Capítulo 23 - O Segredo

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Capítulo 23 - O Segredo

Narrado por Christian Steele.

A última vez que estive com Ana foi a melhor de todas. 
Vivemos bons momentos em minha casa, com carícias, beijos e quase promessas. 
Ela parecia mais leve e um pouco mais tentada a ficar comigo pra valer, porém, desde aquele dia nunca mais voltou a me procurar. 
Não me ligou, não deu notícias e também, não atendeu minhas ligações. 
É estranho porque não tenho ideia do porque ela voltou a me evitar já que não brigamos, tínhamos feito as pazes e estávamos bem.  
É como se toda vez que ela estivesse quase aceitando viver nossa história de amor, acontecesse algo que a afastasse de mim. 
Parece carma. 
Meu pai também está sumido desde ontem, não dormiu em casa mas do jeito que aquele lá se envolve nas mais diversas missões secretas, deve estar em algum lugar cuidando de mais uma operação sigilosa e logo nos dará notícias sobre o que está aprontando para que possamos ajuda-lo. 
Assim espero, pelo menos. 
Estava em casa fazendo os serviços domésticos pois a moça que trabalha aqui de vez em quando está de licença maternidade, por isso toda a responsabilidade com os afazeres da casa está sendo minha, já que meu pai é preguiçoso e nem lavar a louça ele gosta.
Era uma tarde quente quando bateram na minha porta e ao abrir, me deparei com meu grande amigo. 
- Elliot? O que faz aqui? - Perguntei dando passagem para que ele entrasse em casa. 
- Vim conversar contigo, amigo. - Respondeu se sentando no sofá, aparentemente sério. 
- Pois pode dizer. - Falei sentando no outro sofá. 
- Er... Lembra da minha namorada, Kate? 
- Sim, a garota que mora com a capitã, não é?
- Não quero ser invasivo contigo, mas Kate me contou que você e a Capitã Adams tem um caso. 
- Caso? - Engoli em seco. 
- Não sei porque esconde isso de todos nós, mas também não vou te julgar. Enfim, Kate me entregou esta carta, disse pra te dar só daqui dois dias, mas não sou de guardar segredos, muito menos esconder algo que parece importante de você. 
- É uma carta da Anastasia? - Franzi o cenho. 
- Sim. Eu... Eu vou te deixar a sós para que leia com calma, enquanto isso vou preparar um café pra nós na sua cozinha. 
- O que tem nesta carta, Jaz?
- Não sei, mas pela cara da Kate quando me deu, pareceu algo no mínimo... Importante. - Disse se levantando e sumindo das minhas vistas. 
Não sei por quê, mas a resposta de Elliot me fez sentir um certo arrepio na espinha. 
Respirei fundo, abri a carta e comecei a lê-la lentamente. 

"Olá, Coronel!

Aqui é Anastasia, sua capitã favorita. Quando esta carta chegar até você será quando terei cumprido minha missão neste mundo, uma missão árdua, cruel, mas imensamente necessária. Quero que saiba, é importante pra mim que você saiba que nunca quis brincar com seus sentimentos, muito menos te fazer sofrer, Christian. Te evitei o máximo que pude, sempre, porque sabia que não poderia dar o que você tanto quer de mim. A família, os filhos, a felicidade, não são coisas para pessoas como eu e já me acostumei, estou resignada com essa situação digamos... Triste. Quero te pedir perdão, pelo que sou, pelo que fiz, pelo que ainda irei fazer, mas principalmente, por ter perdido o nosso filho. Perder nosso bebê foi a maior dor da minha vida, nunca vou me perdoar por isso, mas sei que depois que me esquecer você vai poder ter filhos, formar uma família com alguém que te mereça realmente. Tenho certeza que você vai ser muito feliz ainda, Coronel. E com o passar do tempo, serei só uma doce lembrança para você. Depois que você souber toda a verdade, uma lembrança desagradável, certamente. Mas quero que saiba que independente de qualquer coisa o que vivemos foi, é muito real pra mim. E você sempre ficará guardado em meu coração, sempre. Adeus, Coronel rabugento mais lindo deste mundo." 

- É uma despedida... - Murmurei com lágrimas nos olhos - Mas por quê? Porque Anastasia está indo embora? - Perguntei-me pondo a carta na mesinha de centro da sala. 
- Tome Christian. - Elliot entregou uma xícara de café para mim - E aí? O que tinha na carta?
- Leia você mesmo. - Pedi cobrindo o rosto com as mãos depois de tomar o café.  
- Hum... - Elliot pegou a carta e a leu mentalmente por alto - É claramente uma carta de despedida. Por quê a Capitã está te largando assim do nada? 
- É o que também quero saber. - Tomei outro gole de café - Preciso saber justamente pra evitar que ela se vá. Não quero ficar sem ela, cara! Eu realmente a amo e quero que saiba que só não te contei do nosso romance porque ela pediu pra que eu guardasse segredo. Pra não perde-la de vez, assim o fiz. - Confessei. 
- E o que pretende fazer agora? 
- Vou até a casa da Ana conversar com seus amigos, eles sim devem saber todos os segredos dela, especialmente o motivo pelo qual ela quer tanto me largar. - Falei levantando, pegando as chaves do carro e saindo de casa apressado. 
[...]
Elliot foi para sua casa e eu, para a casa da Capitã. Chegando lá, joguei todas as informações que tinha no ventilador torcendo para que eles me dessem alguma luz ao menos. 
- Não era para o Elliot ter te entregado esta carta agora, não era... - Kate murmurou parecendo bastante nervosa. 
Realmente algo muito estranho está acontecendo com a ex-tenente. 
- Posso saber por quê? - Questionei. 
- Desculpe, mas não podemos te revelar absolutamente nada cara. - José me cortou. 
- Então há um segredo mesmo. - Deduzi - Sabia que tinha! 
- Mesmo se houvesse, não é o momento de você saber de tudo, Christian. - Katherine argumentou misteriosa. 
- Ana está prestes a fazer alguma grande besteira e vocês pretendem mesmo me esconder isso de mim? Talvez, eu seja a única pessoa no mundo que possa ajuda-la neste momento. A capitã não está bem, eu sei, eu sinto e não é de hoje. Sempre senti que tinha algo de errado com ela, mas agora tenho certeza. Se vocês torcem por ela, pelo bem da Anastasia me digam porque ela largou tudo assim, desta maneira tão abrupta. - Joguei todos os argumentos possíveis, sentindo que Kate estava tentada a me revelar alguma coisa. 
- José, acho melhor contarmos. - Ela disse sentada ao lado do amigo no sofá. 
- Não Kate, não somos dedo duro! - Ele negou ficando bravo. 
- Prefiro ser dedo duro a ver a Ana destruindo a vida dela. - Kate rebateu e mesmo com José fazendo sinal de negativo com a cabeça, ela pareceu bem disposta a me contar. 
- A Ana está prestes a fazer uma grande besteira sim. É isso! Ela passou anos querendo se vingar de uma pessoa e finalmente, está conseguindo. Só não sei até que ponto ela pretende ir com essa vingança toda, mas tenho medo que seja até as últimas consequências. 
- Kate! - José a repreendeu. 
- Tarde demais, José. - Ela suspirou. 
- De quem a capitã quer se vingar? - Perguntei confuso.
- Do próprio pai! - Kate respondeu e arregalei os olhos, surpreso em saber que ela quer se vingar de um parente que é considerado tão... Importante. 
- Ela me disse certa vez que o pai abandonou a mãe grávida, mas daí a armar uma vingança contra ele... Não é exagero demais? - Indaguei coçando a cabeça, mais confuso do que antes. 
- A mãe da Ana se suicidou, Christian. E o culpado desse suicídio é justamente o pai dela, por isso ela quer tanto se vingar. - José explicou e minha cabeça ficou mais confusa ainda.
- Espera... Como assim o pai dela é culpado? Não foi suicídio? - Dei de ombros. 
- O pai da Ana abandonou a mãe dela grávida e esta mãe... Ficou doente com depressão. Quando a Ana era adolescente, em função desta depressão ela se matou e minha amiga ficou sozinha neste mundo. Passou fome, sofreu maus tratos, morou na rua como nós por muito tempo. - Kate prosseguiu - E foi alimentando uma vingança cruel contra aquele homem. 
- Mas como ela armou um plano desse nível se a vida da Ana é praticamente toda dentro do exército? Nos últimos meses, anos, ela vivia trancada naquele Pentágono, envolvida nas nossas missões quase sem tempo, não faz sentido. 
- Aí é que está! Aquele que ela queria se vingar estava lá dentro do exército todo este tempo. Inclusive foi por isso que Ana decidiu seguir a carreira militar. - José falou. 
Agora sim, as coisas estão fazendo sentido. 
- Entendi... Mas quem é o pai da Anastasia? - Questionei, mas antes que me respondessem meu celular tocou. - Um momento - Atendi a ligação - Alô? Riley? 
- Christian, o Comandante Raymond sumiu do radar. Já ligamos pra ele, tentamos localiza-lo pelo GPS e nada. E há pouco, encontramos o carro dele em uma das ruas próximas do Pentágono e ele não estava lá dentro. Pela bagunça do local, acho que foi sequestrado. Os Sentinelas irão se unir daqui duas horas para decidir o que vamos fazer diante disso, espero te encontrar lá, okay? 
Não pode ser. 
Não pode ser isso que estou pensando, não pode!
- Alô? Christian? Christian? - Não o respondi, simplesmente desliguei na cara dele. 
- Kate, José. Ray... Meu pai... É o pai da Anastasia?  - Perguntei guardando o telefone no bolso. 
Ambos se entreolharam.
- Sim. - Kate confirmou. 
- Que absurdo, isso não faz sentido! - Levantei chocado - Meu pai jamais abandonaria uma mulher grávida, ele é uma boa pessoa, o melhor pai que eu poderia ter. 
- Pode ser talvez porque você ele quis ter, adotar, sei lá. Já a Ana coitada, foi tratada que nem cachorro por ele. 
- Tenho certeza que está havendo um grande mal entendido aqui. Anastasia está errada sobre a índole do meu pai, tenho que encontra-la logo e explicar isso pra acabar tudo bem. É isso! - Estalei os dedos - Onde ela está? Pra onde levou meu pai?
- Não sabemos, Christian.
- Tem certeza Kate? Por favor, não escondam isso de mim. É pelo bem, pela segurança da amiga de vocês. Se a Anastasia sequestrou mesmo meu pai, se os militares a encontrarem primeiro no mínimo ela será presa ou até... Coisa pior. 
- Céus... O que a Ana foi fazer com a vida dela? - Chorando, Kate foi sendo amparada pelo amigo. 
- Nós não sabemos mesmo sobre onde ela pode estar, Christian. Infelizmente! - José garantiu. 
- Tudo bem... - Caminhei até a porta - Eu vou acha-la, juro! - Prometi. 
[...]
- Como vamos fazer? Vamos contar aos Sentinelas que sabemos que sua namorada sequestrou seu pai? Nossa, usar esses termos fica bem pesado mesmo. - Elliot comentou enquanto dirigia para o Pentágono comigo. 
- Não sei, se eu contar prejudico a mulher que amo e se não contar, posso estar ferrando com a vida do meu pai. Do jeito que a Ana escreveu a carta, não parece que pretende simplesmente ter uma conversinha com meu pai. Ela passou anos planejando essa vingança Elliot, tenho medo que seu objetivo seja... Matar o Raymond. 
- Acha mesmo que ela chegaria a esse ponto? 
- Não seria a primeira pessoa que ela mataria, não é mesmo? - Argumentei - Olha, por enquanto é melhor que não contemos nada. Depois da reunião, você e eu vamos caçar a Anastasia, encontra-la e impedir que ela faça mal ao Raymond, sem envolver os demais Sentinelas nisso a princípio. 
- Acha que vai dar certo amigo?
- Eu preciso tentar pelo menos, Elliot. São as duas pessoas que mais amo na vida e não quero que nenhuma delas se machuque de jeito nenhum. 
[...]
Chegando ao Pentágono, Elliot e eu fomos direto a sala de reuniões onde todos os demais Sentinelas já estavam reunidos. 
- Pessoal, eu...  
- Christian, Elliot, temos novidades. - Leah me interrompeu séria - Descobrimos que além do Comandante, mais um integrante dos Sentinelas sumiu. 
- Ah é? - Elliot me fitou preocupado. 
- Sim, a capitã Adams. - Riley revelou - Estamos achando que este sumiço tem relação com o do Raymond pois aquela garota sempre foi bem esquisita, cheia de mistérios, não sabemos absolutamente nada da vida dela. Sem contar que as armas dela sumiram e algumas roupas também do quarto. 
- Mas vamos saber pois vamos investiga-la a fundo a partir de agora. - Carrick avisou e engoli em seco - Cada um de nós, vamos nos separar e investigar estes dois sumiços. Quem tiver novidades, vai avisando o outro pelos telefones, de acordo?
- Claro. - Concordei. 
- Pois bem... Então vamos! - Leah apressou e todos se separaram, menos Elliot e eu. 
- E agora Christian? O que faremos? 
- Simples, vamos encontra-los antes da nossa equipe. - Decidi. 
[...]
Não dormimos àquela noite. 
Passamos a madrugada toda no apartamento de Elliot ao telefone e computador, buscando mais informações sobre Anastasia.
A garota é esperta mesmo pois mal tem informações na internet sobre sua vida, sua história. 
Seu telefone foi localizado por Riley em Washington mesmo, jogado em algum lugar qualquer, o que para os Sentinelas aumentou ainda mais as desconfianças sobre ela. 
Me sinto tão inseguro, confuso se devo ou não abrir o jogo para eles. 
Conheço o quanto são esquentados e sei que se encontrarem a Ana primeiro, vão vingar tudo o que ela fez com Raymond e não quero que ela morra. Sei que ela está totalmente errada, mas minha garota não merece a morte e também, não sei se conseguiria viver sem ela. 
Mas também não conseguiria viver sem meu pai. 
É como se... Estivesse entre a cruz e a espada. 
- E aí Elliot? Alguma novidade? - Indaguei tomando mais um pouco de café pra aguentar o tranco pois não sabemos quando poderemos dormir em paz. 
- Estava conversando com Kate sobre sua namorada...
- Nós não somos exatamente namorados. - O Corrigi. 
- Enfim... Ela disse que ambas viveram boa parte da vida no Brooklyn e gostavam de lá. Se analisarmos o perfil da Anastasia, fechada, discreta, forte etc. Talvez ela tenha levado seu pai para os lados do Brooklyn, lugar que ela conhece bem e possivelmente, se sentiria segura o suficiente para colocar o plano em prática por lá. É só um palpite, mas já é um começo, não acha? 
- Interessante. Os Sentinelas estão focados em Washington, então podemos buscar outros caminhos enquanto isso. - Mordi os lábios - Pra esconder um homem poderoso como meu pai ela escolheria algum lugar mais afastado, como um prédio, fábrica ou galpão abandonado. Vamos investigar primeiro quantos ambientes assim existem naquela cidade e bater de porta em porta, até acha-los. Vai ser difícil, mas por enquanto é o único jeito possível de encontra-los neste momento. 
- Okay Christian. Vamos encontrar o Comandante logo e evitar que a Anastasia faça uma grande besteira com a vida de todos vocês. - O loiro concordou pegando as chaves do carro, nossas armas e ambos saímos em busca de evitar que uma grande tragédia acontecesse. 
Apesar de estar esperançoso, algo me diz que isso tudo não vai acabar bem. 

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No próximo capítulo teremos o momento do prólogo, tão aguardado por muitos de vocês também.

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