Capítulo 20 - O Som.
- Christian... Nem sei o que dizer. - Fui sincera sentindo minhas bochechas se avermelharem.
Céus, nunca pensei que receberia um pedido de perdão tão lindo como esse de um homem.
Justo eu que sempre fui tão discrente com esta raça.
Acho que com todas.
- Só diga que me perdoa, Tenente. - Ele se levantou dando aquele sorriso torto que tanto amo.
- Claro que perdôo, Chris. Aliás, nem há o que perdoar mesmo. - Abri os braços e o moreno me abraçou com todo o carinho do mundo.
Queria ter essa mesma facilidade pra perdoar Raymond, mas não posso.
Não consigo.
[...]
Após selar a paz com meu amor, fui levada para o hospital.
O médico disse que quebrei duas costelas, tive várias escoriações e inchaço em algumas áreas do rosto como nariz, canto da boca etc. Fiz alguns exames, mas me recusei a ficar internada, prometendo que ficaria em casa quietinha de repouso e depois de muita insistência, ele permitiu. Quando saí da sala do médico, já no corredor, me deparei com o Coronel Steele me aguardando.
- Ainda está aqui? Pensei que tivesse ido pra casa. - Falei dando um meio sorriso.
- E deixar você sozinha depois de fazer todos aqueles exames chatos? Jamais! Já passei por tudo isso várias vezes, assim como você Anastasia. Aposto que os médicos queriam te deixar em observação e blá, mas você fez de tudo para que recebesse alta, não?
- Exatamente. - Acabei sorrindo - Vai me dar uma carona pra casa então?
- Sim e não.
- Como assim? - Arqueei a sobrancelha.
- Você vai passar na sua casa pra pegar escova de dentes, algumas roupas e depois, irá pra minha casa passar a noite comigo. - Aproximou-se de mim, acariciando meu rosto - Vou cuidar de vocé esta noite, Tenente.
- Não precisa disso, Christian. - Tirei a mão dele - E outra, não quero encontrar o Comandante Steele, não é adequado. - Falei lembrando rapidamente de Raymond.
- Precisa sim e fique tranquilo, meu pai está em Chicago, só volta amanhã a tarde. - Segurou minha mão - Vamos!
No fundo, Christian e eu somos muito parecidos.
Quando queremos alguma coisa, usamos todos os artifícios possíveis para conseguir.
[...]
Passamos rapidinho em casa, onde José e Kate me paparicaram enquanto arrumavam uma mochila com o trivial para mim. Em seguida, fomos para a casa dele e chegando lá, comecei a analisar tudo ao meu redor.
A casa era bem organizada afinal, é a moradia de importantes militares.
Não tinha bagunça, nem muitos detalhes relacionados a personalidade dos moradores, por exemplo.
Mas na mesinha do telefone, havia uma foto de Christian abraçado a Raymond.
Ambos sorriam, parecendo muito felizes.
- Anastasia? - Christian me chamou pondo a mochila sob o sofá - Você está bem?
- Sim, eu só... - Respirei fundo - Nada demais. - Tentei sorrir - Preciso de um banho, estou acabada depois dessas últimas vinte e quatro horas.
- Certo.
[...]
Depois de tomar um banho demorado ouvindo um som musical distante, encontrei Christian na cozinha ao fogão cozinhando alguma coisa que tinha um cheiro muito bom. Ao fundo, tocava uma canção muito bonita, de uma voz familiar.
- É do Elton John esta música? - Puxei conversa.
- Sim, Your Song. Amo esta música porque fala de um amor puro, simples, como o nosso. Combina conosco! - Ele respondeu sem me olhar.
- O que temos não é tão simples assim. - Neguei sentando-me na beira da mesa.
- É sim, você é que complica as coisas. - Apagou o fogo da panela e virou-se para mim - Poderíamos estar até casados, morando juntos se você não tivesse...
- Perdido o nosso bebê. - Baixei a cabeça ficando triste ao lembrar daquela tragédia horrível - Eu sei.
- Mas podemos ter outros, muitos outros se você quiser. - Lançou aquele sorriso torto que tanto amo pra mim - Gosta de panquecas?
- Gosto sim e, mesmo se não gostasse com a fome que estou devoraria qualquer coisa que surgisse na minha frente. - Brinquei e ambos demos risadas.
[...]
- Adorei essas panquecas. Sério, por mim comeria todo dia. - Falei de boca cheia.
- Deu pra perceber, você devorou umas dez já. Posso te fazer uma pergunta? - Perguntou ficando sério.
- Uhum.
- Certa vez, quando conversamos você não deu muitos detalhes sobre sua paternidade.
- Por que quer saber disso?
Será que Christian está desconfiando de algo sobre mim?
- Porque naquele dia você falou dele com certa mágoa. Queria entender porque odeia tanto o seu pai, pra mim é difícil entender pois adoro demais o meu.
- Por quê o odeio? - Parei de comer e tomei um gole de suco - Porque meu pai abandonou minha mãe, Christian. Assim que soube que ela... Estava grávida de mim.
- Que horror! - Ele disse chocado com minha revelação, parando de se alimentar e eu também.
- Ele a humilhou, abandonou com uma mão na frente e outra, atrás. Por culpa dele, quando eu tinha quinze anos minha mãe se... Suicidou, me deixou sozinha neste mundo. - Contei com lágrimas nos olhos.
- Nossa... Seu pai foi muito cruel, não sei nem o que dizer. Imagino que deva ter sofrido muito com tudo isso. - Segurou minha mão - Mas no que depender de mim, você só terá alegrias daqui em diante. Prometo!
- Você é uma pessoa linda Christian. - Beijei a mão dele - O melhor homem deste mundo.
[...]
Dias depois...- Hoje é um dia muito importante para o Estados Unidos pois iremos homenagear aqueles que foram capazes de proteger sua pátria com a própria vida.
O tempo estava nublado, mas aquele parecia ser um dia leve de sol para mim.
Depois do sequestro, passei alguns dias me recuperando em casa depois de passar um dia na casa de Christian.
Dia aliás, muito lindo diga-se de passagem.
Conversamos, namoramos e quase fizemos planos.
Quase.
Toda vez que Christian entrava no assunto, me esquivava afinal, não sei como será meu futuro.
E hoje eu serei condecorada como a heroína que arriscou sua vida para proteger este país de terroristas.
O mais curioso é aquele que me dará a medalha, aquele que irá me homenagear será Raymond.
Nos últimos dias, depois da conversa com Christian fiquei muito confusa quanto ao futuro.
Amo Christian, não posso negar.
Mas ainda assim, odeio Raymond com todas as minhas forças.
E não sei o que é maior dentro de mim, o amor ou o ódio.
Me sinto tão dividida.
Uma parte de mim quer abandonar esta vingança e ficar com Christian sim, mas a outra não quer deixar que a morte de Carla tenha sido em vão.
Está cada vez mais difícil.
- A equipe dos Sentinelas - Raymond prosseguiu sua fala perante uma platéia de pessoas do alto escalão militar americano, dentro no Pentágono - Composta por Leah, Christian, Carrick, Riley, Jane, Elliot e Jack. Jack, que não pode estar aqui conosco pois esta em casa se recuperando de graves ferimentos da operação que evitou que os piores terroristas do mundo atacassem o nosso país e ceifasse com a vida de pessoas inocentes. Ele não está aqui, mas merece todas as honrarias deste mundo. Mas temos aqui sua parceira, Tenente Adams, que lutou com todas as forças para proteger este país e graças a ela... - Olhou pra mim - Estamos seguros. Por seus grandes esforços na operação você subirá sua patente no exército e na equipe dos Sentinelas. Agora você não será mais uma Tenente e sim, uma Capitã. Capitã Adams, uma salva de palmas por favor. - E todos ao meu redor bateram palmas para mim, enquanto Raymond se aproximava e colocava uma medalha de prata pesada no meu pescoço. - Meus parabéns, grande jovem. - Disse esboçando um sorriso para mim.
Ficar perto assim dele me dava uma sensação tão... Estranha.
De repulsa, de raiva mas também um outro sentimento que não estou conseguindo distinguir.
- Obrigada Comandante. - Falei tentando parecer bastante natural para ele.
[...]
- Anastasia, queria muito te agradecer. - Após a condecoração, ouve uma pequena recepção no pátio do prédio e enquanto eu tomava um gole de vinho, Elliot se aproximara de mim.
- Pelo quê? - Perguntei franzindo a testa.
- Por ter trazido Kate até mim. Estamos muito felizes, inclusive... Não conte para ela, mas estou pensando seriamente em pedi-la em casamento nos próximos dias.
- Sério? - Sorri - Pois saiba que desejo que vocês sejam muito, mas muito felizes.
- Obrigado, Anastasia. - E me abraçou - Ops... Você perdeu seu brinco?
- Que brinco? - Coloquei a mão na orelha, sentindo que um dos meus brincos não estava lá - Dá nisso nunca usar brincos, quando a gente usa acaba perdendo por aí. - Rimos - Vou procurar, com licença. - Coloquei a taça de vinho sob uma das mesas e passei a caçar meu brinco por aí.
Procurei no pátio, nos jardins, na recepção, mas nada.
Fui até meu quarto, mas também não encontrei nada e depois, resolvi procurar nas demais dependências do prédio. Em determinado momento, passeando pelos corredores ouvi algumas vozes e uma delas, me chamou minha atenção.
Raymond.
Olhando ao redor, percebi que estava próxima a sala do comandante Steelr.
Analisando a outra voz, logo percebi que era do General Carrick.
- Ah Carrick... Eu não podia, você sabe que eu não podia.
- Assumir seu próprio filho? Raymond, o que você fez foi desumano! Abandonar aquela garota grávida foi um grande erro! O maior erro da sua vida.
Espera... O General sabe o que Raymond fez?
O filho da mãe contou pra alguém?
Achava que mantinha toda esta sujeira debaixo do tapete, não que espalhava seu segredo por aí.
Pra Christian ele não contou, né?
Mas é claro, sabe que o filho tem bom coração e jamais aceitaria a monstruosidade que ele cometeu comigo. Aliás, não sei como Christian pode ser um homem tão bom sendo filho de quem é.
- Erro? Se não tivesse feito aquilo tudo não seria hoje o grande Comandante Steele, você sabe disso amigo. Se não tivesse feito o que fiz, iriam atrapalhar demais a minha vida, amigo.
Atrapalhar?
Então é isso que ele pensa de mim e da minha mãe? Que iríamos atrapalhar a vida dele?
Maldito, desgraçado.
A carta de Carla estava certa como imaginei desde sempre.
Raymond é um monstro e merece pagar por tudo que nos fez, absolutamente tudo.
E chega! Está na hora de abrir o jogo, de colocar as cartas na mesa e acabar com a vida de Raymond de uma vez por todas.
Depois dessa, vou levar minha vingança até o fim.
Custe o que custar.******************
Olá!
E depois de um longo hiatus, O Troco está de volta.
Falta uns 9 capítulos para o fim e o momento do prólogo praticamente já chegou u.u Preparem-se para fortes emoções, pessoal!
Votem e Comentem ❤
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O Troco
FanfictionAnastasia entrou para o exército dos Estados Unidos Da América com uma única missão, dar o troco no poderoso Comandante Raymond Steele a quem culpa cegamente pela morte de sua mãe. A corajosa Capitã nem de longe imaginava que naquele quartel faria...