Capítulo 7

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Já fui sobrepujado a muitas ocasiões que fizeram sentir-me receoso,mas agora mais do que nunca,estou com um medo avassalador.A expressão que Malévola me encara é assombrosa.Minha imaginação se torna uma fábrica de ilusões que parecem se aproximar da realidade.

"E se aquele frasco não fosse dela?"

"E se fosse caro?"

"Qual maneira ela vai escolher pra me castigar?"

"Será que vou passar o resto da minha vida preso em corpo de verme?"

-Diaval...-minha senhora fecha os olhos e vira seu rosto para o lado,claramente tentando ao máximo não me olhar.Ela respira o mais profundo que é possível aos seus pulmões.Uma forma clássica que havia aderido para tentar controlar seus ataques de fúria.Aurora a ensinara.

Dava certo uma a cada cem vezes.

-Senhora,não mate! -eu me debruço no chão em cima do tapete branco e macio que havia em seu quarto,que era tão belo quanto o meu.Minha atitude podia ser considerada uma demasia,mas essa situação implorou para que eu me submetesse a tal coisa -Sei que está brava,mas me perdoe,por favor!

Malévola não responde.Levanto meu semblante para observar seu rosto e vejo que uma expressão embaralhada havia sido formada nele.Ela claramente não ia me perdoar.

-Eu posso consertar,me dê só alguns dias! -continuo meu discurso em busca de salvar minha vida,dedos das mãos entrelaçados tremendo.

-Diaval...

-Por favor,senhora,não me machuque! -sou interrompido.Me vejo sem poder falar mais nenhuma frase,nenhuma palavra,nenhuma letra.O único som que sai de minha boca é aquele que nasceu comigo:o crunhido de corvo.

-Será possível que só assim eu consigo te calar? -Ouço a voz de minha senhora,aparentemente calma.Talvez minhas súplicas tivessem surtido o efeito desejado -Olha,eu só levei um susto -ela solta um suspiro -E...bem,eu não ia te matar por causa de um frasco de perfume se é isso que te perturba.

Fico surpreso.Ela tinha controlado a raiva?Acho que vou pedir a receita de Aurora depois disso.Apenas cruno e me arrisco a voar mais perto dela,pousando em um móvel amadeirado que se dispunha ao seu lado.Ela olha para mim ligeiramente e põe a mão na testa em seguida.

-O que você tem? -prossegue,aparentemente indignada -Achei que confiava em mim,mas sua atitude não me mostrou isso.

Minha mente começa a vagar confusa.O que minha senhora queria dizer com aquilo?Ela parecia muito mais sensível e vulnerável,apesar de tentar manter a força de sua voz.Eu a conheço a tempo demais para acreditar que estava falando em tom normal.Ela titubeava,de uma forma estranha.

-Uma coisa me entristece em você e não são seus deslizes -minha senhora diz enquanto pega na mão seu cajado escuro que se acostumou a usar quando perdera sua coordenação junto a suas asas,mesmo não precisando mais dele agora -O que mais me magoa são seus temores e dúvidas que ainda tem a meu respeito -a fada me fixa,olhos um pouco lacrimosos. -Você é importante para mim e eu não te faria nenhum mal.Só não acho necessário ficar falando isso.

Vejo-a suar mais que o normal,como se estivesse um pouco nervosa e posso ouvi-la sussurrando para si mesma algo como "Por que eu disse isso?"
Mas de certa forma,suas palavras me atingiram,da mesma maneira que uma flecha de um arqueiro experiente atinge o centro de seu alvo.Ela havia dito que eu era importante.Isso significa que não sou só um servo,um corvo insolente.Não mais.

Sou especial na vida dela.Hoje,ela mostrou que me considera,de alguma forma,do seu jeito.Sinto uma pitada de esperança no meu ser.Minhas inseguranças,meus exageros,aquilo tudo...era bobagem.

FEELINGS-MALÉVOLA E DIAVALOnde histórias criam vida. Descubra agora