Astronaut

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Astronaut

Queria poder dizer que a conversa com Samuel mudou tudo, que eu magicamente não me senti extremamente culpada por comer quando estava com fome e que não me importei com o descaso dos meus pais. Mas a verdade é que os problemas ainda doem como antes e a solidão agora depois ter companhia por algumas horas é ainda mais difícil de suportar.

Me sinto um completo estorvo nessa casa, nem para jantar meus pais me chamam mais, não que eu fosse comer, mas ser excluída de um hábito tão simples mostra que de agora em diante só existo para eles quando é estritamente necessário.

Na cozinha eu como tudo o que posso e em seguida vomito tudo. Ninguém percebe como sempre e eu passo o resto da noite trancada no meu quarto, com a garganta doendo de tudo que eu vomitei e o estômago gritando de fome, mas não faço nada permaneço deitada pensando em absolutamente tudo sem conseguir achar solução para absolutamente nada.

O mais novo problema é o mais frequente na minha cabeça, e apesar da conversa com Samuel ter me tranquilizado um pouco. No fundo do meu coração contínuo desesperada, rezando para um Deus que nem conheço para não ser o caso, para tudo não passar de um susto. Não sei se sou capaz de tomar uma decisão caso esteja realmente grávida. E eu choro, choro o que eu achei que não era mais capaz de chorar. Seria pedir demais que meus problemas só sumissem?

E é no meio desse pensamento repetitivo que acabo adormecendo e tendo pesadelos terríveis a noite inteira. Não me lembro de todos, mas os dois que consigo me recordar me arrepiam o suficiente. Em um deles sou expulsa de casa depois do meu pai descobrir da gravidez e no outro Valério descobre, mas não se importa. Resumidamente não dormi nada bem.

Tudo isso somado ao choro, não deixou minha aparência lá essas coisas, rosto, olhos inchados e olheiras gigantescas. Nem me reconheço, e eu penso em me maquiar, em esconder tudo isso, mas honestamente não estou disposta a fazer nada mais que existir hoje. Acabo colocando um óculos escuro e saindo desse jeito mesmo. Ninguém realmente presta atenção em mim e mesmo se perceberem tenho problemas maiores para lidar nesse momento. Deixe que eles falem.

Novamente saio sem comer de casa, espero não ter outro desmaio, é a última coisa que preciso. Já estou quase no portão quando sinto meu braço ser segurado.

– Posso saber o que o Samuel estava fazendo aqui ontem? – Valério perguntou depois de me puxar na sua direção.

– Não, não pode. Se me dá licença, eu preciso ir para escola. – Disse puxando meu braço de volta e seguindo meu caminho.

– Tá transando com ele, não é? – Ele falou depois de correr atrás de mim.

– Honestamente Valério não é da sua conta. Você perdeu o direito de me perguntar qualquer coisa quando nos expôs, não tenho que te responder nada disso. Tchau, Valério.

– Você tá certa, não tem que me dizer nada, mas não faça nada que vá se arrepender. Samuel não é para você e você sabe disso.

– Você também não era.

– E veja no que deu. Se você quer um dia recuperar suas amizades não se envolva com Samuel, Carla e Rebeca não vão gostar nem um pouco disso.

– Que Carla, Rebeca, e inclusive você se fodam. Eu faço o que eu quiser! – E finalmente saio dali, por um segundo pensei que ele realmente pudesse estar preocupado comigo, mas aparentemente me enganei. São os novos amigos dele que importam.

Ando raivosa pensando em simplesmente não ir para a escola, não tô a fim de encarar todo mundo com esse rosto inchado e ainda ter que prestar atenção numa aula enquanto toda minha vida se auto destrói. Chego na porta da escola, mas não consigo entrar, dou meia volta e acabo na ponte onde salvei a vida do Guzmán. É estranho pensar em como tudo mudou em tão pouco tempo, salvei a vida dele quase dois anos atrás e agora estou aqui completamente sozinha sem ninguém para me salvar. Não sei por quanto tempo fico olhando a paisagem, minha mente segue agitada e acabo me assustando quando apita com uma mensagem.

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