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Noah chegou rápido e quando entrei no carro, esperei por uma tonelada de perguntas, mas surpreendentemente ele nada disse.

- Você avisou a eles que vinha? - quebrei o silêncio. 

- Eles estão dormindo. Não sabem que eu vim te buscar. - ele falou sem tirar a atenção da rua na sua frente.

Algumas lágrimas rolaram dos meus olhos e não pude evitar pensar no que tinha acontecido.

- Não vai perguntar o que aconteceu? - passei uma mão sobre o rosto, tentando enxugar as lágrimas. Não era o momento adequado para desabar.

- Você quer me contar? 

- Não. 

- Então não vou perguntar. 

Olhei para Noah ao meu lado que dirigia e de alguma forma, me senti reconfortada. Pensei que ele me faria perguntas sobre o porquê ele ter que me trazer para casa, sendo que eu saí de casa feliz por ir com Steve. O fato de Noah não ter me enchido de perguntas, significou algo pra mim.
Quando ele estacionou o carro na garagem, entramos na casa em silêncio para que Robert e Sarah não acordassem. 

- Você quer um chá? - escutei a voz de Noah baixa quando coloquei o pé no primeiro degrau. 

- Não. - comecei a subir a escada, mas parei no meio do caminho. - Vou querer sim. 

Voltei para a cozinha e me sentei enquanto Noah colocava a água para ferver.

- Você parece gostar bastante de chá. 

- Meu pai era dono de uma loja que vendia chá. Acabei me acostumando. - ele colocou duas xícaras sobre a pia e veio se sentar numa cadeira à minha frente. 

- O que houve com ele? - perguntei em súbito, mas me arrependi pensando que tinha cruzado uma linha de intimidade que ainda parecíamos não ter. 

Noah permaneceu em silêncio por alguns segundos, tamborilando os dedos sobre a mesa. 

- O de sempre. O casamento dos meus pais não deu certo. - ele ainda permanecia com os olhos focados nas próprias mãos. - Às vezes, tenho inveja de você, sabe? 

- Por que? - franzi o cenho, como ele poderia ter inveja da minha situação? 

- Você tem seu pai aqui. - ele deu ombros. 

- É, mas não tenho uma mãe. - sorri com um quê de ironia. - E não é como se Roberto fosse um pai de verdade. 

Ele me olhou por alguns milésimos de segundos antes de se levantar para colocar o chá nas xícaras. 

- Ele anda tentando. Você deveria dar uma chance pra ele. - ele colocou uma xícara sobre a minha frente.

- Você não sabe de nada. - murmurei com desgosto. 

- Ele é o seu pai. Não acha que isso deveria ajudar no processo de perdoá-lo? 

- Exatamente porque ele é o meu pai que eu não consigo perdoá-lo. Parece que ele ter me doado vinte e três cromossomos faz com que ele seja automaticamente perdoado. - soltei uma risada baixa e abafada. - Você deve saber o que aconteceu, afinal é filho da nova esposa dele. 

- Eu sei o que aconteceu, mas isso já faz algum tempo. Ele já se arrependeu, não é? 

- Eu não me importo que ele se arrependa profundamente, porque isso não faria diferença pra mim, não mudaria o que ele fez. - soltei as palavras amargamente. 

Não importa o quanto ele esteja arrependido, porque ele não só me causou problemas, como também não ajudou minha mãe. Por que ninguém podia simplesmente me deixar ficar irritada com isso?

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