Nunca vou saber. Ander diz algo sobre conversar com a mãe sobre nossa situação na escola, agradeço, mas é a última coisa com que me importo agora. Por mim a escola toda pode se fuder, tenho coisas maiores com que lidar.
Uma semana se passou desde que nos mudamos para casa do Samuel e está tudo indo bem na medida do possível. Aos poucos estou me acostumando a nova realidade e por pena da nossa situação Azucena cedeu duas bolsas para que eu e Valério continuássemos na escola. O que é um alívio, falei que não me importava, mas ter que mudar de escola do nada era tudo que eu menos precisava.
Valério conseguiu um emprego na boate que costumava frequentar, e tá trabalhando junto com Omar como bartender. Certamente não é o lugar ideal para um viciado, mas é um emprego e está ajudando a nos manter alimentados e ajudar um pouco nas contas do Samuel.
Estou trabalhando meio período na lanchonete que o Samuel trabalha e ter que servir pessoas com quem costumava me sentar é muito estranho.
Vejo Guzmán sentado olhando o cardápio e respiro fundo, preciso atendê-lo, mas me sinto muito envergonhada de fazer isso. Sei que é besteira, que é um emprego como outro qualquer, e que ele estar sentado ali não o faz melhor que eu, mas me sinto pequena de ter que ir até lá.
– Quer que eu pegue essa mesa? – Samuel pergunta vindo da cozinha com um prato de outro cliente.
– Não precisa, vou ter que fazer isso alguma hora. Mas... Obrigada. – Ele sorri para mim e vai até sua mesa.
Me aproximo devagar de Guzmán já imaginando a reação dele, acabei de começar meu turno e ainda não atendi nenhuma mesa.
– Boa tarde, como posso ajudar? – Falo tentando fingir que não tem nada de novo sobre isso e espero a reação dele.
– Lu? O que faz aqui? – Guzmán fala me encarando.
– Trabalhando... O que você vai querer? – Falo já posicionando a caneta no bloco e esperando que ele não insista em conversar. Desde minha briga com Guzmán não falo com ele e não pretendo mudar isso.
– Como assim trabalhando? Samuel tá te fazendo ter que trabalhar agora? – Guzmán diz e me encho de raiva. Quem é ele para questionar o que eu faço e se intrometer na minha vida?
– O que eu faço ou deixo de fazer não é do seu interesse, Guzmán. Então, se você não vai pedir nada posso voltar depois. – Falo tentando ao máximo não demonstrar meu estresse, é minha primeira semana e ainda estou em período probatório.
– Está tudo bem, Lu? Precisa de alguma ajuda? Aqui não é lugar pra você... Se eu falo é só porque me preocupo.
– Guzmán por favor, estou trabalhando, preciso desse trabalho. Então, por favor só me deixa fazer isso. Guarda suas preocupações para outro momento, tudo bem? – Falo com o máximo de paciência que consigo já é humilhante o suficiente ter que atendê-lo agora ter que lidar com a pena dele é mil vezes pior.
– Ok, vou querer um hambúrguer e uma coca.
– Anotado. – Estou prestes a sair quando ele segura meu braço.
– O que foi agora, Guzmán?
– Se precisar de alguma coisa, dinheiro o que for, pode contar comigo. Fiquei sabendo o que houve com seu pai e não tinha acreditado até ver isso. – Diz ele apontando para mim.
– Tenha certeza de que você é a última pessoa que vou procurar se precisar de algo.
Passei o resto da tarde trabalhando e pelo menos não tive que atender nenhum outro "antigo amigo". Saio da lanchonete quase dez horas com o Samuel, desanimada com tudo. Ainda não me acostumei com essa nova realidade, não que me arrependa, não quero voltar para casa do meu pai e quero ter meu filho, mas queria que as coisas pudesse ser mais fáceis, pensei que pudessem ser depois de me afastar do meu pai, porém não são.
– Tá tudo bem, Lu? – Pergunta Samuel enquanto voltamos para casa andando.
– Ta sim, eu só...
– Deixa eu adivinhar... Guzmán falou alguma merda. – Não é uma pergunta e não pode estar menos certo.
– É, me senti tão humilhada de atender o Guzmán, ele ficou lá falando sobre como poderia me ajudar e eu só queria poder dar um soco na cara dele, porque ele nunca se importou antes. E agora parece fazendo questão de falar tudo isso só para me humilhar. – Estou chorando enquanto falo isso, normalmente nunca faria isso, mas os hormônios me deixam mais sensível e até mesmo coisas pequenas me fazem chorar agora.
– Uma coisa é certa amaria vendo você dar um soco no Guzmán um dia, ele sem dúvida merece e seria bem sexy..., mas não faça isso, ou vai perder o emprego. E por favor para de chorar me deixa preocupado. – Samuel diz mudando de assunto e sorrio.
– Já parei e pode ficar tranquilo, não vou fazer isso. Mas vontade não falta, acredita que ele perguntou se você estava me obrigando?
– Como se eu pudesse te obrigar a qualquer coisa. Se nem o Valério consegue te obrigar, quem sou eu na fila do pão? – Ele ri baixo e eu sorrio de novo. Gosto de estar perto do Samuel, ele me faz sorrir e me faz companhia quando o Valério não está por perto. O que nessa semana se tornou bem comum por nossos horários não baterem muito.
– Não faça tão pouco de você mesmo, você é uma das únicas pessoas que eu escuto e posso talvez seguir um conselho... Não que a lista seja muito grande basicamente você e Val. – Digo e seguro seu braço apoiando meu corpo no seu. – Sei que não falo com frequência e não se acostume com isso, porque não pretendo transformar isso num hábito, mas estou muito agradecida por você estar por perto, Samu. De verdade obrigada.
Ele sorri para mim e não fala nada, e está tudo bem já estamos num nível de intimidade que não precisa de respostas o tempo todo. Chegamos em casa e vou direto tomar banho, estou exausta. Não estou habituada a essa nova rotina ainda.
Me deito na cama sozinha e sinto saudades de Val, o emprego da boate o faz trabalhar de madrugada e nos últimos dias só conseguimos nos ver na escola. Com a mão na barriga começo a pensar sobre minhas últimas preocupações.
Venho tendo pesadelos, onde o bebê nasce com alguma má formação ou deficiência, ainda não conversei com o Valério sobre isso, parece que vai se tornar mais real se eu falar. Amanhã teremos nossa primeira consulta com a nossa médica, e sei por tudo que eu já li que ela não vai poder me dar uma resposta sobre isso ainda, é muito cedo, mas gosto de imaginar que ela vai me dar alguma boa notícia.
Samuel vai com a gente para manter o disfarce, e decidimos que vamos dizer que somos primos, para que eles levem isso em consideração e avaliem se tem algo de errado com o bebê. Minha relação familiar com o Val, meu porre e todo esse estresse podem ter criado algum problema, e eu só espero ter sorte.
Desde então tenho me alimentado bem e me exercitado, mas talvez não seja o suficiente. Se eu pudesse voltar atrás não teria bebido tanto aquela noite, mas não posso mudar. Só nos resta torcer e esperar o melhor.

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Subtitulos
FanfictionDois meses após o fim da segunda temporada, Lucrecia volta a velhos hábitos destrutivos enquanto se afasta de todos. No entanto uma notícia inesperada acaba por uni-la com seus velhos "amigos" novamente.