Imersa

0.8

- Então você não tem uma cor preferida? - perguntou Noah. 

Ele estava debruçado na minha cama, enquanto eu tentava escrever o meu trabalho de história. Noah realmente tinha levado a sério quando disse que queria ser meu "amigo", mas eu ainda achava que ele era meio intrometido. Ele tinha passado o dia me fazendo perguntas desnecessárias alegando que queria me conhecer melhor. 

- Eu apenas acho todas as cores lindas, por que tenho que ter uma favorita? 

- A cor preferida de uma pessoa fala muito sobre ela.

- Como o quê? - me virei na cadeira, para que pudesse vê-lo. 

- Pessoas que gostam de vermelho por exemplo, têm uma inclinação para serem atraídas mais pelo mundo mental do que emocional, elas não costumam gostar de situações que dependem da emoção. - ele continuou falando, pensativo. - Quem gosta de verde em geral é uma pessoa calma e paciente e são pessoas que vivem de forma mais livre e espontânea. Como a natureza. Por isso a relação das cores com a personalidade de alguém. 

- Onde você aprende tanta bobagem?

- Não é bobagem. Eu gosto de amarelo. Sabe quais são as características de quem prefere amarelo? 

- Não sei, mas aposto que você vai me contar. 

- Pessoas que gostam de amarelos tendem a ser pessoas extrovertidas e sem problemas com a exposição. São pessoas felizes, já que amarelo é uma cor alegre e quente. - ele parou por um minuto. - Acho que eu sei qual seria a sua cor.

- E qual seria Noah? - perguntei nem um pouco curiosa.

- Preto. - ele falou com uma  confiança na voz. - Pessoas que gostam de preto são introspectivas e até mesmo soturnas. Você deve gostar do silêncio e de paz, por isso fica enfurnada nesse quarto quando não está saindo com seu namoradinho. 

- Odeio quando você usa esse tom irônico para falar do meu namorado. 

- Não vou com a cara desse sujeito. Ele é presunçoso e é arrogante. - a voz de Noah aparentava uma certa irritação. 

- Por isso ele é o meu namorado, não o seu. - revirei os olhou para ele. - Não sei porque não gosta de Steve, eu o acho maravilhoso. 

- É claro que acha. - o sarcasmo estava bastante claro na sua voz. - A gente nunca percebe o quão idiota a pessoa é enquanto está num relacionamento com ela. 

Virei novamente a cadeira para a mesa, tentando me concentrar no meu trabalho.

- Guarde sua opinião para si. - falei enfurecida. 

Eu não gostava que ninguém falasse mal de Steve. Ele tinha seus defeitos, como todos têm, mas ele era bom pra mim. Ele foi a pessoa que mais me deu apoio depois da morte da minha mãe. Isso fazia dele uma boa pessoa. Ao menos um pouco. 

Mas nada disso importava. Ele me amava. Eu o amava. Era só o que importava de verdade. 

- Desculpa. - ele falou percebendo a minha irritação. - Guardarei minha opinião sobre o seu namorado para mim. 

- Isso é bom. - concordei e comecei a digitar meu trabalho sobre Rosa Parks.  

Quando deixei as palavras fluírem, senti a respiração de Noah bem perto de mim, causando-me arrepios. 

- O que foi agora, Noah? Preciso concluir isso aqui. - murmurei. 

- Quem é Rosa Parks? Nunca ouvi falar sobre ela. 

- Resumindo: ela se negou a dar lugar a um homem branco no ônibus. Rosa é um ícone dos ativistas que lutaram contra a segregação racial. 

- Parece interessante.