Rebeldia Real - Trilogia Real - Volume 1

Capítulo 14

Todo o resto do dia passou como um enorme borrão. Lembro apenas de ter de sorrir o tempo todo para não levantar suspeitas.

Exatamente às 22 horas, estávamos todos reunidos em meu quarto. O ambiente era preenchido por um silêncio pesado até que Blackwood falou:

- Estava a caminho de meu turno nos estábulos até que ouvi os soldados Souza e Rodriguez dizendo que o Duque Edgar havia feito negócios com o Reino Unido. Ele negociou em torno de 20 milhões de readdles em troca de favores. 18 milhões iriam para o America's Royalty Stadium e o resto- ele fez uma pausa e olhou para mim- para o seu projeto.

        Meu queixo caiu. Claro, sabia que em algum momento, de algum modo, ele me envolveria na sujeira. Mas mesmo assim foi impossível não ficar surpresa.

Olhei para a senhorita Winter, que parecia estar apreensiva. Captando o meu olhar ela disse gesticulando as mãos:

- A nossa situação me recorda muito a que Portugal viveu durante o Tratado de Panos e Vinhos ou Tratado de Methuen, no qual os ingleses compravam principalmente vinhos de Portugal e os portugueses compravam tecidos da Inglaterra. Por diversos fatores, esse tratado fez com que Portugal importasse muito mais do que exportasse, criando assim uma enorme dívida ao país.

Ela se levantou do sofá e começou a explicar, nos olhando como se estivesse dando aula e nós fôssemos seus alunos.

- Não conseguindo pagá-las, Portugal teve de envolver as suas colônias, principalmente o Brasil.

Brasil, principal antiga colônia portuguesa, agora fazia parte do grande território das Américas Unidas. É um território cheio de riquezas naturais, jazidas de ouro e com um povo muito simpático. Infelizmente já foi muito explorado, até mesmo quando deixou de ser colônia...

- Porém o maior marco foi quando a família real portuguesa em 1807 fugiu para o Brasil em frotas inglesas, para fugir do exército francês após ter infringido o Bloqueio Continental, uma espécie de tratado que impedia os outros países de comercializarem com a Inglaterra, sob pena de invasão do poderoso exército napoleônico. Desse modo, Portugal tentou de diversas maneiras pagar as intermináveis dívidas, chegando ao ponto de enviar toneladas de ouro do Brasil para os cofres ingleses- Continuou.

Senhorita Winter nos olhava com preocupação e tristeza. Ao olhar no rosto de cada um dos presentes percebi que assim como eu, haviam entendido a mensagem. Éramos Portugal e Brasil. O silêncio mórbido voltou a preencher o cômodo até que Matt fala:

- E como as dívidas do Brasil foram quitadas?

Joanne o olhou com pena.

- Ah querido. Elas não foram.

- Durante o Brasil independente, tentaram apagá-las, porém acabaram por criar novas dívidas- falei recordando o que aprendi no ano passado.

Joanne me olhou com orgulho, vendo que eu havia bem aprendido a matéria. Yasmin, até então quieta, questionou:

- Então estaremos endividados para sempre?

Todos os olhares caíram para a entristecida criada, e depois começaram a se entreolhar desesperançosos. Encarava-os incrédula. Como eles estavam desistindo sem lutar?

- Não- todos olharam para mim.- Não seremos tão tolos e gananciosos como Portugal ou manipulados como o Brasil. Sei que se fizermos de maneira justa e honesta poderemos quitar nossas dívidas. - Todos me encaravam ainda incrédulos.- Somos uma nação que surgiu das cinzas, quando tudo parecia estar perdido. E olhem onde chegamos! -Me levantei de sofá e me virei para encará-los-Reconstruímos cidades, unimos povos que jamais pensaram que seriam unidos, fizemos dessa terra nosso lar. E tudo isso por que lutamos. Lutamos unidos em busca de prosperidade para as nossas vidas. Não podemos deixar-nos afundar depois de tanto esforço- olhei nos olhos de cada um.- Não podemos desistir. EU não vou desistir.