I'm trans

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Como contar? Essa era a pergunta que mais atormentava os pensamentos do moreno, como contaria pro Iwa-chan tudo aquilo que estava acontecendo? Já era difícil lidar com tudo aquilo em casa e ouvir os comentários ácidos e ofensivos da mãe, não aguentaria se seu Iwa-chan fizesse o mesmo isso quebraria seu coração e ele nem estava sendo dramático dessa vez. Já tinha pensado em várias formas de contar desde uma carta até mensagem ou até mesmo gritar pra ele em um dia de treinos e sair correndo depois, essa última era realmente tentadora porque envolvia se trancar em seu quarto e chorar rios depois dos gritos, realmente terapêutico.

Mas a forma que foi a escolhida foi a mensagem, era simples seguro e poderia bloquear o contando dele depois se a reação fosse negativa, realmente apenas pontos positivos. Então agora só restava saber o que escrever o que estava sendo uma tarefa realmente difícil já que Oikawa era péssimo com palavras, mas ele conseguiria nem que pra isso precisasse levar a noite todinha. E ele levou! No fim a mensagem ficou mais ou menos assim:

     Ei Iwa-chan!! Tá acordado? :Me

E depois dessas quatro palavrinhas soltou o celular na cama a espera da resposta, eram três da manhã provavelmente ele não seria respondido na hora então estava quase aceitando esse fato e indo dormir quando o celular apitou. Era ele.

Iwa-chan: Tô do que precisa uma hora dessas? 

Passou os olhos pela mensagem umas cinco vezes antes de abrir o teclado pra responder.

       Eu só... Preciso contar algo. :Me

Okay a conversa estava correndo normal tudo bem até agora não tinha motivos nenhum para estar tremendo, ele só queria que suas mãos entendessem isso!

Iwa-chan: Fala então, eu lá sou adivinho?

Okay a grosseria talvez tenha feito sua coragem já abalada se abalar mais mas isso não seria comentado, ele só precisava falar logo.

                                                           :Me
Iwa eu... Aí droga escrever isso está sendo mais difícil do que eu pensei que seria... Bem eu sou trans! Não uma garota mas sim um garoto! Espero que respeite meus pronomes e que a gente possa continuar amigos!

E então fechou o aplicativo de mensagens e travou o celular, não queria e nem tinha estrutura o suficiente pra ler uma resposta dele sendo ela qualquer que fosse boa ou ruim, só não podia. Ouviu o celular apitar diversas vezes e até ouviu ligações mas não atendeu nenhuma, não podia e não conseguiria. A voz de sua mãe ficava sussurrando em sua cabeça lhe dizendo como estava erradA e como tudo aquilo iria passar e elA se arrependeria muito de tudo isso, mas elE não conseguia acreditar nas palavras da mãe não podia aceitar porque sabia que estava certO sobre como se sentia sobre si mesmO. Não tinha como tudo que sentia ser ou estar errado!

Se deitou entre os lençóis e sentiu os fios compridos do cabelo incomodarem e agoniarem ao entrar em contato com sua pele, os bips das mensagens pareciam cada vez mais altos e ele não aguentava mais ouvi-los, tinha que descontar toda a tensão e frustração em algo pra que não explodisse. Então se levantou e marchou até o banheiro encontrando o que precisava, sua tesoura estava lá como sempre aguardando pelo seu surto de coragem ou loucura qual viesse primeiro, então ele fez o que precisava fazer. Cortou todo o cabelo até que ficasse curto do jeito que sempre deveria ter sido.

Não conseguiu sentir nada além de uma grande euforia e pelo resto da noite as mensagens não foram um incômodo porque sua atenção toda estava em seu novo corte de cabelo.

///

Já eram quase dez da manhã e Oikawa não queria sair da cama por nada, estava tão gostoso ali com sua sensação de euforia pós corte de cabelo e seu conforto quentinho das cobertas grossas, não queria estragar aquilo com os comentários dela então resolveu que não sairia. Desligou o alarme que já estava na décima opção de soneca e ficou ali de olhos fechados apreciando a sensação boa e preguiçosa que o envolvia, nada era mais importante que ele mesmo naquele momento. Então ele ouviu o toque do celular de novo e lembrou dos acontecimentos da noite passada antes do corte de cabelo, tinha deixado Iwazumi sem resposta alguma.

Abriu o aplicativo de mensagens pra se deparar com a enxurrada de mensagens dele.

Iwa-chan: Oikawa?
Isso é sério mesmo?
Ei tá tudo bem ok?
Não vou te desrespeitar
Nunca faria isso!
Oikawa?
Oikawa pq não tá respondendo?
Ei cara relaxa!
Eu tô bem sim isso!
Nossa amizade nunca mudaria por algo assim!
Ok você não vai responder
Tudo bem na real eu entendo
Cê deve tá nervoso
Eu vou aí amanhã!
A gente conversa ok?
Você não precisa se preocupar comigo eu vou respeitar você
Te amo cara
Boa noite

Oikawa chorou por mais que tivesse tentado muito mesmo se impedir de derramar as lágrimas ele as deixou cair, mas então veio o surto pelo "Eu vou aí amanhã!" não sabia se ele realmente viria ou se falou aquilo como tentativa de chamar sua atenção para o chat mas agora estava uma pilha de nervos, parece que finalmente teria que deixar o conforto da sua cama.

///

Tooru estava pronto quando Hajime chegou em sua casa os dois subiram pro quarto em silêncio, Oikawa fechou a porta antes de ir sentar na cama junto ao amigo.

– Esse corte de cabelo ficou bom em você. – Foi a primeira coisa que o Hajime disse assim que ele se sentou, Oikawa abriu um sorrisinho sentindo aquela euforia voltar ao seu peito com o comentário, estava indo tudo bem.

– Obrigado eu que cortei… – O moreno agora mexia nas pontas dos cabelos curtos.

Iwazumi sorriu pra ele era realmente bom vê-lo relaxado e sem aquele peso que sempre percebeu no amigo, Oikawa sendo ele mesmo era uma cena linda de se presenciar.

– Fico feliz de ter me contado antes do seu aniversário.

– Ah?

– Não sabia o que te dar, agora sei.

– Sabe? E o que vai me dar?

– Um binder ué.

Pronto agora as lágrimas voltaram a correr pelo seu rosto em seu caminho até seu queixo, o moreno puxou o amigo pra um abraço chorando baixinho contra seu peito, não esperava por aquilo nunca esperou.

– Obrigado Iwa-chan!

– Não agradeça… Qual seu nome? – O questionamento saiu de forma tímida, Hajime só havia se tocado naquele momento que ainda não sabia.

– Tooru. – O moreno sorriu com um ar de riso.

– Não precisa agradecer Tooru!

Os dois sorriram e depois disso passaram o dia na cama assistindo suas séries preferidas sempre se provocando sobre os personagens favoritos um do outro, Oikawa nunca tinha se sentido tão confortável e eufórico em sua própria casa. Era uma sensação boa.

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