Capítulo 21 - O Galpão

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Capítulo 21 - O Galpão. 


Ódio. 
Depois de ouvir as palavras de Raymond, não senti nada mais além disso dentro de mim. 
Era como se todos os outros sentimentos aqui dentro não existissem mais. 
Retornei para meu quarto no Pentágono e entrando lá, comecei a quebrar tudo que estava na minha frente. 
- Desgraçado! - Gritei jogando um vaso na parede.
Em seguida, tirei meus próprios sapatos e os joguei também.  
Quando me virei e vi o espelho, dei um soco no mesmo quebrando-o em mil pedaços e vendo minha mão sangrar, percebendo que estou cada vez mais fora de mim. 
- A culpa é toda sua, Raymond. - Murmurei abrindo o guarda-roupa e tirando uma maleta com o kit de primeiro socorros de dentro dela - Tudo o que passei é culpa sua. Você... Acabou com a vida da Carla, com a minha. - Fiz um rápido curativo na minha mão - Mas isso não vai ficar assim, não mesmo! 
Depois de guardar a maleta, peguei a carta de Carla e a li mais uma vez. 

"Querida Ana; 

Imagino que neste momento esteja sofrendo muito por minha causa e de ante-mão quero te pedir perdão pelo que fiz, por ter te abandonado e ter sido uma fraca. É, sou uma fraca mesmo. Mas eu simplesmente não podia mais continuar, não consigo mais acordar todo dia sem o amor da minha vida do meu lado. Você deve estar se perguntando de quem estou falando e sim, é do seu pai. Você sempre me perguntou sobre ele e sempre me recusei a falar a respeito, mas agora quero que saiba um pouco sobre ele, sobre mim e tudo que vivemos quinze longos anos atrás. Sempre fui pobre mas era feliz com seus avós, porém, fiquei muito flágil quando eles morreram em um acidente de carro. Passei a ser criada por sua bisavó, Melina, e foi nessa época que conheci Raymond. Eu tinha dezesseis anos e ele, vinte e dois. Raymond Steele era filho de um grande General do Exército dos Estados Unidos e estava sendo criado para substituir seu pai no futuro. Mas nos apaixonamos e eu achava que ele largaria toda sua carreira militar por mim ou que pelo menos enfrentaria seus rígidos pais para ficar comigo. Como fui idiota e sabe por quê? Porque Raymond apenas me seduziu, me usou e quando descobriu que eu estava grávida olhou nos meus olhos e disse que não iria assumir nosso amor, muito menos meu bebê porque sonhava com uma carreira de sucesso no exército, queria chegar no topo e nós o atrapalharíamos. Ele não quis assumir você mesmo depois que me ajoelhei suplicando para que não me deixasse e foi embora pra todo sempre, me deixando grávida, sozinha e com uma filha pra criar. Eu não soube lidar com aquele abandono e foi a partir dali que eu começei a definhar lentamente, dia após dia. Todas as noites acordava suada e tremendo pois vivia tendo pesadelos com o dia em que Ray me destruiu por dentro e por fora. Ainda consegui suportar essa dor por quinze anos porque precisava cuidar de você, te dar amor, carinho e te preparar para a vida mas não consigo mais, Ana. Minha dor chegou a um nível insuportável e tomar aqueles remédios foi o único jeito que encontrei para aplacar essa dor, mesmo sabendo que meu ato na verdade foi uma covardia com você. Só tenho que lhe pedir perdão filha, perdão por estar te deixando sozinha nesse mundo louco, mas tenho certeza de algo que me alivia. Sei que você é forte Anastasia e ainda vai chegar muito longe na sua vida. O conselho que te deixo é que não perca a sua essência e que jamais esqueça que eu te amo muito filha. 
Com carinho, sua dona Carla."

Já se passaram tantos anos, mas ainda sei cada letra da carta de Carla, podendo lê-la de olhos fechados, se quisesse. 
Raymond matou minha mãe, destruiu minha vida e por culpa dele perdi meu bebê pois se não tivesse vindo parar no exército, não teria sido vítima de James naquela explosão. 
Enfim, chegou a hora.   
O momento que tanto esperei. 
Vou me vingar de Ray, mas primeiro quero tortura-lo muito. 
Quero que sofra o dobro do que já sofri nesta vida. 
Mas para isso, preciso ficar a sós com ele, tendo toda a privacidade possível para me vingar. 
Depois de tomar um longo banho para acalmar a mente, fiz minha mala rapidamente separando apenas o que era relevante, especialmente as armas. 
Depois, fui embora do Pentágono pelos fundos para que absolutamente ninguém me visse. 
Em seguida, aluguei um carro e viajei para Nova York, onde no bairro do Brooklyn procurei por alguns imóveis abandonados, que serão possíveis moradias de Raymond nos próximos dias. Tudo estava caro demais, o que me fez torcer o nariz para vários lugares, mas depois de pesquisar bastante consegui um galpão abandonado em uma região erma por um preço um pouco mais em conta. Usei uma parte das economias que tinha para executar a compra. 
Escolhi o Blooklyn porque passei uma parte da minha vida neste lugar, Carla também, por isso é como se... Estivesse em casa e mais perto da minha querida mãe. 
Me livrei do carro anterior e aluguei outro. Em um estabelecimento digamos... Politicamente incorreto, comprei algumas placas falsas para facilitar as coisas pra mim, caso precise despistar a polícia. 
Meu plano é muito simples. 
Sequestrar Ray, o torturar até dar o tiro da misericórdia e depois, sumir neste mundo vingada e satisfeita porque só assim a alma de Carla vai poder descansar de verdade porque sei que ela não está feliz. Se eu que estou viva, estou infeliz, imagine ela? 
Minha única tristeza é que depois que isso tudo acabar, nunca mais poderei ver o Coronel Steele. 
Nunca mais vou sentir o gosto do beijo dele, o cheiro, muito menos a voz. 
Mas o que posso fazer?
Desistir da minha vingança e deixar o canalha livre está fora de cogitação. 
Mas não posso simplesmente entrar, bagunçar a vida de Christian e sumir assim, do nada. 
Não posso. 
Resolvi ir pra casa e aproveitando que a mesma estava vazia, me tranquei no quarto, pegando uma folha de papel, uma caneta e colocando tudo o que sentia para fora. A carta seria direcionada ao Coronel mais lindo que já vi na minha vida, que sei que vai sofrer muito quando souber o que eu fiz. Além desta carta, escrevi outra que no momento certo, seria encaminhada para a imprensa para que o mundo soube o filho da mãe que Ray é, era. 
Porque em breve ele não estará mais entre nós se depender de mim. 
- Ana? Está tudo bem? - Katherine perguntou chegando em casa e reparando que eu não estava muito bem - Sua mão está machucada. 
- Machuquei quebrando um espelho ontem. - Respondi a abraçando - Amo você, Kate. 
- Está sentimental demais. O que anda aprontando hein?! 
- Melhor você não saber. - Entreguei as cartas para ela - Kate, a carta verde é pra você entregar pra imprensa daqui alguns dias. Qualquer mídia, pode ser jornal impresso, televisão, online ou até jogar nas redes sociais. A carta azul é para você entregar ao Christian daqui mais ou menos dois dias. Peça ao Elliot, eles são amigos e ele poderá fazer este favor a você. 
- Ana? O que vai fazer? - A morena perguntou assustada. 
- Já disse, melhor não saber. Quando o José chegar, diga que o amo e este dinheiro aqui... - Entreguei uma boa quantia a ela, conquistada depois de todos esses meses no exército - É para ajuda-lo no futuro. Na minha conta do banco, você tem a senha, tem mais uma boa grana pra vocês se virarem nos próximos meses. 
- Ana... Que besteira você está pensando em fazer? - Kate já estava com lágrimas nos olhos. 
- Fique tranquila Kate, vou ficar bem. - Acariciei o rosto dela, abraçando-a mais uma vez - Obrigada por tudo, adeus. - Peguei minha mochila e dei as costas pra ela, indo embora de casa. 
Ouvi Kate me chamar de longe, mas não olhei para trás.
Não posso olhar pra trás.  
Voltei de carro para os lados do Pentágono mas não me hospedei por lá, apenas em uma pensão perto dali. No dia seguinte, comprei mais algumas coisas que precisaria nos próximos dias como munição, peruca e comida pois estou com muita fome. 
Sei que o plano pode dar errado e que... Posso até ser... Morta no meio do caminho, mas se eu cair, quero que o Comandante Steele caia juntinho comigo. 
Depois de tomar um lanche reforçado, me arrumei colocando uma peruca ruiva, maquiagem forte e óculos escuros. Vesti uma calça preta e botas, além de um sobretudo do mesmo tom. Peguei duas armas, uma guardei na canela da bota e a outra, na cintura mesmo. As munições ficaram nos meus bolsos junto com o teaser e os demais apetrechos na mochila. 
Antes de partir, respirei fundo e me olhei pela última vez no espelho. 
Não reconheço esta Ana que está aqui, não só pelo disfarce, mas por dentro mesmo. 
Me transformei em um monstro e sinto que jamais voltarei a ser o que eu era, se é que algum dia nesta vida fui uma pessoa boa.
Saí da pensão e estacionei o carro alugado na rua abaixo do pentágono. Fiquei observando através do binóculo, atrás de algumas árvores, os carros entrando e saindo a todo momento do local. Sei bem qual é o carro do maldito, uma mercedez azul escura. Já eram três da manhã quando Ray finalmente saiu com seu carro. Corri na máxima velocidade até meu carro, passando a seguir o de Raymond pela estrada afora. No começo, ele não percebeu que estava sendo seguido, mas alguns minutos depois passou a dar voltas e voltas pelo mesmo lugar, demonstrando que tinha sacado sim que estava sendo seguido. 
De repente, ele estacionou o carro e saiu do mesmo. 
- Quem é você?! - Gritou parecendo bastante irritado. 
Agora sim a coisa vai ficar interessante. 
Com o carro já estacionado, desci do mesmo e o encarei com uma expressão assustada no rosto. 
- Não é você, Casey?
- O quê? - Raymond ergueu uma sobrancelha. 
- Desculpe senhor, você não vai acreditar! - Dei alguns passos na direção dele, coçando minha peruca - Pensei que fosse o carro do meu marido, Casey. Ele é... Sargento lá do exército e soube que estava me traindo com uma vadia por aí. O carro dele é idêntico ao seu, como sou burra! - Cobri o rosto entre as mãos, me aproximando mais um pouco dele. 
- Como assim? Espera, não faz sent... - Antes que ele terminasse sua frase, tirei o teaser do bolso e o usei em meu pai, que por conta dos choques caiu no chão desmaiado. Para que passasse um pouco mais de tempo dormindo, injetei um bom sossega leão em sua veia. 
- Espero que não seja tão pesado, Raymond. - Antes de arrasta-lo, olhei para os lados, peguei sua arma e a joguei no carro azul. 
Arrastar o Comandante até o carro não foi muito complicado, ainda mais pra mim que tive treinamento militar. Joguei seu corpo no porta-malas e dirigi por horas e horas até Nova York na base de muito café da garrafa térmica. 
Amanheceu, entardeceu e eu ainda estava ao volante. 
Já tinha escurecido quando cheguei ao velho galpão. 
Tirei Raymond do carro e o arrastei até dentro do galpão, onde em seguida o sentei com certa dificuldade em uma cadeira, amarrando braços, pernas e amordaçando sua boca. Depois fechei todo o galpão, tirei meu disfarce e a partir daí, só restava aguardar e aguardar o momento de fazer justiça ou seja lá qual for o nome que isso tudo tem. 
- Hum... - O murmuro de Raymond rapidamente me tirou do cochilo. 
Raymond abriu os olhos e logo percebeu a situação grave em que se encontrava, arregalando seus olhos escuros para mim. 
- A bela adormecida enfim, acordou. - Me levantei a passos lentos em direção a ele com meu melhor sorriso no rosto - Boa noite, querido papai. Dormiu bem?  

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Obrigada por ainda estarem aqui 💛

Sim, estamos caminhando para uma reta final cheia de revelações, surpresas e tretas.

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