Capítulo 42

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Malévola

É hoje.

Hoje é o meu casamento na tribo das trevosas.Hoje a minha vida muda para pior por completo.Hoje eu sacrifico tudo para proteger meu povo de uma extinção,mesmo que para isso tenha que extinguir a mim mesma.Me sinto como se tivesse sendo apagada a cada minuto,como se estivesse perdendo toda minha consciência.Já não tenho forças nas minhas pernas para andar direito e minhas asas também estão seguindo o mesmo caminho desde que fraturaram.Tudo em mim está desfalecendo aos poucos.

Eu não tenho ânimo,e todos os meus membros se tremem e estão gelados,independente das condições climáticas serem totalmente o reverso disso.É como se eu estivesse despida de roupas em um dia de neve fora de Moors.Tive a sensação de presenciar tal estação apenas uma vez,quando ainda era amiga de Stefan e de vez em quando,passeava pelos reinos humanos escondida ao lado dele.Lá as estações são bem definidas e possuem quatro delas.O inverno é uma das piores na minha opinião,pois é muito frio e não sou capaz de me aquecer,por mais que tente.A neve encostava na minha pele e ardia numa semelhança ao ferro,só que sem causar ferimentos ou lesões.

O meu interior parece totalmente petrificado,como as rochas da floresta e nem um sorriso consigo abrir,mesmo que a ocasião de um casamento seja de alegria como dita as tradições.A verdade é que eu não queria que nada disto estivesse acontecendo e tenho total conhecimento que é tarde demais para pôr um fim a esta minha angústia,pois como líder,não posso revogar a minha palavra,nem sequer uma vez.Eu tenho de prosseguir com tudo,independente da minha eterna infelicidade.

-Não quer comer nada,senhora? -uma das trevosas se dirige a mim,me chamando da forma que Diaval me chamava.Apenas mexo minha cabeça negativamente,apesar do meu corpo implorar por qualquer migalha de comida e eu possa sentir que estou enfraquecendo a cada minuto que passa com a ausência dela no meu organismo.Mas eu não queria comer,não queria beber.A única coisa que eu desejo não me pode ser concedida,então pouco me vale o resto.

Eu não costumo chorar,pois acredito ser um símbolo de fraqueza.Porém com a oportunidade que acabo de ter para ficar sozinha,após dias e dias sendo acompanhada por diversas fadas que cuidavam de minha saúde como podiam,me permiti lacrimejar.Lacrimejar muito.Abafo um grito de dor com a cabeça entre meus joelhos,sentada no chão rochoso da caverna nada macio ou confortável.Sinto a minha alma pedir socorro e meu corpo pedir comida,mas me vejo inapta para atender ambos.

Esta coisa...Esta coisa que agora se passa dentro de meu ser é ruim e me deixa mais vulnerável a cada instante.Eu sinto minhas forças,meus poderes,minha vida se dissipar,como água jorrando por entre meus dedos.Eu me sinto perdendo tudo,inclusive a mim mesma aos poucos.

Eu me sinto perdida.

Diaval se foi para sempre e ele me decepcionou,como nunca imaginei que fosse capaz.As suas palavras naquela nossa última conversa,se é que pode ser considerada assim,me lembraram Stefan vagamente,e meu fiel e bondoso amigo pareceu simplesmente sumir,dando ar e vida a uma pessoa completamente diferente dele naquele instante.Era um pesadelo de minha existência retornando,uma coisa que eu jurava nunca mais acontecer comigo,se repetindo novamente.

A quebra de meu coração.O dizimar de meus sentimentos.

O mais estranho é que por Stefan,eu senti ódio.Eu senti fúria.Senti ira.E esta ira me fez vingar-se dele,cometendo o maior erro da minha vida.Só que agora,por Diaval,não consigo demonstrar tal cólera,como se a perca dele fosse algo que meu espírito entendesse de forma contrária e diferente da perca de Stefan.

O "rei" havia tirado minhas asas de mim,me causando uma das decepções mais amargas que já tive e me permitindo liberar toda a força de minha fúria,que outrora eu não sabia ter.Fiquei mais de quinze anos com uma personalidade completamente diferente da minha real,e me tornei uma criatura sombria e temida.Alguns traços deste meu lado tenebroso acabaram ficando comigo até os dias de hoje e não consigo mais me livrar,e um deles é a frieza.Aprendi a ser fria,para não sofrer.

FEELINGS-MALÉVOLA E DIAVALOnde histórias criam vida. Descubra agora