Capítulo 8

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Joguei a revista de fofocas sobre a mesa e bebi um gole do meu café irritado. Eles não paravam nunca! Nunca!

— Sabe, talvez as fofocas parem se você admitir que é gay. — Aurora disse e Larry concordou com ela, é claro.

— Não posso — suspirei. — Eu não consigo.

— Tudo bem, mas você sabe que não pode viver assim para sempre, não é?

— Só queria ter um encontro em paz — peguei a revista de novo, vendo a foto que eles tiraram de mim e do Lois quando estávamos no cinema, e em baixo da foto eles escreveram coisas absurdas. — Mas você tem razão, eles não vão parar até eu falar a verdade.

Tomei um último gole do meu café que chegou ao fim e eu resolvi pagar por ele e ir embora, deixando meus melhores amigos sozinhos na cafeteria.
Quando cheguei em casa, havia um pacote em frente a porta. Eu deixei um sorriso escapar, já tendo uma ideia do que poderia ser.
Peguei o pacote antes de entrar dentro de casa. Peguei uma faca na cozinha, para conseguir abrir a caixa e quando abri, lá estavam os livros de Lois.
Desde do dia que ele escreveu uma poesia somente para mim eu senti que precisava demais, então comprei todos os livros que consegui dele pela internet, afinal, livros são caros.
Sexta-feira passada, Lois citou duas de suas poesias para mim e eu soube que realmente precisava ler as coisas bonitas que ele escrevia.
Retirei um dos livros da caixa de papelão e me sentei no sofá. "Ciclo da vida" era o nome do livro.
Retirei meus sapatos, antes de abrir as primeiras páginas e começar a ler um primeiro poema.

Eles cortam a sua pele
E o sangue transborda

O tempo passa
E as cicatrizes começam a aparecer

As cicatrizes, por fim, somem
Tudo que você tem é lembranças

Até que, de repente
Começa tudo de novo.

É, esse é realmente o ciclo da vida.
Confortei-me mais no sofá e fui para a próxima página. Os poemas de Lois tocam a minha alma, é como se ele pudesse entender tudo que eu passo ou já passei sem precisar me conhecer.

Hoje é um daqueles dias
Que cantar dói a garganta
E dói o peito
Até para as pessoas
Que amam cantar cada verso.

Virei a página, dando de cara com mais poemas e poesias.

Todos estão pouco se fudendo
E eu apenas continuo escrevendo
Porque eu também estou pouco me fudendo.

Fechei o livro quando senti meu celular vibrar no bolso. Era uma mensagem de Lois.
Bom dia, flor do dia, como vai?
Não pude evitar sorrir e antes de pensar em responder, decidi ligar por chamada de vídeo. Eu liguei e ele atendeu. Seu cabelo estava um pouco bagunçado e Lois estava sem camisa, talvez tivesse acabado de acordar.

— Bom dia — eu disse sorrindo e peguei o livro. — Olha só o que eu estava lendo.

Ei, esse livro é meu!

— Eu sei, estou adorando. Você escreve tão bem, não sei porque nunca parei para ler um livro seu antes.

Que bom que está gostando, porque você é literalmente minha inspiração para meu novo livro.

— É, eu sei disso — sorri satisfeito. — Me sinto importante.

Você é importante — ele bocejou. — Acho que vou tomar café agora, acabei de acorda.

— Deu pra perceber.

Estou tão horrível assim?

— Não! — ri. — Você é lindo de qualquer jeito, eu poderia acorda todo dia do seu lado e te ver assim.

As bochechas dele ficaram coradas e as minhas também. O que eu estou dizendo?!

É mesmo? — ele riu dessa vez. — Digo o mesmo.

Senti minhas bochechas arderem mais, enquanto ele se despediu e desligou o telefone, encerrando a ligação.

— Que merda, Ariel! — gritei, frustado e deixei o livro de lado, pensando na vergonha que eu acabará de passar.
Tentei afastar o pensamento e voltei, pronto para me afogar nos livros de Lois.

Eu sai da escola de dança com Aurora ao meu lado, um pouco exausto. As aulas estão sendo mais pesadas nessas últimas semanas, afinal, a nossa próxima apresentação não está longe.
Virei-me para me despedir de Aurora, porém, fomos interrompidos por uma mulher mais velha que chegou acompanhada de câmeras. Merda.

— Boa noite, Ariel — ela sorriu para mim. — Boa noite, Aurora.

Eu apenas bufei para ela. Odeio essas entrevistas, ainda mais depois de um ensaio intenso.

— Boa noite, moça. — Aurora respondeu por mim, mesmo odiando essas entrevistas tanto quanto eu. Afinal, ela tinha que fingir ser a minha namorada, quando o seu coração pertencia à Larry. E o meu pertencia à Lois.

— Gostariam de responder algumas perguntas?

— Claro, por que não? — ela disse por educação, eu sabia que ela não queria também.

— Bem, Aurora, o que você acha dos encontros que o seu namorado tem tido com aquele poeta chamado Lois Cruz?

— Eu acho que eles são ótimos amigos.

— Amigos? — ela assentiu. — Você não acha que tem algo mais?

Aurora se virou para mim. Eu sabia que não podia deixa-lá sozinha.

— Não somos nada além de amigos — respondi. — Eu sou hétero, só porque danço balé não significa que sou gay.

— E Larry?

— Moça, realmente precisamos ir para casa — puxei Aurora pela mão. — Tenha uma boa noite.

Eu e Aurora entramos dentro do meu carro rapidamente.

— Vou te levar para casa hoje, se você esperar Larry vim te buscar já sabe como vai ser não é?

— Sim — bufou. — Ariel, eu não aguento mais isso, sabe?

— Eu também não.

— Então por que não conta? — questionou. — Eu sei que é difícil mas pode pensar nos seus amigos às vezes?

— Como assim?

— Você acha que eu e Larry gostamos de fingir que não somos namorados?

— Não...

— É, pois é.

— Aurora, me desculpe, mas eu...

— Ariel, não aguento mais essas desculpas, já fazem anos que estamos presos à isso. Você não pode viver a vida toda fingindo ser alguém que não é — ela abre a porta do carro. — Eu vou embora a pé, ok? Obrigada.

Antes que eu pudesse dizer algo, ela fechou a porta e saiu andado. A repórter e as câmeras foram atrás dela mas ela simplesmente ignorou, fazendo com eles desistissem e fossem embora.
Observo Aurora até a perde de vista e só então dou partida no carro.
Odeio admitir que ela está certa.

Dança do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora