Havia tido aquele mesmo sonho, e acordei no chão, aos prantos. Ao despertar dei um berro tão alto, que logo em seguida cobri a minha boca com as mãos, deixando as lágrimas escorrerem por elas e caírem no edredom como duas cascatas. O barulho foi tão intenso que o guarda, que estava de vigia na porta do meu quarto, se assustou e entrou rapidamente, com uma arma já na mão. A cena me espantou mais ainda, fazendo com que um pequeno grito saísse de minha garganta. O soldado observava a cena confuso, até eu me levantar lentamente e o tranquilizá-lo.
- Está tudo bem, eu só tive um pesadelo.
Ele se acalmou, fez uma ronda no ambiente para procurar qualquer atividade suspeita, virou-se e saiu fechando a porta devagar. Me abaixei para pegar o edredom e o coloquei novamente na cama.
Não conseguia adormecer, pois refletia angustiada o sonho. Comecei a me sentir sufocada. Pela gincana, meu tio, meu aniversário e esse mistério sobre a morte de Carl. Parecia que aquelas quatro paredes viriam ao meu encontro e me esmagariam. Rapidamente levantei, peguei o meu hobby verde claro e saí. Havia acabado de pisar para fora do cômodo, quando sou parada bruscamente por uma mão em meu braço.
- Vossa Alteza não pode sair a uma hora dessas.
O sangue me subiu pela cabeça e a raiva passou a me dominar.
- Eu só preciso de ar, e o castelo está cheio de guardas competentes, que claramente sabem o que fazer- os meus olhos faiscavam de ódio, e eu pude ver isso pela expressão do guarda. Consegui me soltar de sua mão e continuei: - E nunca mais o senhor se atreva a encostar um dedo em mim!
Antes de me virar, tive o prazer de ver a expressão assustada no rosto dele. Descia rapidamente as escadas do palácio enquanto pensava: "Eu não deveria ter sido tão dura, mas nenhum guarda pode fazer o que ele fez, a não ser que seja uma emergência. Estranho."
Quando cheguei na entrada para o jardim, os dois guardas abriram as portas, e automaticamente o da direita foi para o lado de fora. Corri pelos jardins com as lágrimas escorrendo descontroladas, e a brisa quente de verão se encontrava com os caminhos de água deixados por elas. A cada suspirada sentia o ar morno em meus pulmões e os meus pés moviam-se com maior velocidade. Deus, não havia sequer passado um mês desde eu ter descoberto sobre o meu tio, e eu já estava naquele estado. Como seria quando eu fosse rainha? Meu coração pesava com o medo e os pensamentos giravam. Não demorou muito para as minhas pernas ficarem bambas e o meu senso de equilíbrio começar a falhar também. Por sorte consegui me apoiar em um banco de pedra, caso contrário desmoronaria no chão.
O meu braço direito estava no acento, contudo eu havia caído quase que sentada, com as duas pernas para o lado e a mão esquerda fincada no chão. O meu corpo inteiro parecia ter cedido, com exceção das mãos que faziam uma força inimaginável. Eu ainda olhava para baixo com a respiração pesada, até ouvir:
- Amberly?
Estava tão concentrada em mim mesma que sequer notei a presença de outro alguém. Olhei para cima tentando esboçar o maior sorriso e vi Bernardo Blackwood.
- Olá, Bernardo.
Ele me olhava assustado. Se levantou com rapidez e me ajudou a sentar no banco. Suas mãos grandes e fortes eram quentes. Agora que a adrenalina havia passado, conseguia sentir um pouco de frio, e ao perceber isso, Bernardo disse:
- Você deve ter deixado o seu hobby cair na correria. Eu pego para você.
Havia tantas preocupações na minha mente, que o fato de ter ficado apenas de camisola na frente de não apenas um, mas dois guardas, não me parecia tão importante. Ao retornar, me ajudou a vesti-lo e sentou-se novamente. Passaram se alguns segundos de silêncio até ele falar:
- Posso saber o que aconteceu para deixá-la neste estado?
Respirei fundo e respondi sem encará-lo:
- Tudo. O meu tio, os eventos, a morte de Carl, o fato de que eu possivelmente não serei uma boa rainha...
- Ei, ei, ei - ele disse incrédulo, o que me fez olhar para ele.- Concordo que ultimamente os tempos não tem sido os melhores, mas discordo totalmente da última parte- encarei-o confusa.- Você é leal, honesta, carismática, sabe ser autoritária e uma boa ouvinte, além de ser uma ótima administradora, estrategista e ter um excelente senso de justiça- ele contava nos dedos enquanto listava.- Você será uma ótima rainha.
Dei um sorriso fraco. E ele, parecendo ler os meus pensamentos, deu suspiro forte enquanto pegava a minha mão, me fazendo encará-lo.
- Tudo bem, lembra daquela vez em que fomos visitar um orfanato e os meninos estavam praticando bullying com um colega, apenas por ele ser manco?- Concordei com a cabeça. - Quem o defendeu?
-Eu.
- E quando Colin precisou de ajuda, quem o acolheu?
- Eu.
- E quem decifrou as pistas de Carl Schnauzer?
- Eu! - A cada frase as nossas vocês se intensificavam.
- E quem organizou uma equipe para desmarcar o maior ladrão e assassino sangue-frio de todos?
- Eu!
- E quem será uma ótima rainha?- Ele pergunta mais baixo.
- Eu- digo quase no mesmo tom. - Obrigada- falo sorrindo.
Ele retribui o sorriso e diz:
- Sempre às ordens.
Sentido-me completamente revigorada, me questiono a razão de Blackwood estar ali.
- Posso saber o por que você estar aqui fora a essa hora?
- Ah- ele olhou para frente e sorriu nervoso. - Eu só fico estressado com funerais. Ainda mais com os de pessoas queridas.
- Então, você já foi a um funeral de alguém que gostava?
- Sim, os de meus pais- ele carregava dor em sua voz.
- Meus pêsames- digo tristemente.
Nunca imaginamos que algum amigo tenha um passado sombrio e vazio, então saber disso pode ser um grande choque.
- Meu pai faleceu em batalha, durante a guerra com o Oriente Médio, quando eu tinha oito anos. A minha mãe faleceu pouco depois, também em batalha. Mas a dela era diferente: contra um câncer de mama. Depois disso fui morar com os meus avós e quando tive idade, vim para cá- Ele observava o céu estrelado. - Quando eu era pequeno, minha avó dizia que os mortos viraram estrelas, e que os meus pais agora são estrelas brilhantes no céu. Desde então, saio a noite sempre que posso, pois assim me sinto conectado com eles de algum modo - ele se virou em minha direção. - Isso é estranho?
- Não, claro que não. Eu entendo. Desde que a minha avó faleceu, gosto de mexer nos pertences dela. Faz parecer que ela ainda está aqui- respondi de ombros.
- Parece que somos mais parecidos do que imaginamos- ele sorriu.
- É, parece- concluí com um sorriso sincero.
Ficamos mais um tempo observando a noite estrelada e então, retornamos ao castelo.
Olá meus súditos fiéis! Eu admito que ainda estou tocada com o passado do Bernardo, e vocês? Espero que estejam bem❤️
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Rebeldia Real - Trilogia Real - Volume 1
De TodoTraição, um país beirando a destruição e sonhos estranhos. Até que ponto Amberly estará disposta a lutar ao lado de sua família a favor da coroa? Capa por: @Aninhapeters Foto da capa: @HannahBlood PLÁGIO É CRIME!