Capítulo 38

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Malévola

Se passaram incríveis três dias.

Três dias desde que tomei a pior decisão da minha vida,dando a ela uma direção que eu não queria que seguisse.Três dias que aceitei me casar com Borra,para salvar as trevosas,que acreditam com todas as forças que filhos meus são a solução para tudo.

Infelizmente,não sou capaz de sentir o mesmo.Como se esta história de ter filhos fosse algo impossível.Eu não me vejo assim.Talvez seja pela tristeza que me abate e não me permite visualizar saída para nenhum problema.

Eu estava péssima.Estou péssima.Dentro de meu ser,tudo que sou capaz de sentir é uma angústia profunda que parece aumentar a cada dia que meu casamento de fachada se aproxima.

Este sentimento me é familiar,pois já tive a oportunidade de passar por ele antes,quando quase perdi minha filha por uma maldição que eu mesma havia causado.No momento que a vi,deitada naquela cama gigantesca,senti meu coração perdendo a velocidade normal.Foi uma das piores coisas que já presenciei em minha existência.E tinha convicção que a culpa era toda minha.Mas esta convicção só me fazia ficar pior.

No final,tudo acabou bem e toda essa tristeza foi embora,pois Aurora despertou,da forma que nunca imaginei que despertaria,através do meu amor verdadeiro,que possuía dentro de mim,mesmo não acreditando mais nele.Quando ouvi a doce e melodiosa voz de minha filha falando um "Olá,fada madrinha" ,a alegria tomou conta de meu ser e eu fiquei bem outra vez.

Só que agora,parece que nada vai mudar,como se o final feliz que fui acostumada a conviver em todos os meus dilemas não existisse mais.As coisas estão bem longe de se tornarem um conto de fadas e terei de me adaptar a isso.Não tenho mais liberdade de escolha e não posso mais voltar atrás.Me casarei com Borra pela sobrevivência de minha espécie,mesmo que não seja isso o que quero para mim.

Mesmo que seja a última coisa que eu faça.

Desde que anunciei as trevosas que iria fazer o que elas querem,perdi as forças para comer e beber.E não o fiz mais após dar este comunicado.Permaneci apenas deitada na toca,imóvel feito uma pedra.Sinto meu corpo implorando por alimento,mas a verdade é que perdi totalmente a vontade de saciá-lo.Nada mais faz sentido.

Algumas crianças trevosas tentam se aproximar de mim e me animar,trazendo presentes como algumas flores coloridas,porém os pais delas as afastam antes mesmo que possam iniciar comigo um diálogo.Eles dizem que preciso de privacidade e que não se deve perturbar a líder do bando.Isso me deixa triste,pois eu queria dizer aqueles infantis que eles não me incomodam de forma alguma e que até gosto dos arranjos florais que fazem para mim,mas estou tão debilitada que mal consigo falar um olá.

Zeyn,diferente das criancinhas,parece não notar meu estado deplorável.Tudo que posso observar que ele está a fazer é se preocupar com os preparativos de minha cerimônia e coisas parecidas.Todos os dias,seu assunto é o mesmo.

Meu casamento com Borra.

Já não aguento mais ouvir isso.

Se eu estivesse saudável o suficiente,explodiria esta toca em dois tempos,e não faria questão de consertar,mas parece que até minha magia está se dissipando de mim.Eu não consigo liberar mais nada.Nenhuma faísca sequer.É como se toda minha força estivesse se esvaindo.

Como se eu estivesse desfalecendo.

-Ela não parece estar muito bem,Zeyn. -ouço uma voz feminina falando,assim que abro meus olhos,após acordar de um sono nada reparador.Deduzi que estavam comentando sobre minha pessoa.

FEELINGS-MALÉVOLA E DIAVALOnde histórias criam vida. Descubra agora