Extra 1 - O Major

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Narrado por Jack Hyde.


Sabe quando a vida te dá uma grande rasteira?
Dessas que a gente nunca sabe quando ou se algum dia vai superar? 
Pois é justamente o que estou vivendo agora. 
Oriundo de uma família de militares, entrei cedo no exército onde logo me firmei graças a minha inteligência, força e agilidade. Fui um dos primeiros a entrar para a seleta equipe dos Sentinelas, que realiza grandiosas e misteriosas missões pelo mundo, sempre protegendo a segurança e a vida de cada cidadão americano. 
Muitos não tem ideia da nossa existência, mas me sinto feliz por saber que graças ao meu trabalho, a América está protegida. 
Washington me deu tudo o que precisava para ser feliz. 
Uma carreira sólida de prestígio, além de uma namorada linda. 
Leila, o amor da minha vida. 
Filha do General Carrick, um homem sério mas com o coração do tamanho do mundo e irmã de coração de Elliot, um dos meus melhores amigos ao lado de Christian Steele, a quem sempre aconselhei em todos os âmbitos da vida, principalmente amoroso. 
Leila é enfermeira do exército, tem um sorriso meigo e ao mesmo tempo provocante, olhos exóticos e um papo muito delicioso. Poderia passar horas ao telefone com ela que minha garota sempre tinha um assunto interessante ou divertido para conversar comigo. 
Começamos a namorar há uns quatro anos, mas as infinitas missões que tenho pelo mundo acabaram por nos afastar por várias vezes e várias vezes. Torcia sempre para que as missões acabassem rapidamente para que pudesse voltar sã e salvo para rever minha loirinha favorita. 
Quando Anastasia entrou na minha, na nossa vida, não imaginava que por influência dela minha vida mudaria do vinho para o água.
Quando conheci a futura Capitã, simpatizei de imediato com ela por já ser amiga de Leila.
Como um dos treinadores de recrutas dos Sentinelas torci para sua admissão e bravamente, a morena de olhos azuis se saiu bem em todas as provas, sendo aprovada na equipe ao lado de Jane e James. 
Após sua admissão viajei para curtir umas férias com Leila no Havaí, onde vivemos momentos maravilhosos na praia. Quando não estava namorando ela, estava no mar, surfando e curtindo aquelas ondas maravilhosas. Estava tudo bem até que Raymond pediu para que eu participasse de uma videoconferência com o resto da equipe. 
- Bem nas nossas férias Jack? - A enfermeira reclamou vendo eu ligar o computador - Mas que droga! - Reclamou com as mãos na cintura.
- Fazer o quê se aquela equipe não vive sem mim? - Brinquei sentando-me a mesa e iniciando uma longa e delicada reunião. 
[...]
- E aí? - Leila questionou se aproximando de mim após o fim da reunião. 
- Raymond quer que viajemos para o Afeganistão a fim de... - Antes que terminasse de falar, a morena teve uma vertigem quase caindo no chão - O que houve amor? - Perguntei assustado, amparando a morena para que não caísse de vez.
- Não sei... Tô com uma sensação tão estranha. Acho melhor você não ir para essa missão, Jack. - Alertou sentando-se no sofá, apertando minha mão. 
- Você e esses seus pressentimentos... - Ri - Lembra daquela vez que você disse pra eu não ir para o Marrocos? No final, não aconteceu nada de ruim comigo. - Dei de ombros.
- Desta vez é diferente. 
- Vai ficar tudo bem, calma. - Prometi a abraçando e beijando o topo de sua cabeça com carinho.
[...]
A missão dada pelo Comandante era um tanto quanto complexa. 
Precisamos arrancar informações de um dos membros da Al Qaeda a fim de evitar um possível ataque aos Estados Unidos. 
Durante a viagem de avião, Ana e eu nos aproximamos um pouco mais.
Passamos horas conversando e até confidenciei a ela meu desejo de pedir para Leila e eu morarmos juntos.
Por mim, já teria casado com ela há muito tempo afinal, não tenho dúvidas dos meus sentimentos, mas agora não vejo mais motivos para não morarmos juntos, não construírmos logo nossa família ou ao menos, fazermos aquele famoso test drive.
Ana me deu o maior apoio, aumentando ainda mais a simpatia que sentia por ela.
[...]
Quando chegamos ao Afeganistão, Anastasia deu a ideia de tentarmos fazer a esposa do terrorista delatar os planos do ataque aos EUA resgatando seu filho em segurança primeiro. Era uma ideia arriscada, mas já fizemos coisas muito mais perigosas do que isso até hoje. 
Por ter mais experiência neste tipo de missão, Leah e eu tomamos a frente de tudo, mas era tarde demais quando ao invadir o local onde a criança estava escondida, percebemos que... Era uma armadilha.
Fomos os últimos a entrar no local e graças a isso, sobrevivemos mas os outros soldados e a criança, não. Aquela situação me fez ficar com muita, mas muita raiva da Anastasia afinal, foi ela quem teve aquela ideia idiota. Além do mais, quase nos mataram com aquele monte de tiros, foi um grande susto. 
Naquela mesma noite aconteceram dois fatos suspeitos. Ana disse que tinha um traidor entre nós e Elliot comentou comigo que ela tinha passado mal pouco antes. Apesar de serem dois fatos distintos, desconfiei do fato dela ter passado mal assim, já que sempre foi saudável como uma rocha. Eu sabia que ela e Christian tinham um caso por sermos confidentes e logo desconfiei que se tratava de uma gravidez.
E realmente acertei.
Sobre o traidor, fazia todo sentido e por isso, minha raiva foi toda direcionada aquela criatura pois foi por culpa do X9 que fomos atacados de surpresa naquela noite. 
No dia seguinte, depois do café da manhã os Sentinelas descobriram que membros da Al Qaeda poderiam estar escondidos em uma caverna próxima do nosso acampamento. Eu, James e Ana fomos em dois comboios com outros soldados para lá. Naquele momento confirmei minhas suspeitas, ficando feliz por Christian pois sei que um dos maiores sonhos do meu amigo é ser pai, assim como o meu.
Mas como um passe de mágica, fui do céu ao inferno. 
De repente, ouve uma grande explosão. 
Primeiro, tudo ficou escuro. 
Depois, quando abri os olhos, vi fogo. 
Mas não ouvi absolutamente nada provavelmente pelo barulho da explosão ter me deixado surdo temporariamente. 
Em seguida, ouvi gritos e senti dor.
Muita dor. 
Depois disso, simplesmente apaguei.
[...]
Quando acordei, percebi que estava em uma tenda recebendo atendimento médico. 
- Hum... - Murmurei tentando abrir os olhos e vendo que Elena, nossa médica, estava cuidando de mim - Elena?
- Oi Jack. - A morena segurou minha mão - Está se sentindo bem?
- Um pouco dolorido. A explosão... Cadê a Anastasia? O James? Os soldados?! - Perguntei me sentindo ofegante.
- Calma. A Anastasia está sedada. Os soldados e... O James, eles...
- Estão mortos, não é? - Engoli em seco.
- Sim. - Ela confirmou.
- Missão maldita dos infernos, estamos tendo tantas baixas! Que merda! - Bati com a mão na maca, tentando levantar.
- Ei, o que pensa que está fazendo?! 
- Quero sair daqui. 
- Não Jack, você não pode!
- Qual é Elena?! Já me feri muito mais e nunca fiquei assim, jogado em uma cama! Você me conhece! - Me ajeitei na cama, mas a loira segurou meus braços.
- É diferente, Jack. Preciso te contar uma coisa. 
- Que coisa? É sobre a Leila? Aconteceu algo com ela? Você... Você contou pra ela que estou aqui e ela está vindo pra cá? Faz todo o sentido, ela é toda preocupada comigo e...
- Jack - A médica me cortou - O que aconteceu naquela explosão foi muito sério, muito mesmo. Você... Se feriu gravemente.
- Sério? Mas não tô sentindo nada Elena. - Dei de ombros sorrindo - Estou ótimo!
- Não, não está. - Ela manteve o semblante sério - Jack, infelizmente você... Quando te encontramos você estava muito ferido e a sua perna, sem condições de ser salva. 
- O quê? - Arregalei os olhos, sentindo meu corpo todo tremer - Está dizendo que...
- Jack.
Tirei o lençol que cobria parte do meu corpo, percebendo que agora eu só tinha...
Uma perna. 
- Não! - Gritei começando a me debater - Você amputou minha perna, não! Não pode ser, não tô aleijado, eu não... Não!
Lágrimas caíam do meu rosto a todo momento.
Era como se o fim tivesse chegado para mim. 
E chegou mesmo. 
- Jack, para! - Ouvi Elena gritar enquanto eu tentava me levantar, mas tentei mesmo assim. 
Isso não está acontecendo, não...
Acabei caindo no chão, sentindo uma dor tremenda por dentro e por fora. 
- Jack!! - De repente, Christian apareceu - Céus... - Ele foi até mim, me abraçando com força no chão mesmo - Calma, vai ficar tudo bem. 
- Não vai ficar. Nunca mais. Nunca. - Falei chorando ainda mais. 
[...]
Não sei por quantos minutos, horas, fiquei chorando no ombro de Christian.
Mas durante aquele período fui me dando conta que minha vida jamais será a mesma.
Se é que tenho uma vida.
Nunca mais vou a guerras.
Nunca mais vou a missões dos Sentinelas.
Nunca mais ficarei com a Leila.
Nunca mais poderei sonhar.
Nunca.
Acabou. 
De uma hora pra outra, não sou mais ninguém. 
Ninguém.
[...]
No dia seguinte recebi a visita de Anastasia e fiquei aliviado por saber que ao menos ela estava bem. 
Nem tanto pois eu perdi a perna e ela, o bebê que esperava do Christian. 
As tragédias aconteceram ao mesmo tempo.
Christian perdeu o filho e eu, perdi a mim mesmo. 
O Major dos Sentinelas agora se reduzia a um nada.
Pedi aos meus colegas que não dissessem a Leila sobre meu estado, nem sobre o que aconteceu aqui. 
Tudo que preciso é que ela me delete de sua vida pois... Não dá pra permitir que Leila estrague sua vida com alguém como eu. 
Não dá. 
[...]
Retornamos a América e fui transferido para o hospital de lá pois ainda estava muito fraco. Eu mal me alimentava, só chorava e chorava. Minha família ficou muito mal quando me viu naquele estado e pedi a meus tios, que foram quem me criaram que me levassem de lá quando os médicos permitissem.
Mas antes disso, teria que ter uma conversa séria com... Leila.
- Oh meu amor... - Ao me ver deitado naquela cama de hospital, a morena correu para mim, tentando me abraçar.
Como queria abraça-la.
Queria muito, mas não podia. 
- Por favor, se afaste. - Pedi tentando controlar as lágrimas, evitando olhar para aquele rostinho lindo dela.
- Jack, já sei de tudo. Sinto tanto! Mas você vai fazer fisio, vai se recuperar e vai ficar tudo bem. Tenho uma amiga fisioterapeuta ótima que vai cuidar bem de você, está bem?
- Não, não está nada bem! E nunca vai ficar. Le... - A olhei nos olhos - Quero que você vá embora agora.
- O quê?! - Sem entender minha atitude, a loira stava com os olhos cheios de lágrimas - Não, você não vai fazer isso. Não vai terminar comigo só porque...
- Minha vida acabou, Leila! Acabou! - Gritei alterado - E o que restou dela, se é que restou alguma coisa,  não quero mais você nela. Entendeu?
- Jack
- Sai daqui Leila! Sai! - Gritei e assustada com minha agressividade, ela se foi. 
[...]
Nos meses seguintes minha vida se resumiu a dar conselhos amorosos para Christian, Elliot e as sessões de fisioterapia. 
E só. 
Fiquei sabendo que a Capitã Adams se vingou dos culpados pela explosão que acabaram com minha vida e lamentei não ter podido participar da ação para ajudar. 
Não aceitei mais receber visitas de Leila, mas ela continuava insistindo. 
Sempre. 
Não desistia de mim. 
Mandava mensagens, telefonava, tentava fazer visitas surpresas mas sempre me recusei a recebê-la com o objetivo que a morena me esquecesse de vez e que seguisse sua vida em frente de uma vez por todas. 
Mas a verdade é que o amor que sentíamos um pelo outro era muito forte.  
E talvez, ela nunca vá me esquecer. 
- Cara, você precisa parar de se vitimizar. - Elliot conselhou minutos após eu terminar mais uma sessão de fisioterapia - Você perdeu a perna, mas ainda tem um longo caminho pela frente. 
- Um longo caminho de dor e sofrimento, né? - Ironizei. 
- Não leve as coisas pra este lado. Você tem que reagir! 
- Não quero. - Dei de ombros me ajeitando no sofá. 
- Olha... Você pode continuar nos Sentinelas sabia? Trabalhando na parte teórica. Você tem uma mente brilhante, amigo! 
- E tinha muita força e agilidade também. Bons tempos. - Sorri triste. 
- Você pode continuar er... formando planos de ataque, de missões, você pode tanta coisa ainda. - O telefone do loiro tocou e ele leu algumas mensagens mentalmente. 
- Que foi?
- Raymond quer falar comigo, parece que...  Aconteceram problemas com a Anastasia. Está sabendo que ela tinha o sequestrado dias atrás, não?
- Sim, Leah me contou ontem. A capitã tinha um grande futuro no Pentágono se não tivesse feito a besteira de ter insistido nessa vingança.
- Não só na vingança, mas também com relação a paixão por Christian. Enfim, agora parece ser tarde demais para eles e o que nos resta é nos conformar com isso. - Pegou as chaves do carro em cima da mesinha de centro da sala. 
- É mesmo. Bata a porta pra mim? É que estou sem as muletas, mas daqui a pouco minha tia volta do mercado e pega pra mim no quarto. 
- Pode deixar. Até breve, amigo. - E saiu.
Peguei o celular e comecei a checar as mensagens quando um perfume floral chamou minha atenção.
Imediatamente, o reconheci.
- Leila. - Respirei fundo - Você de novo?
- Desta vez a porta estava aberta, pedi a Elliot que não a fechasse. Precisamos conversar sério, Jack. 
- Não, não precisamos. Já não disse que não quero mais te ver? Desista!
- É isso mesmo? Quer desistir de mim? Tudo bem. E do nosso filho? Vai desistir também?
- Que filho?
- Este que está dentro da minha barriga. - Revelou. 
Eu simplesmente paralisei. 
- Jack, estou grávida e óbviamente, o filho é seu. Vai continuar se acovardando por causa da perna ou vai criar vergonha na cara e seguir em frente de uma vez por todas? Você ainda pode ter tudo o que sonhou, Major. Não da forma perfeita que imaginou a vida inteira, mas ainda pode. Estou esperando um filho teu, ainda podemos formar uma família. Christian me disse que você ainda poderá trabalhar com os Sentinelas, na parte teórica mas ainda poderá. Depois, quando você colocar a perna mecânica poderá até participar de algumas missões que não exijam muito esforço. A vida não acabou pra você, amor. Não se você tiver coragem pra enfrenta-la como o homem forte que sempre foi. 
As palavras de Leila tocaram meu coração mais do que qualquer outra.
Ela estava grávida.
Vamos ter um filho. 
Um filho e uma família, como sempre sonhei. 
- Leila - Abri os braços e ela correu para mim, me abraçando com o maior carinho do mundo - Obrigado por não desistir de mim - Beijei seus lábios - Obrigado. 
- Eu te amo de verdade, Jack. Jamais desistiria de você, nem do nosso amor. 
Sim, a vida me deu uma rasteira. 
Mas não, não me acovardei mais. 
Simplesmente enfrentei o problema e segui em frente ao lado das pessoas que amava. 
No mês seguinte, Leila e eu nos casamos no civil. 
Compramos uma casa, nos mudamos e continuei com a fisioterapia. 
Voltei a trabalhar nos Sentinelas, como consultor durante as missões, das mais leves as mais perigosas. Tempos depois, coloquei uma perna mecânica que melhorou e muito minha mobilidade, me ajudando a participar mais ativamente das missões mais perigosas. 
Nosso filho, Noah, nasceu saudável e perfeito. 
Hoje em dia levo uma vida praticamente normal. 
Mas o principal de tudo é que me sinto feliz. 
Aprendi que na dor temos que ser fortes e se somos fortes, o céu se torna o limite. 

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Quem diria que um dia vocês teriam dó e simpatizariam com o Jack hein? Kkkkk

Amanhã teremos o extra 2, narrado pela Kate.

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