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Eu me sentia sozinha. Apesar de Tina e Oliver estarem me rodeando nos últimos dias, eu me sentia só.
A única que eu conseguia pensar era nele.
Do toque dele.
Da risada dele.
Dos olhos dele.
Dos lábios dele.
Nas mãos dele.
Em seu perfume.
No timbre da voz.
O calor que ele trazia quando estávamos juntos.
Eu estava carente. Talvez essa fosse a palavra adequada. Carência.
Todavia, eu me sentia furiosa demais para voltar agora. Se eu voltasse naquele instante, as coisas íam piorar. Ao menos, era disso que eu tentava me convencer. Eu deixaria a tempestade cessar antes de regressar aos braços dele. Eu poderia viver alguns dias sem ele.
Só alguns dias, até tudo se acertar na sua cabeça, eu me consolei mentalmente. 

Os sons que eu escutei quando estava no banheiro ainda permaneciam na minha cabeça. Eu podia até mesmo imaginar como era Scarlett. Alta, morena e claro, extraordinariamente bela.
Estava tentando imaginar mais detalhes da tal Scarlett quando escutei algumas batidas leves na porta. 

- Pode entrar. - endireitei a postura na cama. 

Eu pensava que Tina ou até mesmo Noah entrasse por aquela porta, mas me surpreendi quando vi a silhueta de Sarah surgiu no quarto. 

- Eu trouxe uma carta para você. - ela balançou a carta nas mãos. - E pensei que talvez pudesse aproveitar para conversar com você. - ela colocou a carta na escrivaninha e virou a cadeira para se sentar na minha frente. - Acho que começamos com o pé esquerdo. 

Ela achava que começamos só com o pé esquerdo? Era um eufemismo, porque nós começamos da forma mais errada possível. 

Cruzei os braços tentando transparecer que não importava o que ela me dissesse, eu não mudaria nem um décimo da minha opinião sobre ela. 

- Você provavelmente ainda não sabe como o seu pai e eu nos conhecemos. - ela me olhou em busca de que eu afirmasse, mas apenas prosseguiu quando percebeu que eu não daria o braço a torcer. - Eu trabalhava num restaurante e na época, eu estava no processo de divórcio com o pai do Noah. As coisas estavam bem difíceis pra mim, eu ainda amava o meu marido, mas ele simplesmente acordou um dia e disse que não me amava mais. As coisas a partir daquele momento, despencaram. 

Ela parou de falar por um minuto e enxugou uma lágrima solitária em seu rosto. 

- Eu continuei trabalhando, pegando vários turnos e várias outras coisas que eu podia. Eu precisava desesperadamente de um jeito de sustentar Noah, já que o pai dele não nos deu uma ajuda muito grande. 

- Onde meu pai entra nessa história? - falei tentando ir direto ao ponto principal.

- O restaurante funciona também como um bar noturno. - ela suspirou. - Nas noites em que eu pegava turno, sempre aparecia um homem. E ele se sentava sempre no mesmo lugar, pedia sempre a mesma bebida e nunca conversava com ninguém. Permanecia quieto em seu canto e depois que pagava a conta, ia embora. Ele repetia essa rotina todas as semanas. Sem que eu percebesse, eu fui prestando atenção nele. Me vi pegando sempre os turnos noturnos para vê-lo. E então, um dia eu apareci no dia em que eu não trabalhava e me sentei com aquele homem. Quando ele me olhou, não fez nada, não disse nada e tampouco me pediu que eu saísse dali. Desde aquele momento, eu aparecia e me sentava quando não estava trabalhando. Nós apenas nos sentávamos lá e permanecíamos em silêncio. 

Não me admirei com isso, Robert desde sempre foi uma pessoa quieta e o silêncio parecia ser a sua melhor companhia. 

- Um dia, ele disse que não a amava mais. Óbvio que eu não entendi nada e perguntei o que ele queria dizer com aquilo. Ele me explicou que estava casado há um tempo, mas não a amava mais. O casamento tinha virado só mais uma rotina e isso o incomodava porquê ele nutria um carinho muito grande por ela, no entanto não a amava. Ele temia se divorciar pelo carinho e pela filha, mas ao mesmo tempo disse que ele ficaria preso pra sempre. 

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