Entre Vampiros: Do Outro Lado Da Muralha

Capítulo 19 - Juntando As Peças

   Narrador

  Não importava quantas vezes tentasse, Yang Mi não conseguiu ficar mais do que seis horas na cama, e isso ainda que tivesse conseguido finalmente dormir lá para às 7h da manhã depois de ficar dentro do quarto praticamente a madrugada inteira. Ela tinha passado o tempo todo pensando, se perguntando o que  tinha acontecido ao entrar naquela banheira ao certo, o que realmente era, o que seria capaz de fazer e assim por diante.

   Um pouco mais de uma da tarde, e lá estava ela sentada num dos bancos que havia do gazebo enquanto apoiava o tronco sobre seus braços pousados numa pequena parte da cerca do espaço. As mãos brincavam com o anel que agora ela carregava consigo para qualquer lugar que fosse. Ela pôs na cabeça que não desgrudaria mais do objeto, ainda mais agora com Hérus tendo tentado o esconder dela.

  Era um dia entre o nublado e alguns raios de sol que ousavam se mostrar entre as nuvens brancas, as árvores tinham suas folhas cantando baixo quando eram tocadas pelo vento leve que vinha do norte, e tal combinação somada a ausência de vozes ou de qualquer outro traço de humanos — ou vampiros. — deixavam o dia sereno.

    Minutos mais tarde, Yang Mi se levantou e caminhou até as árvores que cercavam parte da propriedade, pois ali ela sabia que encontraria a água dançando tranquilamente pela brisa suave. O silêncio continuou a fazendo caminhar calmamente pela trilha sobre a ladeira, seus olhos já focavam o rio que por ali se estendia de modo estreito, ainda que tivesse cerca de um quilômetro até o outro lado.

    Quando parou perto da divisão da terra molhada com a água, ela se deixou tirar o par de coturnos negros que usava, primeiro um e depois o outro, e assim os pés tocaram o solo úmido frio. Sem se importar com a calça jeans da mesma cor que os sapatos, Yang Mi deu os primeiros passos em direção a água logo a sentindo entre seus dedos enquanto o vento fraco brincava com sua franja rala e as mechas frontais do cabelo escuro.

     Foi quase indescritível a sensação de se sentir abraçada pela natureza ao chegar ali, ao se afastar de tudo e todos, e assim se permitir esquecer as perguntas que rondavam sua cabeça desde antes de dormir até poucos minutos atrás.

   Tudo, qualquer estranheza cessou naquele exato momento em que tocou a água enquanto o olhar pairava pela paisagem ao longe. E ela sentiu, ela a sentiu. Paz estava ali. Se antes tinha alguma dúvida sobre ter alucinado ao perder a consciência debaixo d'água, agora essa foi-se a esvair.

   Sem medo algum, a jovem caminhou para frente, sentindo a água tocar os calcanhares e ir subindo por suas pernas até tocar seus joelhos e então parar na metade de suas coxas.

— Eu te sinto, Mãe. — Ela disse baixinho para que apenas Paz a ouvisse. — O que você quer me mostrar?

   A pergunta foi respondida quase que prontamente, mas não em palavras. Diante do silêncio, a jovem bruxa viu uma figura moldada por completa pela água se erguer em meio a mesma. A forma não tinha rosto ou cabelos, apenas se assemelhava a um humano, e isso certamente, em outras situações faria Yang Mi sair aos gritos do rio e correr para longe dali, mas agora ela apenas observava o que havia diante de si erguer o que pareceu ser um dos braços e estende-lo para si.

   Ela devia segurar o que parecia ser uma mão com a palma aberta em sua direção? Ela não sabia, mas aquilo parecia para si ser o mais lógico, então o que fez foi estender o braço e se aproximar para tocar a figura. A supresa veio quando ainda antes das duas se tocarem, a forma esticou-se com o que parecia ser seus dedos vindo por completo logo em seguida em direção a Yang Mi com tanta rapidez que a fez recuar. E como se uma surpresa já não fosse o suficiente em tão poucos segundos, ela se deparou com outra ao perceber que a forma se desmanchou e fazendo um arco de água, essa seguiu seu braço que foi para trás do corpo devido ao movimento de recuo rápido que fez. A água em pleno ar caiu brutalmente bem perto de si, lhe molhando ainda que não muito.