Capítulo 2 - Um amigo

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Pov. Lucrecia

Não sei quanto tempo fiquei ali fora, por mais que eu quisesse parar de chorar não conseguia, caso estivesse mesmo grávida o que faria?

Todas as opções me davam calafrios, eu nem tinha certeza de nada ainda, mas já sentia a culpa e o remorso de cada uma delas. Tentei me imaginar passando pelas situações e todas soaram estranhas e incompatíveis comigo.

Me imaginei como mãe, estragando outro ser humano, como mãe biológica abandonando meu filho e abortando para voltar a ter essa vida de merda. Me sinto egoísta só de pensar nas possibilidades, como se cada uma delas só provasse que sou realmente uma pessoa ruim. Preciso me livrar desses pensamentos, são informações e sentimentos demais, posso resolver isso depois.

Me levanto de supetão instintivamente, e corro para o banheiro, sei que não faz sentido, mas a sensação que tenho é que se vomitar todo o maldito café da manhã vou me sentir melhor. O alívio vem mais não dura mais que cinco minutos, quando saio do banheiro os sentimentos e medos continuam ali me apavorando.

As lágrimas ameaçam a cair de novo e decido ir para casa. Não há razão para continuar na escola chorando pelos cantos, ainda que eu esteja destruída, não quero que ninguém me veja assim. A minha imagem é a única coisa que ainda parece estar no meu controle e faria de tudo para preservá-la.

Ando pelo corredor com a cabeça abaixada totalmente diferente de como costumo andar. É hora do intervalo, e por mais que andar assim não seja o ideal, é melhor que a perspectiva de alguém perceber que estive chorando.

Já no meu armário começo a arrumar minhas coisas para ir embora.

­— Posso saber para onde você está indo? Ainda temos mais dois tempos ... —Diz Samuel do nada me pegando de surpresa. O que esse garoto tanto quer comigo?

— E posso saber por que isso é da sua conta? — Falo enquanto fecho o armário com raiva e saio andando, não preciso da pena do bom samaritano. Nós dois sabemos que ele me odeia como todos os outros, pra que fingir que se importa?

Quando já estou do lado de fora, Samuel segura a minha mão e praticamente me obriga a olhar pra ele.

— Respondendo a sua pergunta, realmente isso não é da minha conta, não somos amigos, não somos nada, mas bem, Lu, você desmaiou no banheiro. Não posso te deixar voltar sozinha pra casa como se nada tivesse acontecido e se você passar mal no caminho? Quem vai te socorrer?

— Eu não sou uma donzela em perigo, Samuel. Não preciso e honestamente não quero ser salva, ainda mais por você. Então, por favor vai atrás da Carla que ela deve estar te procurando... — Digo sem muita paciência.

— Não, não é uma donzela, eu nunca ofenderia Lucrecia Montesinos com um comentário desse, mas precisa de ajuda apesar de ser orgulhosa demais para admitir. Lu, por favor... juro que fico calado o caminho inteiro se você quiser. — Por um segundo Samuel parece realmente preocupado e me rendo.

— Ok, bom samaritano você venceu. Pode me levar em casa, mas sem conversas, ok?

— Seu pedido é uma ordem, donzela. — O moreno ri e confesso que eu também, é bom ter alguém com quem falar para variar. — Mas antes dessa regra começar a valer: como você pretende ir para casa?

— Andando, Samuel. Como quase todos os meros mortais.

— Eu não sabia que ricos sabiam fazer isso. — Pela segunda vez Samuel me faz rir e é uma sensação estranha. Sorrir simplesmente por achar algo engraçado, tá aí uma coisa que nem sequer sabia que sentia falta.

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