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Entrei no local onde a festa estava acontecendo. Não sabia de quem era a festa e isso pouco me importava. A raiva me consumia e o cansaço de ter aquilo como rotina também. Adentrei no jardim da casa onde mais haviam pessoas bebendo e dançando e logo o vi. Fui em direção a ele pisando forte na grama, como se de alguma forma fosse amenizar a raiva que eu sentia naquele momento. Como de costume ele segurava uma garrafa e estava numa roda de amigos conversando, bebendo e fumando. 

Quando cheguei perto o suficiente para ele me escutar, não me dei o trabalho de cumprimentar ninguém ao redor. 

- Você disse que ia ficar em casa! - falei alto para que ele me escutasse. 

Quando ele me viu em sua frente, um sorriso malicioso surgiu em seus lábios, suas mãos envolveram minha cintura com tanta força que chegaram a causar dor.

- Decidi me divertir, docinho  - ele falou calmo. 

A forma sobre a qual suas palavras saíram tão calmas, me deixou ainda mais nervosa. 

- E não podia me avisar? Quando vai parar de fazer isso comigo? - minha voz soava raivosa. - Estou ficando cansada disso, Steve. 

Tirei seus braços da minha cintura de forma bruta, mas seu rosto foi tomado pela raiva quando fiz isso. Ele não gostava de ser contrariado e eu sabia disso melhor que qualquer um. 

Ele segurou meu braço direito com uma força desnecessária, provavelmente aquilo deixaria hematomas, ele foi me arrastando até o fundo do jardim e a música já estava mais baixa. 

- Por que veio até aqui? - ele parou na sua frente e soltou meu braço.

- Você me disse que ia ficar em casa e depois recebi uma foto sua! - o problema não ele sair e sim o fato dele mentir pra mim. 

- Eu vim me divertir, Alice. 

- Por que não me chamou? Eu teria vindo junto - cruzei os braços. 

- Por que eu iria querer que você viesse? - ele tomou um gole da cerveja que estava na mão. A entonação de sua pergunta me fez sentir diminuída. 

- Sou sua namorada, não se esqueça disso. Era pra gente se divertir juntos - apontei um dedo na cara dele. - Era pra fazermos as coisas juntos. Como companheiros. 

- Não seja tola, Alice. Vá embora pra casa e não volte a dar esses surtos comigo de novo - ele vociferou. 

- Eu não vou pra casa se você também não for - ergui uma das sobrancelhas como se estivesse o desafiando, o que ele não gostou nem um pouco. 

- Você vai pra casa agora, porra. Conversamos amanhã. - ele saiu andando em direção ao barulho novamente, me deixando sozinha. Tampouco se importou de como eu voltaria pra casa.
Desistindo de conversar com ele, fui andando pra casa novamente.

Quando cheguei em casa, corri para meu quarto, mas antes que eu me trancasse lá dentro, Noah saiu de lá, me encarando com uma cara nada boa. 

-Você não deveria ter saído, está tarde - ele cruzou os braços se escorando na porta. Seu rosto expressava uma preocupação sincera. 

- Me deixa em paz, Noah - entrei no quarto e bati a porta. 

Noites como essa já faziam parte da minha rotina. Saber de alguma coisa que Steve estava fazendo e ir atrás dele, depois voltar para casa com palavras amarguradas que saíram de sua boca e logo, encontrar Noah com sua preocupação irritante.

No início, eu fiquei grata de que Noah não fosse um completo babaca e até se preocupasse comigo, mas eu não gostava de quando alguém fazia perguntas demais. Quando começamos a morar todos juntos, foi um momento detestável. Papai tinha se casado com Sarah e obviamente ela trouxe seu filho junto. Pensei que o filho da minha nova "madrasta", fosse um idiota, mas a medida que os dias se passaram, Noah se mostrou uma pessoa compreensiva. 

Entretanto, passado algum tempo eu me irritei com suas perguntas e indagações, as vezes ele demonstrava cuidados demasiados, chegando até a me deixar desconfortável. Me irritava saber que Noah era assim e me irritava também o fato de que eu gostaria que Steve fosse assim. Ao contrário de Noah, Steve era despreocupado com tudo. Principalmente com o nosso relacionamento. O que ocasionalmente me fazia sentir solitária. 

Quando começamos a namorar, as coisas eram bem diferentes. O meu Steve de antes era romântico e amável. E talvez, com o tempo o nosso relacionamento foi se desbotando e por mais que eu tentasse reacender aquela paixão que sentíamos um pelo outro, não pude fazer nada. Suas palavras afetuosas se tornaram ásperas, seu jeito tenro de ser se tornou rude. Até o modo que ele me tocava mudou. Antes era como se eu fosse algo de porcelana, me tocava como se tivesse medo que algum dia eu pudesse quebrar. Seu toque com o tempo se tornou grosseiro, algumas noites eu voltava para casa com pequenos hematomas pelo corpo.

A nostalgia que a época me causava, quase sempre me dava uma ajuda. Por mais que suas palavras e gestos tenham se degradado com o tempo, as lembranças ainda continuavam lá, expostas sobre vários quadros mentais de um passado memorável e marcado em meu coração.

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