Houve um momento de silêncio.
- Onde?
- Longe da região nobre onde você mora.
- Onde?
Ohana não poderia sequer imaginar os lugares onde Larissa já passou.
Ela deu o endereço.
- Estarei lá.
Trinta minutos antes do combinado Larissa entrou no bar e se sentou, pediu uma água com gás e observou o modo como Ohana lidava com a clientela, além de dançarina era garçonete daquele...lugar.
Larissa desejava deixá-la nervosa, e conseguiu.
Ficou possessa apenas quando um cliente que bebera demais passou a mão em seu traseiro.
Larissa não ouviu o que ela disse, mas não era preciso. Suas pupilas faiscavam, seu rosto estava vermelho.
Será que se ressentia de ter de trabalhar em um segundo emprego, por seu pai tê-la deixado nessa situação?
Talvez não. Ohana mostrava coragem e orgulho, qualidades que Larissa admirava.
Não era por isso que estava ali?
{...}
Às onze horas Ohana levou uma pilha de pratos para a cozinha e murmurou uma desculpa rápida sobre não poder ficar mais. Desamarrou e pendurou o avental, retocou rapidamente a maquiagem e passou a mão pelos cabelos antes de entrar no restaurante de novo.
Larissa Machado não era mulher de se fazer esperar, pensou.
Ela estava ao pé da porta.
Ohana passou por ela e parou na calçada.
Larissa apontou para o outro lado da rua. Levou algum tempo até que houvesse uma brecha no fluxo de carros para que pudessem atravessar.
O automóvel era grande e luxuoso, e Ohana sentiu-se desconfortável com a situação, mas sabia que era necessário.
Larissa deu a partida e pôs o veículo em movimento.
Ela não disse nada.
Larissa decidiu que parariam em um café. Em outra região da cidade, claro.
A quietude punha Ohana com os nervos à flor da pele. Afinal, conseguira uma chance e não podia perdê-la.
Não demorou muito para que saíssem daquela parte insalubre da baixada, onde a vida noturna não terminava antes do amanhecer, e entrassem na área nobre da cidade, onde pessoas de classe tomavam café expresso e discutiam os eventos sociais passados, atuais e futuros. Ou criticavam conhecidos e supostos amigos.
Lógico que havia uma vaga no exato local onde ela queria, e Ohana sentiu a tensão aumentar enquanto Larissa estacionava com habilidade.
Será que iria demorar? Tinha de preparar alguns pontos para a aula do dia seguinte. Fora direto da escola para o hospital, e depois passara em casa para comer, se trocar e ir para o trabalho no bar.
E, como se não bastasse, seus pés a estavam matando. Os saltos altos eram parte do uniforme; assim como a saia curta e o cropped.
Ohana gostava do traje, mas odiava o emprego.
Estava na calçada, aguentando a dor, e se forçou a andar com cuidado quando Larissa apontou um dos bares. Escolheu uma mesa na calçada e logo um garçom veio tirar o pedido.
Ohana pediu um descafeínado, ou não dormiria mais tarde, e sentiu a fome se manifestar quando ela pediu sanduíches também.
- Coma - Larissa ordenou minutos depois, quando a comida chegou.
Ela conhecia a cena. Ohana devia ter engolido algo às pressas, ou talvez nada.
Larissa recostou-se no espaldar, observando-lhe os movimentos controlados, os dentes muito brancos abocanhando pequenos pedaços. Ela comia com tranquilidade aparente.
Larissa esperou-a comer dois sanduíches e terminar o café, e foi ao ponto:
- Sugiro que comece a falar.
Ela juntou as mãos no colo, odiando Larissa quase tanto quanto as palavras que estava prestes a dizer.
Ergueu o queixo, os olhos assumindo um tom mais escuro.
- Trabalho em dois empregos, um deles sete noites por semana. Não paro nem nos finais de semana. Subtraia o aluguel e a comida, e demoraria a vida inteira para eu pagar o que meu pai lhe deve.
Oh! Deus, como poderia sugerir?! Como seria capaz?! Droga, não tinha escolha!
- Só posso oferecer a mim mesma. - Essa era a pior coisa que tivera de fazer. Apressou-se em continuar: - Como sua amante. Sexualmente, socialmente, por um ano.
Larissa quis sacudi-la. Nem duvidou do que acabara de ouvir.
- Então esse é o acordo?
Sua voz soava calma demais, e Ohana sentiu um arrepio. Ela aceitaria? Pai Eterno, e se recusasse?!
- Estou pronta para negociar.
Larissa absorveu suas feições em um exame minucioso, até deixá-la a ponto de explodir.
- Em que sentido?
- Assinarei um documento abrindo mão de qualquer bem seu durante nossa ligação, no final dela e até o fim de meus dias. Em troca, você retira todas as acusações contra o meu pai.
Larissa fez uma pausa antes de responder, cínica:
- Tanta lealdade é admirável. Mas você está preparada para isso?
Ohana morria por dentro, aos poucos. Forçou-se a encará-la.
Larissa era uma mulher imponente, pelo menos um metro e setenta e cinco. Morena, cabelos castanhos. Os ossos do rosto, marcantes, maçãs largas, maxilar firme. Olhos escuros e penetrantes, a boca sensual.
Algo em sua expressão a incomodava. Uma aspereza que pouco tinha a ver com a astúcia da mulher de negócios.
Algo além disso.
Por trás das roupas caras e da aparência de sucesso, intuiu que Larissa já vira e experimentara muita coisa.
Isso a tornava complexa, perigosa.
Uma característica que não aparecia em sua biografia, nem nas fotos da mídia ou comentários das colunas sociais.
- Eu poderia ser uma companhia infernal - Larissa murmurou, sutil, e percebeu que Ohana se arrepiou por um momento. - Ou péssima na cama...
Larissa sorriu divertida ante a audácia dela.
Ohana refletiu, apreensiva, que ela tinha a aparência e o ar de uma mulher segura e satisfeita com seu desempenho sexual. Como ela levaria aquilo adiante? A razão a incomodou.
As chances de Larissa aceitar uma proposta absurda como essa eram quase nulas.
Entrou em desespero, e quase perdeu o fôlego.
Não havia mais o que fazer. Vendera o apartamento, ficara só com os móveis básicos, comprara um carro mais barato e esvaziara sua conta bancária para ajudar o pai. Não chegara nem perto de cobrir o que ele devia.
- Você estabeleceu um preço alto por seus serviços. - Larissa não parava de avaliá-la, e imaginava se ela percebia como era fácil analisá-la.
Aceitar pagamentos dessa forma não era novidade, Larissa pensava. Isso ocorria havia séculos.
Na sociedade atual, seria assédio moral.
Mas a proposta partira dela, o que modificava o acordo e abria a possibilidade de torná-lo legal.
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Proposta Indecente - Ohanitta
ФанфикOhana só podia pensar em uma solução para saldar a divida de seu pai com a família da ex chefe Larissa Machado: oferecer a si mesma em troca! Ela sabia que aquilo era loucura. Larissa era o tipo de mulher que poderia ter todas as mulheres que quises...