Capítulo 40

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Malévola

Estava tudo escuro e turvo.Meus olhos não conseguiam se abrir.A única coisa que eu sentia era uma dor agonizante em minhas asas e cabeça.Todo o restante do meu corpo parecia simplesmente imóvel e não obedecia a meus comandos mentais,de forma que pude deduzir que meus membros estão paralisados.A medida que retomo minha consciência,ouço algumas vozes,que parecem vir de um além bem próximo.Não consigo saber se é sonho,ou realidade,mas consigo decifrar o que elas dizem:

-Fraturou? -uma delas pergunta,e aparenta estar preocupada.

-Sim,e parece ter sido grave. -a outra responde.Apesar de meu corpo estar dormente,eu posso sentir quando o dono de uma das vozes pega em uma de minhas feridas e aquilo doeu bastante,a ponto que gritei.

-Tem de ter mais cuidado! -advertiu a voz mais grossa,se aproximando de mim,que estou deitada numa coisa parecida com uma das camas do palácio -Não é assim que se mexe em um ferimento tão profundo.

-Acha que ela pode voltar a voar depois disso?

-Só o tempo dirá. -respondeu -Mas creio que sim.

Abro meus olhos.A luz do sol me indica que dormi o restante daquela noite depois de minha queda.Ou talvez,tenha permanecido desmaiada por todo este tempo.Não consigo deduzir o horário,se é tarde ou manhã,mas percebo que é outro dia.Minhas íris ardem muito com os raios luminosos que adentravam por algumas brechas da caverna.Apesar de terem toda a floresta de Moors a sua disposição,as trevosas insistem em viver neste oco rochoso,que construíram no local.

-Ela acordou,Guido! -um fada-macho que agora podia ver em minha frente gritou. -Malévola...você consegue me ouvir? -ele me dirige a palavra.

Aceno positivamente com a cabeça,por mais que meu pescoço estale ao fazer isso.Não havia uma parte sequer de mim que não doesse.Me voltou a memória a última batalha que tive com Stefan,ao acordar Aurora do sono profundo.Ele me atacou com ferro e correntes pesadas e por pouco,não encravou uma faca em meu peito.Minha aflição naquela guerra era incomparável,mas a de agora parece estranhamente pior,mesmo que nenhum material ferroso tenha tido contato com minha pele.

-Ela está consciente,senhor? -um outro fada questiona ao que neste momento me examina com cautela.

-Sim,infelizmente.-o trevoso lamenta e fico me perguntando o porquê -Traga aquele material que te falei.Vamos ter que dar conta disso. -ele pega em meu ombro,virando meu corpo.No meu natural,eu com certeza me afastaria ou tiraria as mãos dele de mim,pois odeio toques físicos,porém eu não tenho estímulo para mexer nem um dedo sequer.

-Não podemos fazer o processo com ela acordada!

-Nós devíamos ter feito esta cirurgia ontem,mas não foi possível.Agora temos que costurar esta lesão na asa o quanto antes! -o fada que me tocava adquire uma rígida compostura -Se infeccionar,vai ser muito pior.

Silêncio.Ouço apenas os passos de ambos saindo do local.Um temor toma conta de meu ser.Por que eu tinha de acordar logo agora?O que eles vão fazer comigo?Por que as minhas asas doíam tanto,ou melhor,por que meu corpo inteiro doía tanto?Aquilo tudo era horrível!

Pouco depois,os dois fadas parecem voltar com reforços.Não me virei,não olhei para ver o que tinham trago consigo.Eu já tinha uma ideia.Já podia sentir o que eles iriam fazer.

-Água,por favor!Ela está desidratada. - um deles põe a mão nos meus lábios levemente.

-O senhor tem certeza que não quer esperá-la dormir? -o outro responde temeroso.

-Guido,ela não vai dormir,nós temos que fazer isto logo!

Em seguida,é colocado um familiar líquido em minha boca e sinto um alívio.Mal me lembrava a última vez que tinha bebido aquilo.

FEELINGS-MALÉVOLA E DIAVALOnde histórias criam vida. Descubra agora