Capítulo 3

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O senhor Stamford ficou em reunião com o lorde durante o dia todo, não saíram da biblioteca nem para almoçar.

Beatrice mal tocou na comida, havia algo que a impedia de engolir. Um nó na garganta que a incomodou o dia todo.

Embora estivesse apavorada em ter que se casar em duas semanas, ela queria muito ver o lorde novamente. Ele era elegante e tinha uma postura bem decidida, um verdadeiro lorde.

Mas não tinha como. Ele e seu pai estavam trancados falando de negócios.

Antes de dormir, Beatrice costumava visitar o túmulo de sua mãe e de seu irmão natimorto. Tinha uma estátua de Lady Sophie gestante. Tinha morrido no parto de seu terceiro filho, e nem a criança sobreviveu. O senhor Stamford fez um túmulo para o pequeno Albert, que não chegou ver a luz do sol.

Beatrice e Magnus criaram o hábito de visitar os túmulos, e mesmo que seu irmão estivesse ausente, ela sentia a obrigação de continuar fazendo isso.

Ela ficou olhando a estátua e a lápide de sua mãe, o vento frio e a neblina não impediram a visita.

—Mamãe, não sei se pode me ouvir. Mas eu sempre preferi acreditar que sim. A senhora sempre me contava histórias de como conheceu o papai naquele baile de máscaras e que foi amor à primeira vista. E eu sempre quis que acontecesse o mesmo comigo. E agora o papai fez esse acordo com o lorde e dentro de duas semanas estarei casada, indo embora daqui. Por favor me ajude. Eu queria tanto que estivesse aqui comigo.

Ajoelhou-se em frente a lápide, escondeu o rosto entre as mãos e chorou.

De repente, ouviu passos. Levantou-se rapidamente e enxugou o rosto, pensou que fosse seu pai. Mas era o lorde. Sua silhueta apareceu, tão elegante com aquele casaco e cachecol. Ele passou os dedos nos cabelos, que estavam desalinhados pelo vento, sorriu e disse:

—Boa noite. Desculpe-me, se a assustei. Estava conhecendo o lugar.

—Oh, fique tranquilo, meu lorde. Não assustou. Temi que fosse meu pai. Ele não aprova que eu saia a noite.

—Se me permite perguntar, o que faz aqui fora? Não está frio para a senhorita?

—Eu venho visitar o túmulo de minha mãe. Toda noite. —Apontou para a lápide e a estátua.

—Oh, sim. Lamento pela sua perda. Era por ela que chorava?

—Eu não...

—Estava chorando sim. Vejo seus olhos vermelhos e seu rosto ainda está meio molhado. —Ele se aproximou e secou as bochechas dela.

Beatrice sentiu o cheiro dele, cheiro de vinho e madeira. Ficou embriagada com o cheiro másculo que o lorde exalava.

—Lamento que tenha sabido do casamento daquela maneira. Eu pretendia convidá-la para um chá da tarde e fazer o pedido formal. Porém, seu pai decidiu ser bem direto. 

Beatrice suspirou, cruzando os braços e dando um passo atrás, o lorde estava muito próximo e cheirava tão bem.

—A senhorita não vai dizer nada?

—O senhor decidiu tudo com meu pai. O que eu posso dizer?

—Sei que o casamento está muito próximo. E a senhorita mal me conhece. Mas vai dar tudo certo.

—Como pode ter tanta certeza?

O lorde colocou as mãos nos bolsos, suspirou e sorriu.

—Eu gostei da senhorita. E gosto de pensar que gostou de mim também. Já é um bom começo.

—Por que pensa que eu gosto do senhor?

—Fica corada quando olha para mim. Ficou todas as vezes, incluindo a primeira vez que te vi, espiando pela janela do segundo andar.

Beatrice não pode deixar de sorrir, e sentiu que tinha corado novamente. Deu outro passou para trás.

—Vou para meus aposentos. —Ela disse, querendo se retirar.

—Nos vemos amanhã. Vou providenciar para que possamos conversar melhor. —Se aproximou novamente, tomou sua mão e beijou, bem devagar e olhando para seu rosto. Beatrice sentiu o rosto queimar.

Retornou rapidamente aos aposentos. Com um misto de desespero e de curiosidade, porém sabia que deveria se manter refém das vontades de seu pai. Suas ordens eram claras quanto dormir cedo e se manter longe de cavalheiros.

Beatrice não entendia porque não podia conhecer o lorde antes de se casar. Em duas semanas iria embora e seria obrigada a conviver com ele até que a morte os separasse. Que diferença iria fazer se conversasse com ele?

O Grande Amor De Um LordeOnde histórias criam vida. Descubra agora