Capítulo 10

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A próxima semana passou muito rápido.

Beatrice passava a maior parte do tempo com os costureiros. O lorde trazia vendedores de flores e de joias para que ela escolhesse o buquê e as joias de seu agrado.

Estava encantada com os preparativos.

A semana toda passou e ela nem percebeu.

Na sexta feira, os costureiros trouxeram o vestido pronto. Quando ela vestiu, ficou perplexa. Era o vestido mais lindo que já tinha visto. Tinha renda na frente, um decote em coração e uma cauda de dois metros. Trouxeram seu véu e grinalda, e o joalheiro trouxe sua coroa.

Estava tudo perfeito.

Desceu para jantar, emocionada. Seu pai não iria descer. O lorde sentou-se de frente para ela, elegante como sempre.

—Boa noite, mi lady. —ela disse, sorrindo. —Como foi seu dia?

—Boa noite, mi lorde. Foi divino. O vestido está pronto. Tudo nos conformes para amanhã.

—Fico aliviado. Está tudo nos conformes na igreja e para a recepção também. Minhas carruagens estão prontas, partiremos logo após a recepção.

Beatrice assentiu.

Eles jantaram em silêncio. Beatrice ainda estava com medo de deixar a casa de seu pai e partir para as colinas. Eram dois dias de viagem.

O lorde interrompeu o silêncio:

—Algo a incomoda?

—Não, mi lorde.

—Estava animada. Depois que eu disse sobre a partida, a senhorita ficou abatida.

—Eu estou hesitante quanto a mudança.

Ele entendeu, baixou a cabeça e disse:

—Após o jantar, gostaria de lhe acompanhar num passeio.

—Aceito o convite, mas tenho que dormir cedo. Amanhã, nosso dia será longo.

—Prometo-lhe que será breve.

—Se me der sua palavra, posso lhe acompanhar.

Após o jantar, o lorde levou Beatrice para caminhar. Se afastaram da casa em direção ao túmulo de sua mãe.

—Para onde vamos? —ela indagou, segurando no braço dele.

—Para longe das vistas de seu pai.

Andaram mais uns instantes.

                   

Quando ele considerou que estavam suficientemente longe, parou e ficou frente a frente com Beatrice.

—Eu te disse, há uns dias, que ir embora comigo seria escolha sua. Nós não conversamos o quanto eu gostaria. Não nos conhecemos o bastante. Mas eu ainda só vou embora com a senhorita ao meu lado.

—Eu não sei o que te dizer.

—Eu sei que sofre nessa casa. Fiquei aqui duas semanas e não vi seu pai te tratar bem uma vez sequer. A senhorita está sempre sozinha. Suas companheiras são duas criadas. Eu estou oferecendo que se case e se mude para Violet Hills. A senhorita poderá ser pianista, poderá ser conhecida e lhe prometo que não ficará sozinha. Porém, a escolha é sua.

—Eu amo essa fazenda. É minha casa. É onde minha mãe está enterrada.

—Lady Beatrice, a vida que merece é superior a isso. Amanhã, após a recepção, eu irei voltar para casa. Tenho que fazer isso. Gostaria de ficar aqui o tempo que precisasse para lhe convencer. Mas se seu coração já decidiu, temo que todo tempo do mundo não lhe convencerá.

Ela ficou sem resposta. Olhou bem para o lorde a sua frente: elegante, bem vestido, de coração aberto.

—Eu vou ter que voltar atrás do que lhe disse: terei que partir sem a senhorita, se for necessário.

—Lorde Castlegreen, eu gostaria de lhe dizer que estou empolgada, mas não estou. O casamento me agrada muito, tenho muita estima pela vossa pessoa. Entretanto, não quero deixar minha casa e partir para longe.

—Amanhã, diga não na igreja. Eu não quero levar a senhorita como prisioneira. Mas não posso desfazer o negócio que tenho com seu pai sem motivos. Diga não. E estarei livre de meu compromisso, e a senhorita vai estar fazendo o que seu coração lhe diz.

O lorde beijou sua testa, enquanto Beatrice estava segurando as lágrimas.

—Eu lamento... —ela sussurrou.

Retornaram para casa.

Beatrice chorou a noite toda. Queria estar com o lorde, ser sua esposa. Porém amava sua casa e não podia deixar tudo: seu pai estava velho e precisaria de cuidados, e a fazenda não subsistiria por si só.

Quando sol nasceu, Beatrice já estava de pé. Pronta para se preparar para o casamento. A cerimônia na igreja seria cedo, e a recepção seria um almoço com os convidados.

As criadas a vestiram e arrumaram os cabelos, colocaram as joias e a deixaram perfeita. Quando finalmente acabou de se arrumar, Beatrice olhou no espelho e ficou feliz. Estava muito linda.

A carruagem que a levaria para a igreja estava a sua espera, com certeza àquela hora, a igreja estaria cheia e lorde a estaria esperando no altar.

Seu pai entrou nos seus aposentos, beijou sua testa e disse, ansioso:

—Você está maravilhosa, querida. Sua mãe ficaria orgulhosa. Esse casamento vai salvar nossas terras e vai me permitir voltar aos negócios. Um sacrifício que estou disposto a fazer.

—Como assim? Um sacrifício que o senhor está disposto a fazer? Sou eu quem tenho que me casar, o senhor só fica com a parte boa.

—Olha, menina. Não me faça lhe esbofetear antes do casamento!

—Pai, eu não posso fazer isso!

—Você vai! Está tudo pronto e você só precisa ir e se casar!

—Eu não quero deixar minha casa e minhas amigas, meus conhecidos... e partir para longe!

—Pare de choramingar! Sua mãe fez isso e nunca a vi lamentar nenhuma vez sequer! Agora se apresse!

Beatrice não entendeu. Sua mãe sempre contava uma história romântica sobre ter conhecido seu pai.

—Mamãe? Por que está dizendo isso?

—Sua mãe me conheceu no altar. Depois veio para cá e ficou morando com minha família até que meus pais se foram, então ela foi a dona desta casa. Estaria aqui ainda se não fosse pelo Albert.

—Mas ela sempre me contava...

—Tudo fantasia! —interrompeu ele, grosseiramente. —Quando trouxe ela para casa, ela mal sabia pronunciar meu nome. E nem por isso a vi lamentar um dia sequer. Eu arranjei um noivo bom e rico para você. E você vai casar com ele. E vai embora! Se não aceitar pode ir para a rua!

O velho desceu em direção a carruagem. Beatrice ficou perplexa. Tudo que pensava sobre sua mãe era mentira. Ela era como uma prisioneira que foi obrigada a morar na casa do Stamford. Entretanto, ela nunca deixou aparecer seu sofrimento. Era uma lady elegante e uma excelente mãe.

Beatrice pensou que talvez não seria tão ruim assim, deixar a casa de seu pai e partir. Estava claro que o velho não se importava com suas vontades e nem ao menos seu bem-estar.

Entrou na carruagem.

O Grande Amor De Um LordeOnde histórias criam vida. Descubra agora