25.

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um de julho.

Sento junto a minha mãe pra mais um jantar. Fazia dois dias que tinha passado a festa de quinze anos da Carol e eu estava acabada. Ela usou três vestidos, todos feitos por mim. Ela não queria um Aline Ribeiro, ela queria três Jade Magalhães. Apesar da diferença de idade, nós nos dávamos muito bem. Eu realmente tinha adotado Carol e Felipe como meus irmãos.

— Jade, já sabe o que vai fazer o que vai fazer quando eu me casar?

— O Luan quer que eu vá pra São Paulo. A Bia estava pensando em morar com a tia dela que mora lá também. Estou pensando em ir, mas não sei se realmente vou.

— Por conta do trabalho?

— Também.

— Também?

— Ah, mãe. A senhora vai continuar aqui, né? Vamos estar distantes.

— Jade, faz seis meses que você está com o Luan. E eu não te vejo tão feliz desde que a Safira era viva. Eu também estou muito feliz. E não temos certeza se ficaremos aqui.

— Como assim?

— O Felipe vai abrir o escritório em Curitiba, e a Carol passou numa escola por lá, que é melhor que a dela aqui. Miguel quer ir pra lá também. Mas só no começo do ano que vem.

— O que a senhora acha de eu ir pra São Paulo?

— Filha, você está noiva do Luan. Em algum momento isso vai acontecer. Pra que adiar?

— Acabando o jantar faço minhas malas então. — Falei em tom de brincadeira.

— Hahaha Jade Magalhães. Só estou dizendo que você pode pensar. Conversa com a Aline. Vê o que ela acha.

— Vou fazer isso mesmo. Só não conta pro Luan, nem pra Bia.

— Tudo bem. Falando em Bia, temos que rever o lugar dela no casamento caso ela e o Felipe não voltem mesmo.

— Mãe, por mais que queiramos eles não vão voltar. Os dois querem coisas contrárias agora.

— Bom, não tenho como trocar os dois de padrinhos.

— A senhora já viu entrada solo? Em que os padrinhos e madrinhas entram sozinhos? Podíamos tentar.

— É uma boa ideia. E na mesa?

— Coloca ela do lado da Bruna, irmã do Luan.

— Faz todo sentido. Aí, nunca imaginei que casar assim dava tanto trabalho.

— Mãe, como foi o seu casamento com meu pai?

— De verdade? Um churrasco. Seu avô comprou três bois e fez o churrasco. A família do Joarez ficou responsável por bebida. E tínhamos água, refrigerante, suco e cerveja. Foi uma coisa bem família. Comemos boi pro resto do mês.

— Parece ter sido bem gostoso.

— E foi. Foi bem do jeito que eu e seu pai sonhamos. Nós sempre fomos simples. Não tínhamos luxo. Nós compramos esse terreno logo no começo do namoro. Construímos a casa e nos casamos.

— E porque nome de joias preciosas para as filhas?

— Tradição de família. Da família do seu pai. Todas as mulheres que nascerem tinham que ter nomes de joias. Culpa do seu tataravô. Ele era garimpeiro. Mas aí ele só teve uma mulher, sua bisavô Rubi, ela por sua vez só teve homens, seu avô também. Você foi a primeira mulher em gerações. E depois a Safira. Não tem mais mulheres.

— Mãe, será que eu terei que seguir essa regra?

— Filha, eu e seu pai só fizemos por gostarmos. Você só coloca se quiser.

onze de julho

Eu estava no escritório da Aline. Ela tinha ido ao banheiro antes de conversarmos. A verdade que minha presença já não era tão necessária no ateliê. Eu cuidava das mídias e próximas coleções da nossa marca, AS. Porque foi inspirada na Alicia, filha da Aline, e na Safira.

— Oi, Jade.

— Aline, o que você pensaria se eu quisesse me mudar de cidade?

— Eu já estava esperando isso, Jade. Você e o Luan estão sempre juntos. Você já trabalha de longe. Pra mim, sem problema algum.

— E se eu abrisse uma nova sociedade com outra pessoa?

— Não deixando a AS, pra mim, sem problemas. Dependendo de quem for.

— A Bia. Ela está indo pra São Paulo já no fim desse mês. Ela quer trabalhar lá. Me pediu sociedade. Mesmo que fosse daqui. Mas em algum momento eu iria pra São Paulo. Eu já sabia também. Lá no fundo.

— Jade, seu talento tem que ser mostrado mesmo. Você trabalha duro. Vai ser sucesso na certa.

— Obrigada por tudo.

Sai do escritório mais leve. Só faltava eu contar pros dois mais interessados na minha ida pra São Paulo. Mas não sem ir pra terapia e conversar com o Rafael.

vinte de julho.

— Beatriz, você vai mesmo levar todas as peças que fizemos juntas na faculdade? — Reclamei enquanto ajudava Bia a arrumar suas malas para ela ir embora.

— Vou. Você não vai comigo. Se quiser usar, vai ter que ir buscar. — eu ainda não tinha contado pra ela e pro Luan que eu iria.

Rafael já tinha me passado contato de psicólogos e psiquiatras em São Paulo que saberiam prosseguir com meu tratamento. Ele disse que seria bom, de certa forma eu me desligaria de tudo que me machucou.

— E quem disse que eu não vou?

— O que?

— Eu vou depois do casamento da mamãe. Não contei pra ninguém além dela e dos meus médicos. Mas eu vou.

— Pera, você vai mesmo?

— Vou, Bia. Em setembro me mudo pra São Paulo.

— E o Luan não sabe ainda?

— Não.

— E onde você vai morar?

— Com ele.

— E como ele não sabe?

— Tô esperando passar o julgamento pra contar.

— Queria poder estar aqui pra te apoiar.

— Fica tranquila amiga. E o Felipe vai estar lá. Acredito que você não ia querer ver ele.

— Jade, eu e ele ainda somos amigos. Eu ainda o amo. Só não é pra ficarmos juntos.

trinta e um de julho

O tão aguardado dia do julgamento chegou. Eu teria que depor novamente. O Luan não teria show. Pediu pra não marcarem. Ele queria estar comigo.

— Jade, você quer eles na sala enquanto depõe? — Um dos policiais me perguntou.

— Prefiro que não.

Já tinham sido ouvidos oito das dezesseis vítimas.  Todas em ordem. O julgamento já durava uns dias como previsto. Sempre eram ouvidas quatro mulheres. Hoje era o terceiro dia, e eu iniciaria.

Não queria olhar na cara deles novamente. Ainda teria que esperar dois dias pro resultado.

Me sentei em frente ao juiz, e relembrei aqueles momentos que queria esquecer. Como provas eu tinha exames e o desabafo com o Luan no Instagram.

Foi dolorido lembrar tudo aquilo. Mas me prometi que seria a última vez que tocaria naquele assunto.

Depois de depor, fomos todos comer. Eu receberia o veredito no meu email, juntamente com todo o processo.

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