Rebeldia Real - Trilogia Real - Volume 1

Capítulo 13

   Cada vez que aquele sonho se repetia, os gritos, o desespero, o toque, a sensação da queda, tudo se intensificava. Tudo parecia mais... Real. E como sempre, caí no chão, dessa vez almofadado.

       O piso do meu quarto era uma pedra amarelada clara centenária, e para a nossa cultura, trocar o piso de palácios era como destruí-los , pois acredita-se que todos os reis que já pisaram nele estariam lá para ajudá-lo a governar. Então trocá-lo, mesmo que em um só cômodo no castelo, geraria uma confusão enorme. Quando eu tinha 15 anos, pedi de presente a meus pais a permissão para colocar um tipo de bicama que cobrisse todo o chão envolta da cama, porém mesmo dizendo que eu pagaria e explicando os motivos, recebi um enorme não. Então, sempre que lembrava, colocava almofadas ao redor da cama e às vezes até dormia no chão.

       Já tentei falar com os meus pais sobre as minhas quedas, mas eles sempre diziam que de vez em quando pode ocorrer, mas sempre é impossível. Se eles não acreditavam em mim mesmo por vezes vendo os meus hematomas, quem dirá agora que acusarei o meu tio de traí- los, e provavelmente com provas menos concretas do que os meus machucados?

       Era isso o que eu pensava naquela manhã ao comer lentamente um pedaço de panqueca com molho syrup.

       - Você está bem, querida?- Meu tio Edgar disse preocupado.

      - Hã? Uhum- disse balançando a cabeça ao sair de meus pensamentos.

      - Pai, mãe, eu andei treinando muito e acho que agora estou pronta para tentar sem tutor.- Pietra disse esperançosa aguardando uma resposta positiva dos monarcas.

      Eles se entreolharam e depois voltaram a prestar atenção em seus respectivos pratos. Pietra já estava ficando sem esperanças, quando meu pai quebra o silêncio.

      - Bom, sozinha você não vai. E já que se sente segura para ir sem um tutor, vá com a sua irmã. Ela parece meio tensa ultimamente.

      Eu gelei. Eles notaram. Meu tio notou, pois ele me encarava seriamente enquanto eu engolia seco. Uma princesa não pode demonstrar suas emoções, e para mim essa era a tarefa mais complicada.

       - Estou tensa pois há dias o America's Royalty disse que entraria em contato e até agora não o fez- menti olhando nos olhos de todos, passando credibilidade.-  Mas creio que um passeio a cavalo poderá me ajudar a liberar essa tensão.

       Minha irmã sorriu para mim e aquilo já fez o meu dia. Acabei de comer e fui colocar uma roupa apropriada para montaria e fui encontrá-la nos estábulos. Resolvi deixar os meus cabelos ondulados soltos mesmo, pois gostava da sensação de cavalgar com eles assim.

Após seis guardas abrirem as pesadas portas da Estábulo Real, adentro o local e logo avisto Celeste. Assim que a minha égua também me viu ela começou a relinchar e a bufar. Caminhei até a sua baia e acariciei seu focinho, e vi que Celeste ficou ainda mais feliz.

- Também senti a sua falta.

Então ouvi o barulho de um balde caindo, e imediatamente um menino que aparentava ter 13 ou 14 anos de cabelos negros e olhos completamente azuis, surgiu de trás da equina.

- Vossa Alteza- ele disse em uma reverência.- Mil perdões, prometo que não acontecerá novamente.

- O quê?- Perguntei confusa.

- O balde de esterco que eu deixei cair. Mas não se preocupe que por sorte não tocou na sua égua!

Eu estava incrédula. Por que ele pensou que eu brigaria com ele por isso? Só se isso já houvesse ocorrido antes.