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Acordei sentindo uma ardência no meu braço, e soltei um gemido de dor baixo. O que estava sendo colocado no meu braço foi retirado na mesma hora, forcei meus olhos se abrirem e tentei me acostumar com a luz forte da lâmpada florescente.

Uma mulher negra com os olhos tão negros quanto a noite pairava ao meu lado petrificada e me olhava como se a qualquer momento fosse entrar em colapso nervoso, por um momento pensei que quando caí sobre os cacos da janela que estavam em cima do banco, meu rosto se desfigurou todo.

-Onde eu to? - Perguntei não vendo nenhum produto da loja em que eu caí. A mulher era a mesma, pelo menos o cabelo era parecido já que eu não tinha visto o rosto. - Você tá se sentindo bem? - Perguntei ao ver que ela parecia prestes a vomitar. É, com certeza eu estava horrível.

-Acredita nisso? Ela que acorda de um desmaio, e quer saber se você está bem. - Um homem falou rindo e eu olhei para atrás dela, e vi um homem bronzeado com olhos castanhos escuro nos observando com os braços cruzados. - Você é Kayra Barbosa, a atriz, não é?

-Sim, e vocês são...?

-Sarah e Matt, - A mulher atraiu minha atenção, voltando de seu transe momentâneo. - o que aconteceu?

-Digamos que eu fui sequestrada e causei um acidente pra fugir, são que horas? - Tentei me sentar e ela me impediu.

-Você teve cortes profundos nos braços, perdeu muito sangue. - Sarah voltou a limpar meu ferimento e eu notei que estava com uma blusa rosa de alça, e um short de pano fino colorido, aquelas roupas não eram minhas.

-São quase 6 da manhã. - Matt respondeu minha pergunta e suspirei.  Não sei por quanto tempo apaguei, só sei que Shawn deve estar preocupado, se tiver bem. - Você apagou por 1 hora e meia. - Ele respondeu como se lesse minha mente.

-Pronto, cortes limpos. - Sarah falou se levantando, me sentei devagar e olhei ao redor. A casa era simples, a cozinha e a sala não tinha nenhuma separação, e uma porta indicava o banheiro, e a outra um quarto, dava para ver a cama de casal e um ventilador que ficava rangendo enquanto rodava.

-Obrigada. - Murmurei e ela sorriu para mim. - Você é enfermeira, médica, ou algo do tipo? - Matt começou a rir.

-Acho que ela bateu a cabeça muito forte. - Franzi o cenho sem entender. - Trabalhamos naquele posto de gasolina.

-Ela não é obrigada a saber disso, querido. - Sarah respondeu e voltou da cozinha com um prato com arroz, feijão, batatas cozidas e um pote com salada de alface. - Não é muito, mas deve estar com fome e vimos na internet que você gosta disso. - Minha barriga roncou e eu me senti envergonhada por isso, mas ela apenas riu e me entregou o prato, comecei a comer sem pensar duas vezes.

-Em que lugar de Los Angeles eu estou? - Perguntei depois de mastigar minha quarta garfada, os dois se entreolharam e eu franzi o cenho.

-Tecnicamente, você não está mais em Los Angeles. Está a duas horas de San Francisco! - Matt respondeu e meu estômago embrulhou, de Los Angeles para San Francisco eram quase 6 horas, eu fiquei mais ou menos 3 horas em um carro com um louco. - Quando te encontramos, ou melhor, quando você nos encontrou era quase 3 da manhã.

-Eu preciso falar com o Shawn, saber se ele tá bem.

-Não prefere falar com a polícia primeiro? - Sarah perguntou, ela estava certa em uma parte, mas eu precisava saber do meu namorado.

-Eu quero falar com o meu namorado primeiro. - Respondi decidida e ela assentiu.

-Ela já acordou, eu vou voltar para o posto. - Matt resmungou antes de dar um selinho em Sarah e sair. Fiquei com a impressão de que ele não gostou de me ter ali.

-Desculpa, não queria causar nenhum problema pra vocês.

-Não foi culpa sua, e não liga pro Matt. - Ela sorriu e me entregou o celular dela, era simples e estava com a tela quebrada. - Eu não tenho crédito, mas pode usá-lo.

-Obrigada. - Falei baixo e ela sorriu e se afastou, indo pro quarto, provavelmente pra me dar privacidade.

Eu sabia o celular de Shawn de cabeça, por alguma razão, nas últimas semanas eu ficava repetindo o número dele com medo de esquecer. Digitei os números e senti meu estômago embrulhar.

Depois de exatos 7 toques, a voz dele soou.

-Alô? - Sua voz demonstrava que ele andara chorando.

-Shawn? - Falei sentindo meus olhos lacrimejarem.

-Kayra? Amor, é você? - Fechei os olhos e agradeci todos os seres divinos por ele estar bem. - Aonde é que você tá, meu amor? E de quem é esse número?

-Sim, sou eu. O Philipe... ele foi na empresa com o seu carro e eu, pensando que fosse você, entrei no carro sem me certificar de que não era, depois disso ele simplesmente saiu correndo como un louco, eu tive que causar um acidente e agora um casal está me ajudando, esse telefone é dela. - Tentei resumir ao máximo enquanto controlava minha voz para não sair desesperada. - Eu estava tão preocupada com você!

-E eu com você! - Ele respondeu no mesmo instante. - Tenta me mandar seu endereço por mensagem, eu e a polícia vamos te buscar. Eu te amo.

-Tá bom, eu também te amo. - Finalmente soltei todo o ar que estava prendendo e chorei baixo.

Sarah mandou o endereço por mensagem e me deu um casaco enquanto esperávamos.

-Por que Matt riu quando eu perguntei se você era médica? Eu sei que foi uma idiotice pensar isso levando em conta o fato de vocês estarem trabalhando no posto de gasolina quando eu os encontrei, mas não foi uma ideia tão absurda assim já que você é muito boa nesse lance de curativos e tals. - Perguntei me sentando em uma cadeira mais próxima da pia, eu havia insistido para lavar a louça que eu sujei, mas ela não deixou.

-Porque ser médica sempre foi meu sonho, mas não deu muito certo. - Ela deu de ombros.

-O que aconteceu? - Perguntei a observando e a estudando. - Desculpa perguntar.

-Não se preocupe. Acontece que eu engravidei e meu pai me colocou para fora de casa quando descobriu. - Ela apontou para o quarto com a cabeça e pude ver uma criança deitada, não tinha mais que 3 anos. - As coisas não deram certo nem pra mim, e nem pro Matt.

-Algo deu certo, porque vocês estão juntos. Talvez só sofreram um pequeno atraso, apenas isso.

-Você não engravidou na adolescência, não sabe como é. - Ela respondeu, não parecia querer me machucar, mas o fato de eu não poder ter um filho, fez com que eu me sentisse ofendida.

-Minha melhor amiga engravidou na adolescência, pra mim foi quase a mesma coisa. - Respondi seca e ela me observou. - Você terminou seus estudos? - Perguntei voltando a minha curiosidade sobre a vida dela.

-Não deu tempo, parei no último ano.

Fiquei imaginando quantas meninas adolescentes foram expulsas de casa depois que contou aos pais sobre gravidez, quantas tiveram seus filhos assumidos pelos pais das crianças e quantas delas ficaram solteiras e sem amparos.

Eu estava com a minha primeira escola quase pronta, e começando a construir outras. Mas não são apenas as crianças que precisam de uma base, os adolescentes também, e Sarah tinha acabado de me dar uma ideia nova, outra ideia que mudaria vidas.

XX

Eu empaquei no epílogo, sinceramente eu não sei mais o que fazer e não quero que seja algo vazio. O epílogo da primeira temporada ME FEZ CHORAR DE TRISTEZA e dessa vez eu quero chorar também, só que de alegria, mas nada me vem à cabeça.
Espero que tenho gostado, volto em breve. Amo vocês, fiquem em casa!

Destiny: Trying Again - Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora