Meu pai se levanta e fica em silêncio por tempo demais, é fácil discutir com ele, mas quando ele está em silêncio quer dizer que a batalha já está perdida, ele não quer dialogar só fazer sua vontade. Meu pai aperta meu braço com força quando enfim se coloca na minha frente e grita me fazendo estremecer.
– QUE HISTÓRIA É ESSA QUE VOCÊ ESTÁ GRÁVIDA? – Estou morrendo de medo, me sinto uma criança apavorada de novo, com medo de tê-lo irritado demais. Consigo sentir o cheiro de álcool no seu hálito e abaixo minha cabeça.
– Não vai responder? – Meu pai grita enquanto aperta com força meu braço e gesticula com um copo de whisky na outra mão. Automaticamente estremeço e tento responder à pergunta.
– Eu... bem...
– Desaprendeu a falar agora? – Sua fala é arrastada e consigo sentir as gotículas de saliva na minha cara, mas não me mexo. Estou completamente paralisada, para o mundo sempre fui uma garota corajosa, mas quando meu pai fala desse jeito comigo parece que volto a ser aquela menina indefesa. Com medo de fazer algo errado e irritá-lo.
– Sim, tô... grávida. – Silêncio de novo, por segundos demais, ele ainda está segurando meu braço, e apesar de estar doendo não falo nada, sempre era pior quando eu reclamava. Meu pai balança a cabeça parecendo em negação.
– É do depravado do seu irmão? – Não espero nada de diferente dele, e minto com uma naturalidade que ainda me surpreende. Quando sua vida depende de uma mentira difícil é dizer a verdade.
– Não... – Seguro as lágrimas com dificuldade, só queria poder desabar ali, estou me sentindo mais emotiva que o normal, culpa dos hormônios, mas não posso demonstrar sentimentos para ele. É um caminho sem volta, ele me olha como se me odiasse, na verdade não como se me desprezasse.
– Pelo menos você sabe de quem é? – Meu pai nem olha para mim quando faz a pergunta.
– Do Samuel.
– Ahh, então é do bolsista que era só seu amigo semana passada? Não cansa de mentir Lucrecia? Mentiu antes ou tá mentindo agora?
– Vamos, Lucrecia. Responde, não tenho todo tempo do mundo... – Ele aperta meu braço com mais força e não consigo não demonstrar ele sorri como se estivesse satisfeito com isso, conseguiu me atingir.
– Menti antes, só não queria te estressar, pai. – Ele começa a rir e estremeço de novo.
– Parece que você fez um bom trabalho, hein Lucrecia. Essa é boa mesmo, não me estressar... Pareço estressado? – Meu pai me encara e não respondo nada. Não sei o que responder não importo o que eu disser só vai piorar tudo.
– Um... pouco.
– Tô muito mais do que um pouco estressado. É incrível como você consegue encontrar modos novos de me decepcionar, quando eu penso que você já fez tudo, vai e faz outra. Grávida de um bolsista, não tem vergonha? – Ele grita tão perto do meu ouvido que como reflexo coloco uma das mãos na minha orelha e ele ri de novo. Odeio quando ele faz isso.
– Samuel é um ótimo cara, não tenho nada de que me envergonhar. – Respondo juntando o máximo de coragem que consigo.
– Não, não tem...– Diz ele em tom irônico...– Não sei por que me surpreendo, claro que não tem vergonha, não teve vergonha de ser masturbada pelo seu irmão no meio de um jantar de família. Engravidar bem é só consequência ia acontecer em algum momento com a vida de vadia que você leva. Tenho vergonha de você, você não merece esse sobrenome, não merece meu dinheiro, não merece nada. E a única razão de eu não te expulsar daqui agora é que não quero que ninguém fique sabendo da piranha que você é, tá me ouvindo? Não vai me responder? Não tem coragem? Olha para mim, Lucrecia, assume pelo menos uma coisa na sua vida...
– Já chega, pai. Acho que ela já ouviu bastante. – Valério entra no escritório e finalmente meu pai solta meu braço. Coloco a mão nele na hora está dolorido e com certeza vai ficar roxo. Mas não tenho tempo de ficar aliviada, meu pai e Valério estão gritando um com o outro igual dois loucos.
– Ela não ouviu nem metade do que eu tenho para dizer. Sai daqui agora, Valério que você não tem nada a ver com isso.
– Ela é minha irmã e você não tem o direito de sair falando as merdas que quer só porque é pai dela.
– Olha só moleque eu falo o que eu quiser, quando eu quiser, então cala a boca e vai para o seu quarto. Antes de eu perder a paciência e colocar vocês dois pra fora daqui. – Ele fala segurando o Valério pelo colarinho e me apavoro.
– Para pai, solta ele. Eu engravidei, ele não tem nada a ver com isso, ok? Esquece ele. Por favor... só solta ele. – Não sei por que acho que isso vai dar certo, o tempo que eu conseguia acalmar os nervos do meu pai passaram há muito tempo. Ele olha para mim com desprezo, mas solta ele.
– Se minha filhinha pediu como não vou soltar. Pode ir, vai pro seu quarto cheirar sua cocaína antes que eu corte seu dinheiro e você entre em abstinência de novo. É isso que você quer? – Meu pai tá completamente fora de controle, faz anos que ele não fica assim, e to completamente apavorada precisamos sair daqui antes que um dos dois faça alguma besteira. E parece que eu to adivinhando, porque quando vejo Valério já deu um soco nele.
– Você não desmentiu, porque sabe que é verdade... Vai para o seu quarto antes que eu te bote para fora daqui.
– Você não vai precisar me botar para fora daqui, porque eu já vou embora. Você não me controla mais, ok, nem a Lu. – Ele diz e segura a minha mão me puxando para fora, reluto por um instante olhando para o meu pai, mas rapidamente me decido. Não posso mais viver essa vida.
– Aonde você pensa que vai? – Meu pai corre na minha direção e segura meu outro braço, estou exatamente entre os dois.
– Você não pode ir embora assim. Não depois de tudo que eu fiz por você.
– Agradeço, mas não posso mais ficar. – E acho que essa é a coisa mais sincera que já falei para ele na vida.
– Volta aqui, sua mãe já marcou seu procedimento. Vocês dois não podem fazer isso comigo, vou contar pra todo mundo da perversão de vocês.
– Não vai fazer isso, a única coisa que você se importa são as aparências.
– É, não vou, mas acho que essa não é a pergunta, certa? O que você pretende fazer? Brincar de casinha com o bolsista, morar na favela e não fazer faculdade. É isso que você quer para si mesma? Você não vai durar cinco minutos até voltar implorando pela minha ajuda e quando fizer isso não vou abrir a porta pra você. Querem ir embora? Vão, mas não se preocupem em voltar... – Não tem um pingo de dúvida na voz dele e sei que o que eu decidir agora é para sempre.
– Vou ter esse bebê e não faço ideia de como vai ser minha vida no futuro, mas de uma coisa tenho certeza. Nunca mais piso aqui. – Ele ri de mim mais uma vez e não sinto mais medo só raiva. Odeio esse homem.
– Disso você está certa, nenhum dos dois vai pisar aqui de novo. Boa sorte, vocês vão precisar, os dois no caso. Só tem uma coisa que é mais cara que um bebê e se chama vício em cocaína.
– Sabe de uma coisa, pai? Vai se fuder, te odeio. – Digo em lágrimas, mas nem um pouco arrependida. É muito menos do que ele merece depois de tudo que nos fez passar.
Não sei se ele diz mais alguma coisa depois, só saio correndo dali junto com o Valério, estou muito nervosa, o que diabos vamos fazer agora?
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Subtitulos
FanfictionDois meses após o fim da segunda temporada, Lucrecia volta a velhos hábitos destrutivos enquanto se afasta de todos. No entanto uma notícia inesperada acaba por uni-la com seus velhos "amigos" novamente.