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Don't Start Now

– Vai soar estranho, mas você pode ficar? Não quero ficar sozinha hoje...

– Claro.

Não sei de onde vem esse pedido, nem sequer reconheço minha voz, é baixa e deplorável, não parece com a Lucrecia que todos sempre conheceram. A superioridade sempre presente na minha voz está completamente perdida, minha expressão corporal e voz imploram para que ele fique. Não queria encarar meu quarto vazio e aquela casa silenciosa sozinha de novo.

E de um jeito bizarro Samuel entende, como o Valério parecia entender antes de tudo mudar, entramos em casa e o silêncio não me impressiona. Meu pai tinha avisado por mensagem mais cedo que viajaria com a minha mãe à negócios, não sem recordar da velha ameaça. Ele não tinha se esquecido da situação com o Valério e se algo chegasse aos ouvidos dele sobre isso estaríamos enfim deserdados...

Vou direto para a cozinha, Samuel me segue ainda me observando, tomo um copo d'água de uma vez tentando me acalmar, minhas mãos tremem e minha mente segue a mil. Os pensamentos não param, o medo, e se o exame der positivo?

– Vai ficar tudo bem, Lu. – Sussurra Samuel tocando na minha mão devagar. Quase a puxo de volta, mas no fim só fecho meus olhos e me entrego ao prazer de ser tocada novamente. Não reconheço meus pensamentos, só quero esquecer tudo isso.

– Como falamos no carro, tudo isso que está passando na sua cabeça são problemas da Lu do futuro. Lidaremos com eles depois, tá bom?

– Não sei se consigo não pensar Samuel, to com tanto medo. E se tudo mudar? – As lágrimas escorrem e Samu as limpas antes de eu ter a chance de fazer isso. Ele me encara com tanta gentileza e só me abraça firme, sem perguntar ou pedir licença e eu agradeço mentalmente por isso. Por mais bizarro e inacreditável que seja, preciso dele. E me pergunto se não seria mais fácil ter me apaixonado por ele ao invés do Valério ou do Guzmán...

Não sei quanto tempo fico entregue ao seu abraço, se são minutos ou horas, mas aos poucos a presença dele me faz sentir um pouco melhor e quando a minha respiração enfim se acalma um pouco ele sugere:

– Que tal assistirmos um filme? Daqueles bem ruins para nos distrair... – Rio da expressão animada dele e aceito. Qualquer coisa que me distraia de tudo isso é bem-vindo.

Nos guio até meu quarto e a primeira coisa que eu faço é me deitar... Samuel se senta numa poltrona e fica olhando para todos os lados visivelmente desconfortável.

– Pode deitar aqui, Samu...– Disse batendo no outro lado da cama. – Juro que não mordo! – Forço outro sorriso, depois do desespero inicial só quero aproveitar um pouco a parte boa das atuais incertezas.

– Você parece melhor. – Samuel diz sorrindo, parece genuinamente feliz com a minha mudança, e mais uma vez me pego sorrindo de volta. Agora consigo entender como Carla e Marina acabaram se apaixonando por ele.

– As preocupações seguem aqui, mas estou tentando seguir um conselho que ouvi de um sábio e deixa-las para a Lu do futuro. – Falo tentando quebrar um pouco gelo e deixa-lo mais confortável.

– De um sábio, é? Nunca tinham me chamado assim antes. – Samuel gargalha sozinho, mas não se mexe.

– Pra tudo tem uma primeira vez, vai me dizer o que está te incomodando ou vou ter que adivinhar?

– É... bem, estou preocupado seus pais não vão se incomodar de eu estar aqui? Ou seu irmão? – Ele disse enquanto coçava a orelha parecendo um pouco nervoso, é quase fofo.

– Meus pais viajaram só voltam amanhã à tarde e bem Valério é sempre um mistério, pode aparecer no meio da noite, agora ou daqui há duas semanas. Não se preocupe com ele, mesmo se voltar não vai entrar aqui, não nos falamos mais... – Pensei que me lembrar disso fosse ficar mais fácil em algum momento, porém nunca fica. Uma parte minha segue sentindo falta do Valério e a outra se culpa por isso...