Capítulo 18

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- Mãe!- eu grito e me debruço no chão ao lado de Malévola.Ela estava desacordada.Sua respiração, fraca.Seus olhos,cerrados.Aquela cena,era um tanto quanto assustadora já que nunca presenciei a madrinha desmaiada antes.A coisa mais parecida que já vivenciei com ela foi na batalha de Stefan,na qual a encheram de ferro,machucando-a muito,mas era firme e não se deixava abater.Depois que fui expulsa do lugar pelos guardas,não sei o que mais ocorreu,mas quando voltei ao libertar suas asas,ela estava...voando.Foi uma das visões mais lindas que presenciei na vida.A ver voar pela primeira vez.

-Princesa,eu estava passando pelos jardins quando a vi gritando de dor -a serva me dirigiu a palavra,expressão preocupada -Fui procurar-te  imediatamente até que chegaste aqui no mesmo instante.

-Chame os médicos,por favor,nós temos que ver o que aconteceu com ela- abano uma das mãos enquanto ponho a cabeça de minha mãe apoiada no outro braço.Eu estava aflita.Esse era meu pressentimento.Como pude ignorar?

Minha mente está a mil,estou desesperada.O que aconteceu com ela?Parecia tão bem e do nada,simplesmente desmaiou no meio do jardim.Agradeço não ter visto sinais de fraturas graves pela queda,tirando alguns pequenos arranhões em sua testa e mãos.As asas dela estão completamente enfraquecidas e baixas e seu rosto,mais pálido que o normal.

Não...Não,será que ela?

Não,ela não pode estar morrendo.Ela é inabalável,a própia fênix.Já ressurgiu das cinzas e do pó.Podia ficar bem e ia ficar.Já a vi passar por coisas piores,não era agora que ela ia desistir.Estou exagerando um pouco,mas minha aflição está excessiva.

Meus chamados por seu nome junto a batidas leves no seu rosto são em vão.Não adquiro resposta alguma.

Diaval não está muito atrás de mim na agonia.Ele fica andando de um lado para o outro no chão com suas perninhas curtas,rodeando a mim e minha mãe.Crune diversas vezes que chego a acreditar que pode perder a voz a qualquer instante.Por que Malévola o deixou assim?Iria ser tão útil agora,podia ajudar a levá-la para algum lugar ou enfim.

Chegam alguns homens que tiram a mamãe dos meus braços.Para carregá-la foram necessários dois e bom,eles não tinham muito jeito em segurar uma criatura alada com um corpo frágil e asas que encostam no chão.Eram fortes e musculosos até demais e a delicadeza era zero.

-Ei,tenham cuidado com ela -murmuro.

Como resposta,obtenho um olhar carrancudo de um deles.

Ela foi levada até um quarto vazio mais próximo ao jardim,com eu e Diaval acompanhando aqueles brutamontes que agora parecem ter se acostumado com o peso dela.Ou então,estão apenas fingindo isso.

Colocam -na numa cama.Um certo homem com aparência velha,barba branca e óculos redondos estava lá esperando nossa visita.Devia ser o médico.Ele começa a examiná-la,checando seus pulsos,olhos,boca e respiração.Também utiliza alguns aparelhos que não faço a menor ideia do que sejam e coloca um líquido estranho para minha madrinha tomar.Apenas observo,sentindo minhas mãos tremerem.Não consigo perguntar nada,proferir nada.Nunca vi minha mãe num estado tão funesto assim.Sempre foi saudável.Essa experiência era nova para mim.Acredito que para Diaval também,que estava numa cômoda ao meu lado,em silêncio de seu barulho agudo.

-Bom... -o velho finalmente fala algo a mim que ainda me encontro de pé. -Ela não é uma humana,não sei bem como funciona seu organismo.- diz incrédulo- Mas pela minha experiência,foi ingerido algo que a fez mal.

Algo que a fez mal?Como assim?

-Como? -meus lábios se abrem em tom de dúvida.Não era possível.A comida do castelo era perfeita,nunca ia ser servido algo ruim,nunca.

A não ser que...tivesse sido de propósito.

-Princesa,esta coisa... -ele aponta para a mamãe.

-Malévola -o interrompo,irritada por tratar minha madrinha de uma forma tão indiferente só por não ser uma humana -O nome dela é Malévola e ela não é uma coisa,é uma fada.Minha mãe,para ser exata.

Não consigo compreender,mas quando falei isso,senti-me uma pessoa completamente diferente do que sou.Não gosto de ser grossa e tratar os outros mal é totalmente fora de minha etiqueta,mas Malévola é minha mãe e este médico está aqui para ajudá-la,não julgá-la por ser diferente.Meu sangue subiu a cabeça ainda mais,pois já estava nervosa.

-Desculpe princesa -ele me olha arrependido -Malévola...hm..ela é uma fada e...não sou capaz de entender como seu organismo pode reagir a um alimento estragado ou alguma outra coisa assim.Talvez seja de maneira diferente dos humanos que põem o que faz mal para fora.Isso explica o desmaio.Mas de uma coisa,tenho certeza.Ela ingeriu algo que seu corpo rejeitou completamente.

-E o que podemos fazer? -digo com um tom de voz um pouco mais tranquilo para não parecer tão ignorante.

-Esperar -o doutor faz uma pausa -Dei uma medicação natural que pode ajudá-la.Fiquem de olho nela.

-Quando ela vai acordar? -Indago preocupada.

-A qualquer momento,princesa.Fique perto dela,ou ponha alguém para fazer isso e monitorar como se comporta.Qualquer coisa,me solicite novamente.

Então,o barbudo sai do quarto,fechando a porta de uma maneira que eu consideraria um pouco rude.Espero que saiba o que está dizendo.Se minha mãe piorar,vou culpá-lo e vai pagar caro por isso.

Malévola tosse.Corro para sua perto de sua cama e me sento ao seu lado pegando na sua mão.

-Aurora? -ela diz,aparentemente delirando e seus olhos estão entreabertos.Não sei por que,mas acho que seu corpo está estranhamente gelado.

Diaval sai do móvel que estava e agora se apoia em um dos braços do leito,também feitos de madeira.Praticamente tudo é desse material nesse palácio e não sei quantas vezes pedi para que mudassem a decoração,mas me ignoraram afirmando que Jonh,o rei prefere assim.Uma conversa franca entre eu e ele certamente o faria mudar de ideia,mas seus dias são tão corridos,que não o vejo com facilidade.Seu cargo exige muito dele.

-Mãe,estou aqui -sussurro apoiando minha cabeça em seu peito que aos poucos sobe e desce com o ritmo de sua respiração aparentemente normalizando.Parecia um bom sinal.

-Onde... -tosse mais uma vez -Onde estou? -sua voz sai baixa e fraca.

-Calma,calma -respondo -Você vai ficar bem.

Ela murmura algo incompreensível e fecha os olhos novamente.Como um simples alimento pode ter a feito tão mal?É veneno por acaso?

Diaval crune outra vez.Ele queria falar algo,mas sua forma não permitia.Parecia importante.Ai,Malévola, por que deixou ele assim?Olha como precisamos de sua ajuda agora.

-O quê você está tentando me dizer,Diaval? -pergunto erguendo minha cabeça. - Sabe de alguma coisa?

Ele crune mais alto.Sim,sabia de algo com toda certeza.Isso me deixa mais confusa ainda.

- Mãe,seja forte -a observo.Está inconsciente outra vez. - Eu vou descobrir quem fez isso com você. -aperto sua mão magra.Era capaz de sentir suas veias. -Diaval,fique com ela por mim.Se acontecer qualquer coisa,me chame.Estarei na cozinha do palácio.

Então saio,um pouco receosa de deixar minha mãe na companhia de Diaval,que agora é apenas um animal,mas confio nele.Diferente das pessoas do castelo agora.Por elas,tudo que está me vindo é ódio.Só senti isso uma única vez.Quando Ingrith atirou uma flecha envenenada nas costas de minha mãe.Essa flecha ia ser em mim e Malévola me protegeu,dando sua vida pela minha.

Aquele que serviu essa comida pra Malévola vai ter uma punição.Ninguém mexe com a madrinha.Ela já fez muito por mim.Agora é minha vez de fazer por ela.

FEELINGS-MALÉVOLA E DIAVALOnde histórias criam vida. Descubra agora