MEU NOME é Steve. Steve McGarrett.
Mas para a maioria das pessoas eu sou o Comandante Steve McGarrett. Embora na escola um dia eu fora o diferentão magricela que não frequentava bailes e não entendia por que todos aqueles idiotas achavam graça em jogar bolas de papel uns nos outros. Quando minha mãe, supostamente, morreu, me tornei o garoto mais jovem a ser despejado na marinha, então não posso dizer que perdi meu título de esquisitão, mas agora eu era um esquisito menos desengonçado e com músculos.
Pensei que nunca mais veria minha mãe, e todos aqueles anos sem ver meu pai e minha irmã só reforçaram a ideia de que as pessoas se vão, os tempos mudam, as coisas acabam. Se tudo que eu tinha era luto e abandono, que usasse eles então a meu favor e só aí eu me tornei o soldado cheio de broches e condecorações. Um supersoldado.
Mas não apenas isso. Há nove anos, onze meses e quinze dias, eu conheci... o Danny. Daniel Williams é meu parceiro, meu melhor amigo, a pessoa que me ensinou mais que todas as outras, a pessoa que trouxe outras pessoas para perto e fez com que elas se sentissem tão confortáveis que se tornaram amigos, e então ohana. O Danny... ele não sabe disso, mas mudou tudo o que eu pensava sobre o modo como a vida acontecia. Aquela minha ideia triste de que tudo passa e todos se vão, não é bem assim, pelo menos não com o Danny, ele é a única constante da minha vida.
Pro Danny eu nunca fui o comandante Steve McGarrett. Porque quando botei os olhos nele, eu sabia que ia fazer qualquer coisa para tê-lo por perto, e eu fiz. De algum modo, devo ter anulado qualquer chance dele me ver como uma autoridade, porque sendo sincero, o Danny me chama de controlador, mas é ele quem me domina.
Como todo bom clichê, eu tenho um segredo. Antes do Danny, eu quase não pensava sobre isso. Mas depois de conhecê-lo, acho que pensei nisso todos os dias.
Eu sou gay....
ACORDAR já foi uma tarefa mais simples. Enquanto meus olhos estão fechados, eu posso ser exatamente quem sou. Posso diminuir o número de bandidos livres em Oahu, depois voltar para casa e oferecer um jantar de última hora para nossos amigos, então Danny e eu nos recolheríamos juntos para o nosso quarto, e... a vida seria muito boa!
Mas quando espio com os olhos a vida real, encontro Catherine jogada do lado esquerdo da minha cama, com aquela camisola que eu detesto porque a renda sempre se enrosca nos pelos do meu braço. E como sempre, ela está me imobilizando como se fosse uma aranha ninja que não vai deixar o jantar escapar. Eu sei que fui treinado para situações desconfortáveis, mas detesto viver isso em cima do meu colchão.
Faço uso da minha manobra evasiva discreta que nada mais é do que continuar fingindo que estou dormindo, me virar para o lado oposto e só então acordar subitamente já apressado para fazer xixi.
Se a marinha visse isso, eu, com certeza, perderia meus broches um por um.
Catherine continua dormindo, agora esparramada em meu travesseiro e consigo sentir até uma infantil pontada de ciúmes dentro de mim, porque aquele é o meu lado da cama e o meu travesseiro. Ela não está satisfeita com seus 50%?
Mas não fico ali para perguntar.
Corro com Eddie para tomar banho no mar, porque além do oceano ser incrível, ele é grande e não corro o risco de ser encurralado, como certa vez aconteceu dentro da minha banheira.
Meu café com duas colheres de manteiga é de lei, e me faz pensar na cara fofa de nojo que o Danny estaria fazendo se a vida fosse um pouco mais gente fina comigo agora. Mas é Catherine quem aparece pela escada, e quando dou por mim já estou apertando o celular entre os dedos e rezando para receber um chamado da sede.
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mas o gosto da sua boca ...
Romance"mas o gosto de sua boca..." nasceu das reticências da série Hawaii Five-0. Fala sobre se apaixonar pelo seu melhor amigo, mas também sobre como fazer isso depois dos trinta anos de idade e com um distintivo preso na cintura. Afinal, falar de amor...