As lágrimas já não eram mais seguradas pelo meio loiro. O rosto continuava escondido no pescoço do mais velho, este que acariciava as costas do pequeno que tremiam pelos soluços contidos. O ônibus continuava a rodar pela cidade levando o garoto para onde ele mais queria ir, pra longe daquela casa. Aquela casa onde ninguém o entendia, onde todos o julgavam, onde o único conforto e alento que sentia era o de sair de lá. Tudo porque a mãe simplesmente não conseguia aceitar que o filho mais novo era um "viadinho", tudo porque o pai não tinha opinião própria e seguia a risca tudo que a mulher dizia como se fossem leis, tudo porque o único que o entendia e apoiava estava agora em outro país estudando direito. E ele continuava lá naquele maldito inferno, naquela maldita casa e com aquela mulher horrível que tinha como obrigação chamar de mãe. Secou as lágrimas com força, decidido a não chorar mais por causa daquela cretina. Ergueu os olhos dourados pra fitar os negros do melhor amigo e namorado.

-Eu não vou mais voltar pra lá.- a voz soou firme e sem brechas pra contestando.

Kuroo viu nos olhos do seu gatinho o brilho da determinação, e isso o fez sorrir.

-Se você não quer voltar não volte.- um sorriso se desenhou na face avermelhada pelo choro- Você pode ficar no meu apartamento.

Os braços do falso loiro apertaram com força o corpo do namorado, era seu jeito de agradecer sem recomeçar a chorar. Desceram juntos na parada mais próxima ao prédio do Tetsuro e caminharam até lá com calma.

-Trouxe todos os matérias?- o moreno perguntou bocejando.

-Sim, ainda tem roupas minhas na sua casa né?- perguntou enquanto vasculhava a mochila em busca do carregador, apenas para conferir que sim ele estava ali.

-Tem sim, acho que todo o seu guarda roupa está lá.- a risada do moreno contagiou o meio loiro.

Ambos os garotos subiram rindo até o quinto andar do prédio, entraram no 503 sendo recebidos alegremente por Maitê a gatinha do moreno. A gata se esfregou e ronronou alegre em volta de Kenma, fazendo um moreno olhar emburrado a cena.

-Ela me odeia mas é só ver você que vira um amor.- a fala emburrada fez novamente o de fios tingidos rir.

Kenma fez um leve carinho nos pelos malhados da gata e abraçou com força o namorado.

-Obrigado por tudo- agradeceu baixinho apertando o maior no abraço- Você foi minha salvação.

-Eu sempre vou ser seu salvador.- garantiu o beijando.

O beijo foi calmo e carinhoso, demonstrava todos os sentimentos não ditos em voz alta. O amor era palpável naquele ambiente. E de fato Kenma não voltou pra casa, ele já estava em casa.

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